Se passaram algumas semanas...
Me levantei cedo e percebi que Maurício já havia saído para ir para a academia.
Peguei meu celular para ver se tinham mensagens suas, mas tinham mensagens da minha mãe.
"Filho, me perdoa por tudo o que aconteceu. Mês que vem você pode voltar para a Alemanha conosco."
"Como assim mês que vem?" Pensei.
Eu não queria voltar para Alemanha; assim, sem mais nem menos.
Ainda mais que meus pais, semanas atrás, não queriam nem me ver pintado de ouro. Não me perguntaram aonde eu estava e nem para onde eu ia.
Coloquei uma roupa qualquer e desci para a rua. Fui fazer umas compras no mercado, pois Maurício havia pedido para eu fazer isso.
Fui andando ao mercado, pois era perto do apartamento. Enquanto eu andava na rua, vi Júlia indo para a faculdade. Ela estava de casaco com capuz e uma calça jeans escura. Ela estava mais magra que o normal e seu semblante estava abatido.
Tomei coragem e atravessei a rua para falar com ela.
— Ou! — Gritei. Ela olhou para trás.
— O que você quer? — Ela perguntou e logo em seguida continuou andando. Mais rápido do que estava antes.
— Espera aí, Júlia! — Puxei-a pelo braço. — O que houve com você? Cadê sua mochila?
— Tá na sala de aula. E-eu só saí para comprar um lanche.
— E cadê o lanche? — Perguntei. Ela olhou para meus olhos assustada.
— Patrick... — Ela disse e logo em seguida seus olhos se encheram de lágrimas. — Eu perdi meu pai. T-tem umas duas semanas.
— O que?! — Me assustei. — Mas como?
— Em um acidente de carro.
— E aonde você está morando, Júlia?
— No apartamento de uma amiga minha. Mas isso não te interessa. Eu preciso ir. Estou atrasada. — Soltei o braço dela e ela correu o mais rápido que pode para bem longe de mim.
Mas ela deixou cair uma coisa no chão enquanto corria.
Me aproximei para ver o que era e era um saco de cocaína.
Naquele momento, eu entrei em choque. Como ela poderia estar acabando com a vida dela daquele jeito?
Respirei fundo e andei novamente em direção ao mercado.
Chegando lá, comprei umas coisas que Maurício havia deixado na lista e paguei tudo com meu próprio dinheiro. Dinheiro que eu havia arrecadado trabalhando em uma loja de conveniência de um posto de gasolina. Eu só estava trabalhando há duas semanas lá, mas eu já tinha conseguido juntar 400 dólares.
Cheguei em casa e Maurício estava na cozinha fritando ovo.
— Oi! — Sorri.
— Oi! — Ele olhou para trás. — Que sacolas são essas?
— As compras que você pediu para eu fazer no mercado. — Coloquei as sacolas em um canto.
— Ah... — Ele tirou o ovo da frigideira. — Eu já fiz compras. Saí da academia e fui direto para lá.
— Ah... m-me desculpa. — Disse cabisbaixo.
— Você usou seu dinheiro para comprar? — Ele se aproximou de mim. — Tudo bem, meu amor... eu reembolso você.
— Não... tudo bem. — Sorri de canto. — Eu vou subir para tomar um banho.
Andei em direção às escadas.
— Você tá bem? — Ele perguntou.
— Não... o dia mal começou e já aconteceram milhares de coisas. — Me sentei no último degrau e debrucei meus cotovelos nos meus joelhos.
— O que houve? — Ele se sentou ao meu lado.
— Minha mãe me mandou uma mensagem. — Mostrei a mensagem para ele, entregando-lhe meu celular.
Ele ficou quieto.
— E também... eu vi a Júlia na rua hoje. E ela está usando drogas. — Falei.
— Como assim? Como você soube disso? — Ele se espantou.
— Ela correu de mim e deixou para trás um saco de cocaína. — Retirei do meu bolso. — Tá aqui.
Entreguei-lhe o saco de cocaína e ele se levantou para jogar no lixo.
— Que absurdo! A Júlia vai acabar com a vida dela desse jeito.
— É. Mas isso é culpa nossa. — Falei e ele se alterou.
— Culpa nossa?!
— É. A gente que acabou com a vida dela.
— Patrick... olha... eu não quero falar sobre isso! — Ele respirou fundo e voltou para a cozinha.
— Mas... você não falou nada da mensagem da minha mãe... — Mudei completamente o assunto.
— Você não viu o jornal esses dias? — Ele me perguntou enquanto comia.
— Não. Você sabe que eu mal assisto televisão. — Me sentei à mesa.
— O nosso presidente declarou guerra com o Iraque. E vai começar mês que vem. Os Estados Unidos vai entrar em guerra. E... e todos os imigrantes vão ter que sair do país. — Ele disse. — Eu não queria falar sobre isso com você. Eu não quero ficar longe de você.
— Você pode ir para a Alemanha comigo! — Falei.
— E-eu... eu sou do exército americano, Patrick. Eu vou para a guerra. — Ele disse, cauteloso.
— Mas... mas você me disse que só iria entrar ano que vem! — Me espantei e me levantei da cadeira.
— Mas... — Ele respirou fundo. — Patrick... acho melhor não conversarmos sobre isso agora.
— Maurício... — O puxei pelo braço enquanto ele levantava da cadeira com a frigideira na mão. — Você não pode me deixar. Eu larguei tudo por você.
— Não. Você tá comigo, mas não largou tudo por mim. Você largou tudo porque não tinha opção na Califórnia, largou tudo porque seus pais mandaram você sair de casa. Mas você sabe, Patrick... você sabe muito bem que se nada disso tivesse acontecido você estaria na Califórnia nesse momento. — Ele olhou em meus olhos.
— Não. Não é verdade! Maurício... naquela noite que eu saí daqui para ir para a rodoviária eu fui de coração apertado. Eu prendi o choro. Eu pensei em como você ficaria sem mim... e-eu... eu me apaixonei de verdade por você. — Falei e seus olhos se encheram de lágrimas. — Eu perdi meu namoro de anos por você, perdi tudo. Não foi opção minha ter perdido tudo, mas... foi consequência do meu amor por você. E... se eu pudesse voltar atrás, eu não teria feito nada diferente.
— Eu vou subir para tomar um banho. — Ele disse.
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see you soon - romance gay (incompleta)
RomansaPatrick decide acompanhar sua namorada, Júlia, até Nova York, pois ela passou para a tão sonhada faculdade de medicina. Eles vão morar no apartamento do melhor amigo de Júlia, Maurício, que acaba se descobrindo gay ao se apaixonar perdidamente por P...