Quando abro meus olhos, vejo que estou desacordada na escada de um corredor rochoso à meia luz. É o mesmo caminho que eu percorri no meu devaneio anterior. Volto a mim, me levanto e nado mais fundo, adentrando o corredor de escadas que vão me levar até minha mãe.
As lanças de estalactites agora prendem Martin e Janaína. Minha mãe está cada vez mais magra e mais pálida. Martin não perdeu o seu porte másculo, mas olheiras profundas cobrem seus olhos, que ainda estão com hematomas. Os dois parecem conversar com um tom de voz quase inaudível. Me escondo atrás de uma rocha para tentar ouvir o que eles cochicham.
- Desista, Martin! - diz Janaína. - É impossível sair daqui.
- E o que você pretende fazer? Esperar a sua morte? - rebate ele.
- É o que nos resta. Não temos saída!
- Ainda temos a Marina... - diz Martin, com uma voz que me preenche de desânimo.
- Eu tenho medo que ela não consiga. Ela é só uma menininha.
- Você subestima a sua própria filha. Esqueceu que ela tem o sangue de Netuno correndo em suas veias?
- Isso não quer dizer nada. Eu também tenho o sangue do nosso ancestral. E mesmo assim estou presa em uma cela. Se um dia ela chegar até Tessalone, tenho certeza que aquela feiticeira vai tentar confundir a cabeça dela contra mim.
- Tenho as minhas dúvidas. A Marina não me parece ser o tipo de pessoa que se convence fácil com qualquer mentira. Você mesma é prova viva disso.
Janaína suspira, enquanto Martin tenta encontrar uma forma de destruir as rochas pontiagudas que os prende ali naquele cativeiro.
Ouço um barulho atrás de mim. O arrastar gosmento de uma lesma. Elá está a poucos passos de mim. Antes que ela consiga me alcançar, me escondo o máximo que consigo atrás da rocha.
Um corpo disforme e branco se arrasta ao meu lado e vai até a cela de Martin e Janaína.
- Oi, queridinha! - Lígia cumprimenta minha mãe, com aquela voz peculiar que rasga nossos ouvidos.
- O que você quer aqui? Ainda não passou os três dias - Janaína reage.
- Deixa de ser desesperada. Ainda tem muita água para rolar - Lígia cai na gargalhada com aquela analogia infame. - O rei quer falar com você.
- O usurpador, você quer dizer! - Martin cospe as palavras com ódio.
- O nosso grande rei Tristan, aquele que nunca virou as costas para o seu povo como Janaína fez, deseja te fazer uma proposta.
Janaína lança um olhar curioso para Lígia.
- Não fique aí parada! Tristan não tem lá tanta paciência.
Lígia pressiona suas ventosas gosmentas em uma rocha e as pontas sobem e descem para liberar Janaína de sua prisão. Martin ensaia um movimento brusco, mas Lígia toca em seu braço, causando uma descarga elétrica.
Eu penso em reagir, mas sei que isso os colocaria em uma situação pior. Martin cai no chão de terra, sem forças para reagir.
- Da próxima vez que você sonhar em reagir novamente não vai sobrar nem um pedacinho da sua cauda para contar história, imbecil! - Lígia grita e nada na direção ao corpo frágil de Martin, mas é impedida por Lígia.
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Profundezas
FantasyMarina é uma jovem comum. Seu maior dilema é tentar lidar com a superproteção de sua mãe, Janaína, sobretudo quando ela se aproxima do mar. Após Janaína ficar desempregada, elas precisam voltar para a casa abandonada da família, à beira-mar. Em uma...