14.

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Cecília

A onda de aplausos me fazem voltar à realidade. Estou segurando no vidro da sacada com tanta força que o sangue parece não circular em meus dedos. Ana finalmente desvia o olhar e sorri para a plateia, que pereceu amar a nova música. Pisco diversas vezes, meus olhos estão ardendo. Devo ter ficado olhando pra ela sem piscar, parecendo uma louca. Porque eu não consigo tirar esse sorriso do meu rosto? Olho a minha volta e vejo que Bruno e Gabi estão me olhando, eles se olham, dão um sorrisinho um para o outro e desviam o olhar. Léo tinha voltado e estava do meu lado e eu nem tinha percebido. Dou um "oizinho" e ele retribui.

As meninas falam no microfone que vão dar um intervalo, ninguém do público reclama. Eu estava anestesiada com o que acabou de acontecer. Só sei de uma coisa, eu não conseguia tirar o sorriso do rosto.  

Me afasto da sacada e sinto meu rosto queimar, mas eu não estava ligando muito pra isso. Olho para as pessoas da sacada, ninguém está mais com a atenção no palco la embaixo. Eles voltam para suas bebidas e cigarros, todos parecem estar bem animados. Começa a tocar uma música alta lá embaixo. Observando as pessoas ali, vejo de longe o grupo do Mike rindo descontraídos. Olho até encontrar seu rosto. Ele está olhando fixamente para mim. Não consigo decifrar seu olhar, não era de raiva, nem de alegria, mas estava estranho. Vejo ele dar um longo gole na sua bebida e desvio o olhar.  Voltamos a sentar nas cadeiras onde estávamos antes.

Olho em volta e todos estão muito embriagados, principalmente Bruno e Léo. Não presto muito atenção no que eles estão falando. Na verdade não estou prestando atenção em nada. Pego meu copo e dou um gole no coquetel que está nele. Era uma delicia e assim que é perigoso. Descanso o copo na mesa e respiro fundo. A minha imaginação estava sendo minha companheira nessa festa. Estava totalmente inquieta e delirante na possibilidade de encontrá-la. O que tinha uma chance enorme de acontecer.

Eu acordo dos meus pensamentos ao ver Bruno se inclinar na minha direção.

Bruno: Para de morder esse lábio, já já ela está aqui.

Ele se inclinou e disse isso no meu ouvido enquanto os outros conversavam na mesa. Sinto meu rosto pegar fogo e agradeço por ser a noite e estar escuro.

Cecília: Está dando pra perceber? - digo me ajeitando na cadeira, desconfortável.

Ele balança a cabeça negativamente, balançando seus cachinhos.

Bruno: Eu não sei o que aconteceu aqui... mas aconteceu algo!

E da uma risadinha olhando para mim.

Realmente tinha acontecido algo. Sorrio de volta para ele e Bruno enche meu copo.

Cecília: Eii... não está dirigindo né?

Bruno: Não amorzão, pode ficar sossegada tá?

Cecília: você está bem? Tipo...

Bruno: sim... eu sei. E eu estou, tá? Pode ficar despreocupada.

Ele levanta a mão em sinal de juramento. Bebemos juntos e continuamos conversando. Uma hora ou outra o grupo onde o Mike estava, estrondava em risadas altas e escandalosas. Em algumas vezes conseguia ouvir sua voz naquele bolo de pessoas. Alguém quer atenção, penso. Me viro para olhar para eles e novamente, ele está com o olhar voltado para mim. Dessa vez há algo em seus olhos. Ele está totalmente embriagado, da pra perceber. Sinto um frio na espinha ao nos encararmos. Novamente eu sou a primeira a desviar o olhar.

Volto minha atenção para o pessoal da mesa. Léo faz algumas piadas e choramos de rir. Ele era extremamente engraçado e nunca tinha tempo ruim para ele. Léo era daqueles que topavam tudo. Sua risada fazia tudo ter mais graça ainda. Gabi, que esta sentada ao seu lado nem percebe o carinho que esta fazendo na mão dele. Eu achava isso a coisa mais fofa do mundo.

Ana e CecíliaOnde histórias criam vida. Descubra agora