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Cecília

Andando de volta para festa, a areia fazia a caminhada ser mais pesada do que antes. Ou o clima angustiante que caiu sobre nós. Tentava acompanhar os passos de suas perninhas curtas, sem sucesso. Ela caminhava a frente, pisando firme e apressada. No que estava pensando? Nesse momento, queria dizer a ela para não se preocupar, que não era nada demais. Mas era... eu estava com alguém. E novamente me vem a vontade de me justificar, como se eu devesse algo a ela.

''Ana...''

Minha voz falhou ao chamá-la.

Ela não parou, continuou pisando firme até sair da areia, em direção a casa. Enxugo a lagrima que caiu contra a minha vontade, eu não conseguia evitar. Eu queria que ela voltasse, na minha garganta se forma um nó sem tamanho, me dá vontade de gritar, ao invés disso caio na realidade desesperadora. De novo me vejo nessa posição, estou vendo-a partir e pode ser a última vez.

Chega na casa e a perco de vista no meio das pessoas. Procuro a Júlia perto do balcão de bebidas no quintal, onde ela disse que estaria. A avistei, estava com a Gabi e o Leo conversando animados, Thiago estava junto deles depois de sumir logo quando chegamos. Eu queria realmente sumir dali, mas sei que tentariam me convencer de ficar, ainda mais porque ela acabou de chegar. Chego até o grupo, fingindo estar animada.

Júlia: Oi.

Disse ela um pouco desanimada.

Logo percebe minha reação e me da um beijinho no nariz, ela sabe que amo quando faz isso. E onda de culpa cai sobre mim. Mesmo não fazendo nada fisicamente, que possa ter ferido esse nosso começo de relacionamento, meus sentimentos não estavam concretos, muito pelo contrário, estavam completamente misturados.

Bom, eu não iria embora tão cedo, minha carona estava animada. Léo fez cinco doses em pequenos copos e ordenou para que cada um de nós virarmos. Antes dele terminar sua frase, eu já comecei a virar uma por uma. Ele e Thiago soltam um ''WOW'' ao mesmo tempo . Gabi ri e começa a preparar outras doses. Sinto meu estomago embrulhar e olho para Júlia com a expressão de quem tivesse acabado de chupar o limão mais azedo da face da terra. Ela pega uma dose pra ela, vira, e eu a puxo para a pista de dança.

Tudo o que me toma nesse momento é essa música alta e a multidão de pessoas a minha volta. No meu corpo só havia álcool. Danço estranhamente tentando me manter equilibrada, graças a Deus todos estão nessa situação. Júlia está dançando e a sinto se aproximando cada vez mais, ela sempre olha para mim com esse olhar. Dou um sorrisinho, desvio olhar jogando a cabeça para trás, sentindo a música e aquela sensação de tudo girar, continuo dançando. A bebida bateu MUITO, e agradeço por não estar dirigindo. Vejo Léo e Gabi dançando de um jeito engraçado, ela está atras dele e ele empinando para ela, solto uma risada ao ver a cena.

Não sei como o Léo não está desmaiado nesse quintal do tanto que bebeu. A música troca e quase todos da festa estão no quintal, vejo Bruno e a Vi um pouco ao fundo, se beijando e dançando juntinhos com um grupo de pessoas que não conheço, fecho os olhos evitando achar um rosto conhecido nessa multidão, continuo dançando, me sentido livre.

Me sinto suar, Julia parece não se importar e se aproxima ainda mais.

O jeito que ela dança em mim é bem provocativo, deixo minha mão em sua cintura, sentindo seu corpo. Ela continua me dando sorrisinhos maliciosos e fixa seu olhar em meus lábios. Ela pede com o olhar, avanço nela em um impulso rápido que a faz ir para trás. A beijo com todo desejo que sinto naquele momento.

Ela se afasta de mim lentamente, terminando o beijo. Olha para mim com aquele mesmo sorriso, pega na minha mão e me conduz até a escada, subimos, ela me prende contra a parede no corredor no andar de cima. Sinto seus lábio nos meus e por um milésimo de segundo, imagino outra pessoa em seu lugar.

O nervosismo toma conta de mim, não sei o que estou sentindo, e minha respiração acelera. O sorriso que havia no meu rosto se desfaz. Toda a excitação parece desaparecer por conta dos meus pensamentos, talvez ela tenha percebido.

Júlia: Tudo bem?

Disse ela baixinho.

Isso já aconteceu antes. Eu conseguia ver a decepção em seus olhos. Eu não tinha dormido com mais ninguém depois da Ana e estava sempre adiando esse momento quando as coisas esquentavam com a Júlia.

Cecília: Tudo bem - minha voz falha, e penso ser por conta de todo álcool.

Concordo com a cabeça e desvio meu olhar para o chão.

Júlia: Eu te vi na praia.

Meus olhos que estavam cravados no chão encontraram os seus. Comecei a negar com a cabeça e ela soltou um sorriso forçado.

Júlia: Eu vou indo, ok?

Disse se distanciando e a segurei pela mão.

Cecília: Ei, não tem nada a ver. No que está pensando?

Ela demorou para responder, eu já estava esperando um xingamento ou até mesmo a nossa primeira DR. Porém, ela disse o que eu acobertava para mim mesma.

Júlia: Estou pensando que não está pronta pra isso.

Não pensei em nada que pudesse reverter essa situação, respiro fundo e a vejo descendo as escadas. Pressiono as mãos nos olhos, que dia! Não quero descer e encarar o mar de pessoas que estavam ali. Ando em direção a primeira porta do corredor.

Há coisas que podem ser evitadas e outras que são simplesmente  impossível. Algo está me puxando para ela, e eu não consigo entender o porquê. 

...

Abro a porta a vejo deitada na cama.

Ana e CecíliaOnde histórias criam vida. Descubra agora