4 - Verdades que doem

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MARINA conta para Lorelei tintim por tintim tudo o que aconteceu com Jonas na praia, desde o beijo surpresa aos sons que ele ouviu e a negação que veio a seguir. Ela também conta sobre a pedra de água marinha que surgiu boiando no meio do mar, enquanto passa uma corrente entre um buraquinho da pedra, mas tudo o que a amiga processa é a parte do beijo.

- E o que você vai fazer a partir de agora com o Jonas?

- A única coisa que eu quero é que ele me conte a verdade.

- Estou falando do beijo, bobinha!

- Eu não estou preocupada com o beijo. Eu quero que ele me conte o que eu não sei da minha história. Que som é esse que ouvimos, e por que essa pedra veio parar na minha mão?

- Deixa de ser dramática, Marina. O cara te deu um beijo e você não está nem aí! Esse beijo não mexeu contigo? Ele tem mau-hálito? Beija mal?

Marina titubeia por alguns segundos lembrando da língua de Jonas que passou pelos seus lábios.

- Bom... beijar até que ele beija bem...

- Então para de perder tempo com outros assuntos que não vão chegar em lugar nenhum. Agarra o boy. Aos poucos você vai tirando a verdade dele.

- Essa história dele ter ouvido o mesmo som que eu e ter dito que não ouviu não sai da minha cabeça.

- Vai ver ele tá com medo de que você ache que ele é maluco. Que som é esse, afinal?

Marina explica para a amiga o mais próximo que consegue lembrar sobre a música e o chamado com o seu nome que ela escuta. Em seguida mostra a pedra que pulsa e dá para que ela a segure.

- Não estou sentindo nada. - Lorelei responde evasiva. - Não pulsa e nem brilha.

Lorelei aperta com mais força e continua sem sentir nada de especial. Marina não consegue acreditar que a amiga não enxerga a pedra como ela é. Ela a vê como um pedaço de cascalho, enquanto Marina enxerga um brilho esverdeado. E ao colocar entre os dedos, a pedra pulsa no ritmo de seu coração.

Janaína sai do banheiro e Marina esconde a pedra o mais rápido que consegue para que a mãe não note. Ela estranha o movimento brusco da filha, mas continua o seu caminho para o mezanino, sem buscar mais explicações.

- E como ficou o jantar com a sua mãe? - sussurra Lorelei.

- Vou improvisar com o que temos aqui em casa. Queria fazer um peixe assado ou um camarão, que ela adora, mas não temos isso aqui e nem condições de comprar. Eu preciso que você esteja fora de casa às 18h, que é o horário em que ela disse que vai voltar da casa da mãe do Jonas.

- Eu já combinei com o Martin. Assim que a sua mãe sair, te ajudo na preparação.

***

Com o que tem na despensa, Marina só consegue fazer um macarrão com sardinha. É o mais próximo que ela consegue chegar de uma iguaria do mar, como a mãe gosta. Ela não é muito boa na cozinha. Sua mãe sempre evitou que ela se aprossimasse do fogão, com medo de que ela se queimasse. Lorelei já é mais safa. Enquanto coloca a água para ferver com sal e azeite, corta o tomate, o alho e a cebola. Já Marina, só abre a lata de sardinha neste meio tempo.

Aos poucos, o aroma do molho de tomate e da sardinha refogando toma conta do ambiente. Lorelei faz uma cara feia, pois odeia frutos do mar. Marina não gosta e nem desgosta. Obviamente que prefere um Burguer King, mas ali, o máximo que ela iria chegar perto de um hambúrguer era no quiosque. O quiosque até que se mantém atual com os seus lanches e cervejas artesanais, mas ela ainda prefere a crocância do bacon do fast-food.

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