- SOCORRO!
Lorelei grita enquanto dá tapas estridentes na portinhola do porão. O único som que ela ouve de volta é o eco da sua voz no ambiente vazio em que se encontram.
Marina permanece sentada no chão com o olhar perdido e um sentimento de derrota. Depois de mais alguns tapas que ardem e deixam a sua mão vermelha, Lorelei desiste e senta ao lado da amiga.
- Quase perdi uma unha. - diz ela, olhando para as suas unhas postiças cintilantes e enormes, com uma entonação para tentar descontrair Marina.
Depois de perceber que a amiga não reage a nenhuma de suas tentativas de contato, Lorelei pega em seu braço e a chacoalha com todas as forças que lhe restam.
- Alô! Tem alguém aí??? - girta Lorelei.
- Levaram a minha mãe. Vão matá-la. - Marina diz cada palavra sem esboçar nenhuma emoção além do seu estado de choque.
- Temos que dar um jeito de sair daqui e ir atrás dela. Você ouviu a voz do que quer que seja aquela coisa. Eles não vão matar Janaína. Vão te esperar chegar até eles.
- Como vou chegar até eles se eu nem sei o que essas coisas são e nem onde encontrá-los?
- Um polvo gigante tentou nos matar. Sua mãe falou que você não deve chegar perto do mar. Acho que essas são pistas quentíssimas.
- Até agora eu estou sem entender nada. Minha mãe disse que fomos juradas de morte e que ela matou o meu avô. E que fez um pacto para que nada acontecesse com a gente até eu completar 18 anos. Depois disso, seríamos mortas em uma praça pública. E que nós não somos humanas. Isso faz sentido para você?
- Nenhum. Até agora estou achando que é uma pegadinha de aniversário que fizeram com você. E que o Martin vai invadir esse porão e me tascar um beijão de tirar o fôlego. - ela olha Marina suspirando e percebe que a piada passa despercebida pela amiga.
Lorelei levanta e puxa Marina, que reage aos seus estímulos como se estivesse ligada no piloto automático, e começa a vasculhar o ambiente atrás de qualquer coisa que sirva para elas arrombarem a porta. Além de um martelo quebrado e pedaços de madeira podres, nada parece ser de muita utilidade.
Enquanto Lorelei continua a busca, o colar de Marina com a pedra de água marinha começa a brilhar. Lorelei não nota, assim como também não notou mais cedo. Marina olha para ele e aperta a pedra com todas as forças dos seus dedos. Seguindo seus instintos, fecha os olhos e faz uma prece silenciosa para sair daquele lugar.
Ela sente que seu pensamento sai da sua mente, se elevando e ultrapassando a barreira da porta que as impede de sair dali. Quando abre os olhos, Marina percebe que não está mais dentro do porão, mas na sala, sem sentir seus pés tocarem no chão. Como se estivesse levitando, sai pela porta estilhaçada. Seu corpo projetado corre pelas rua vazias atrás de alguém. Não tem ninguém por ali, mas o corpo de Marina parece ter certeza de onde deve ir.
Seus passos tocam a areia fofa da praia e chegam até a beira do mar. Ela continua não sentindo o toque dos grãos de areia em seus pés. Marina olha de um lado para o outro da praia atrás de alguém. Seus olhos percebem um redemoinho a alguns metros de distância, dentro da água. Será que o polvo gigante vai surgir novamente e terminar o serviço de captura?, pensa.
- Marina? - diz uma cabeça conhecida que surge no lugar do redemoinho.
- Estamos te procurando desesperadamente. - diz outra cabeça, que surge a seguir.
Marina abre a boca mas não sai nenhum som. Ela conclui que não passa de um vulto projetado pela pedra e faz sinal para que os dois a sigam. Ela caminha levitando em direção à casa e os dois seguem em seu encalço.
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Profundezas
FantasyMarina é uma jovem comum. Seu maior dilema é tentar lidar com a superproteção de sua mãe, Janaína, sobretudo quando ela se aproxima do mar. Após Janaína ficar desempregada, elas precisam voltar para a casa abandonada da família, à beira-mar. Em uma...