12 - Dentro do castelo

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Eu caminho sem saber para onde ir. À minha frente, só vejo corais e escuridão. O vazio e o desconhecido deixam a cena ainda mais horripilante.

Após passar por um arco de corais, enxergo na penumbra um salão imenso, rodeado de gigantescos corais dourados que se juntam no alto, envergados, e formam uma abóbada.

Caminho silenciosamente até o meio do salão. Qualquer movimento brusco pode chamar a atenção de alguém. E isso pode ser arriscado.

No fundo, à minha frente e acima de alguns degraus de marfim, vejo um trono feito de rochas e diversos tipos de corais. É um trono bonito, majestoso. Reluto por alguns segundos e decido ir até ele. Sento no trono e noto que consigo enxergar tudo o que acontece do lado de fora por uma abertura retangular de 180 graus na parede de coral que rodeia o salão. Algo como uma janela panorâmica. A ideia perfeita para um rei enxergar o que acontece por fora das paredes do seu reino. Eu vejo apenas bolhas, algas e plantas néon, que boiam serenamente com o movimento contínuo da maré.

Aqui eu me sinto em casa. Aqui eu me sinto completa. Esse trono se encaixa perfeitamente em meu corpo. É aqui que eu devo ficar.

Ouço um barulho no portal de entrada. Uma lesma do mar esbranquiçada caminha até mim. Não tenho para onde fugir se ela me flagrar sentada no trono.

Ela caminha até o meio do salão. Os seus olhos  estão apontados para a minha direção. Os passos da lesma a trazem diretamente para mim. Não sei como ela ainda não me viu.

Próximo à escadaria do trono, a lesma vira à direita e entra em um corredor escuro. Decido segui-la, tentando ao máximo não fazer nenhum tipo de ruído audível com o movimento da minha cauda.

O corredor é profundo e escuro, sem nenhuma luz. Diferente do salão, em que meus olhos se acostumaram com a luz e pude perceber a sua magnitude, ali eu só consigo me guiar pelos passos da lesma à minha frente.

Ouço uma espécie de portão se abrir com um rangido pesado. E o ser barnco segue, comigo em seu encalço. Ao passar pelo portão, sinto uma inclinação. Estou descendo para um lugar profundo. E quanto mais adentro, mais meu corpo se arrepia com a sensação térmica do local, que vai diminuindo a cada braçada que dou.

No fim da descida, ainda longe, percebo que algumas bolhas de luz amarelada iluminam uma espécie de grade, feita com pontas afiadas para cima e para baixo.

A lesma do mar se aproxima e começa a bater na grade com violência e um riso sarcástico no rosto.

- O que você quer?

É a voz da minha mãe!

Tento chegar o mais próximo que consigo sem ser notada.

- Mostre a sua cara, irmãzinha. - responde a lesma, com um prazer mórbido na voz.

Minha mãe aparece entre as grades. Seus olhos estão profundos e cansados. Uma palidez doentia cobre o seu rosto magro.

- Está feliz no seu cativeiro? - continua o monstro.

- Lígia... Não tem sentido você se voltar contra a sua irmã e a sua sobrinha. Você não tem nenhum coração batendo aí dentro do seu peito?

- E que tipo de ser é você que mata o seu próprio pai e nos condena a essa escravidão? A propósito, Tessalone arrancou meu coração quando me transformou nisto. Ele está guardado na sala das relíquias, junto com os restos mortais do seu pai.

- Eu sei que o que eu fiz foi errado. Eu me culpo todos os dias pela morte do nosso pai. Mas se você não me entregasse para ele, nada disso teria acontecido.

- Se eu não te entregasse, você desgraçaria o nosso povo. Se bem que não adiantou muito, né?

- Tudo por inveja. Você queria o trono para você - minha mãe soluça, com ódio e tristeza. - Eu nunca quis isso para mim. Era só ter me pedido! Ou me deixado lá na terra.

- Agora é tarde. Tristan foi muito piedoso comigo quando roubou o trono de Tessalone. Coisa que você não é. E ele me deu um cargo de confiança.

- E em troca manteve a sua forma de lesma do mar... Que troca justa! - minha mãe debocha.

- Ele me manteve assim para que eu não me levasse pela vaidade, sua imbecil! - Lígia berra, inflamada.

- Olha, Lígia. Me deixa consertar isso. Deixe a Marina de fora, eu te imploro. - a voz de minha mãe sai com o soluço de choro.

- Como vamos deixá-la de fora, irmãzinha? Ela é a grande estrela do show! A dona da profecia! Vamos dar uma chance para ela: ou ela destrói o rei e toma conta do pedaço, ou vocês duas vão virar picadinho.

- Ela não tem chance contra Tristan! - minha mãe responde.

- Eu fui irônica, sua idiota! É claro que a Marina nunca vai ter chance contra o rei. - diz Ligia, com um tom vitorioso.

Ouço um movimento atrás de mim. Tento me esconder atrás de uma pilastra de corais. Três polvos imensos carregam um de nós desfalecido entre os seus tentáculos. Me espremo entre as pilastras, mas com os olhos atentos.

- O que é isso? - pergunta Janaína, assustada.

- Uma surpresinha! - responde Lígia, com um tom sádico.

Ela espeta o seu dedo em um das pontas afiadas das grades que prendem minha mãe . Percebo que gotas de uma espécie de sangue branco começam a pingar de seu dedo. A grade se abre, tanto para cima, quanto para baixo.

Antes que Janaína possa sair, um polvo a imobiliza com os seus tentáculos.

- Quem é? Marina??? - Janaína berra em desespero.

Os polvos afastam os tentáculos e todos vemos um sereio de cabelo comprido e castanho. O polvo puxa violentamente seus cabelos. O rosto ensanguentado, inchado e repleto de hematomas roxos é inconfundível:

Martin!!!!

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