Capítulo VI

58 16 5
                                    


Embora eu tivesse prometido a Colin que o levaria comigo, faria qualquer coisa para não ter de envolvê-lo nisso. Então, ao nascer do sol, eu fui sozinha à casa da velha curandeira Shea, a mais velha e sábia das sobreviventes da Tribo de Danna.

Não era o primeiro encontro as escondidas que eu tinha com ela. Shea me ensinou tudo o que eu sabia sobre as minhas origens, e devo à ela o fato de eu não ser uma boa cristã.

Ela vivia numa cabana, que ali tem estado desde o início dos tempos. A cabana, assim como seus instrumentos e a arte da cura, eram passados de filha para filha há várias gerações, mas como Shea não tinha filhas mulheres, ela alegava que passaria sua herança para mim. Não sabia se ela falava sério.

Eu bati em sua porta, e ela atendeu. Parecia mais velha do que da última vez que a vi. Estava mais corcunda e enrugada, embora ainda estivesse bem conservada para uma mulher de quase cem anos.

De pele morena, cabelos completamente brancos e olhos azuis muito claros com as pupilas desgastadas, era praticamente cega.

- Shea, sou eu, Rose. – eu disse – Preciso de sua ajuda.

- Entre.

Eu sempre ficava bem à vontade na casa de Shea, por que ela me dava essa liberdade, então sentei-me numa cadeira e esperei que ela sentasse de frente para mim, como sempre fazia.

- Deve estar passando por um momento difícil. Soube o que aconteceu com sua irmã. – ela disse, ao se sentar.

- A senhora sabe? Qual versão da história?

- Existe mais de uma versão? – ela riu – Conte-me. Estou louca para ouvir.

Então eu contei todos os detalhes da história de como a minha irmã havia sido seduzida e capturada por seres encantados. Mesmo após terminar, ela não disse nada, apenas ficou calada, pensativa.

- Está bem claro para mim que eu preciso ir ao mundo das fadas para procurá-la, mas segundo os próprios encantados ainda falta algo para que eu seja aceita lá, mas não tenho certeza do que pode ser. – disse eu.

- O que você acha que pode ser? – ela perguntou.

- Eles disseram que Amelia tinha fé e imaginação o suficiente. Talvez seja isso o que me falta.

- Tem certeza de que é só isso que lhe falta?

- Sim. O que mais seria?

- Você disse à sua irmã que ela deveria abrir a sua mente e se livrar de todos os seus preconceitos. Mas você mesma lembrou de fazê-lo?

- Se eu não o tivesse feito, eles nem sequer apareceriam para mim.

- Será mesmo?

- Sim, eu acho... E também, aqueles não eram os encantados que sempre me recebiam. Eram diferentes. Havia algo de sombrio neles.

- Zombeteiros.

- O que?

- Fadas e elfos zombeteiros. Não são maus, mas também não são bons. Vivem para pregar peças em humanos e se divertir às suas custas.

- Por isso eles capturaram Amelia?

- Já havia visto sua irmã, em outras ocasiões. Ela me pareceu uma alma livre. Talvez os encantados tenham gostado disso nela.

- E por que não gostaram de mim? Não entendo...

- Você quer ouvir a verdade, ou algo que a faça se sentir bem?

- A verdade, sempre.

- Perdi as contas de quantas vezes você veio aqui apenas para difamar a crença de sua família. De quantas vezes chamou a sua irmã de "carola". De quantas vezes fugiu da missa para a floresta.

Dançando no ArOnde histórias criam vida. Descubra agora