Cecilia
Alô?
Oi mãe.... estou bem... sim, já vou pra casa... sim... está tudo bem!!! Eu só.... precisava sair um pouco... ok! Até daqui a pouco... tchau.... amo você também!...
A porta do elevador se abre e sinto meu peito pesar. Minha bateria está quase acabando. Chamo um uber para ir pra casa. Tudo que eu queria era um banho e deitar na minha cama. Aconteceu tanta coisa em tão pouco tempo.
Sei que não queria ir pra casa dormir. Eu precisava ficar sozinha. Até meu sono e fome passaram. Sinto uma leve pontada de culpa por mentir para ela, dizendo que a Júlia ligou. Júlia não queria nem me ver pintada de ouro, penso.
A culpa se vai ao me lembrar dos dois na cama e o Mike a beijando. Meu estômago embrulha e me vem uma onda de ciúmes.
Eu poderia beber horrores agora. Mas eu não queria isso. Eu queria deitar e ficar na minha cama. Por um bom tempo.
Saio do prédio e espero o uber na calçada. Torço para que ninguém venha atrás de mim. Tudo o que eu não queria era voltar para aquele apartamento. Olho pelo reflexo do celular e vejo meu olho inchado e nariz vermelho. O sol está forte mas o vento está gelado. Observo algumas pessoas que passam ali na rua. Algumas me olham, por eu estar com essa cara de choro, apenas abaixo a cabeça.
Eu estou me sentindo uma idiota. No começo pensei que a festa poderia ser uma boa ideia. Mas agora penso que só foi uma chance de abrir minha feridas. Já tinha se passado tanto tempo. Eu estava indo bem.
Mas como sempre. Eu consegui estragar tudo. Com a Júlia. Me iludi com a Ana. Só de pensar nela junto do Mike naquela cama. Me vem um arrepio na espinha.
"Esse quarto me traz boas lembranças..."
O nó na minha garganta aumenta ainda mais. fecho os olhos e dou uma longa respirada. Tentando me manter bem, tento distrair meus pensamentos mas nada me vem na mente. Graças Deus ouço uma buzina.
O uber chega e vou ao seu encontro. Sinto minhas pernas cansadas ao caminhar até ele.
Entro, ele me oferece uma água e aceito. Abro a garrafa e dou um longo gole. Sinto a água gelada descer pela minha garganta.
"Posso ligar o rádio?"
Termino meu gole e fecho agarrada. Respondo que sim.
Logo me arrependo. AnaVitória está tocando. Passo a mão na testa impaciente. É serio isso? Minha vontade é pular do carro.
Apenas fecho os olhos, jogo minha cabeça para trás e a encosto no banco. Abro a janela e sinto o vento gelado em meu rosto.
Meu celular da vários toques, era o som de mensagens. Evito olhar para ele. Não quero ler nada agora, ainda mais com a cabeça assim, com todo esse ciúmes, raiva. Tudo o que eu faria seria dar uma resposta grosseira. Não queria estragar tudo. Mas já não estava tudo estragado?
A terceira tentativa parece que já foi para o buraco. Eu gostaria que esse nó na minha garganta sumisse.
Andamos por um tempo e agradeço por não ter muito trânsito. Viramos a rua e o carro estaciona em frente ao meu prédio. Pago o uber e desço. Fico parada ali naquela calçada por um tempo. Olhando para o chão, pensando que não devia ter saído de casa ontem. Tiro meu celular do bolso. Tem uma mensagem da Vi, várias do Bruno. E só.
Passo a mão na testa, respiro fundo e entro no prédio.
Subo o elevador e entro, agradeço a Deus por não ter ninguém aqui. Só ouço os latidos da minha cachorrinha Mel. Ela parece sentir que estou mal, é tão quieta, mas agora está eufórica lambendo minha perna. Entro e fecho a porta. Agacho e faço carinho em sua barriga.
Atravesso o corredor como um zumbi, lentamente abro a porta, Mel me segue para onde vou, respirando alto com sua língua para fora.
Olho para o quarto e ele está exatamente do jeito que deixei. Me arrependo de não te-lo arrumado ontem, quando tinha um tempo sobrando. Caminho com as pernas cansadas e jogo a bolsa em cima da cama. Nem penso em deitar, porque ficaria ali um bom tempo.
Tiro meu shorts jeans e meu tênis sujo, jogando as meias no meio do quarto. Porque minha cabeça não desliga? Eu gostaria de parar de pensar nela por um segundo. Tiro minha blusa e vou até o guarda roupa, deslizo a porta e pego duas toalhas brancas. As deixo em cima da cama e olho em volta, Mel está brincando com uma das meias .
Pego meu celular e o coloco para carregar. Desbloqueio para ver se tem algo e o volto para o criado mudo. Nada de mensagens.
Está tudo tão silencioso.
Pego as toalhas e vou até o banheiro, apoio elas no armário próximo a pia. Fico um bom tempo olhando meu reflexo no espelho. Meu cabelo estava todo bagunçado e minhas olheiras enormes.
Ligo o chuveiro e sinto a água quente tocar meu rosto. Era tudo que eu precisava. De algum jeito, isso faz com que eu me sinta aliviada. A tensão parece diminuir. Mas o nó na minha garganta continua aqui.
Sinto a água percorrer meu corpo e era uma sensação maravilhosa. Eu poderia ficar aqui por horas. Porque temos que cutucar feridas quando estão cicatrizando? Parece ser prazeroso, mas sabemos que vai demorar mais para curar. Sinto vergonha ao lembrar da música que toquei pra ela na cama. Algumas lagrimas descem junto com as gotas de água e fecho os olhos.
Termino meu longo banho, desligo o chuveiro e ouço as últimas gotas caírem no chão. Enrolo uma toalha no cabelo e a outra no corpo. Vou até o quarto, procuro algo confortável e coloco meu pijama.
Ouço a porta da sala se abrir. Escuto a voz da minha mão chamando pela Mel e solto um sorrisinho. Mel sai correndo do quarto e vai até ela. Era bom estar em casa. Ouço seus passos chegando ao quarto e ela aparece na porta.
Ela me lança aquele olhar acolhedor de mãe junto a um sorrisinho. Era a única que conhecia todos os meus segredos e demônios. Ao ver meu rosto parece me descrever inteira. Ela nem precisa me perguntar nada, ela já sabe o assunto.
"Vem, comprei algo pra você comer"
Ficamos na cozinha comendo e conversando sobre tudo, menos as coisas de ontem. Ela sabe se eu quisesse falar, falaria. Então não tocava no assunto e sempre tentava me animar com as frases de conforto que só ela tinha. Uma vez ou outra ela tira um sorriso do meu rosto. Ficamos ali por um bom tempo que até perco a noção da hora.
...
Volto para o quarto, apressada. Sei o que estou querendo encontrar. Algum sinal de importância de sua parte. Uma chamada ou mensagem. Vou até o criado mudo e pego o celular.
Nada.
Meu coração está cansado. Toda a magoa que sinto parece se formar em frustração. Devolvo o celular e deito na cama. Olho para o teto.
Eu nunca vou aprender? Gostaria de desligar minha mente por um tempo.
Me viro para o lado e pego o celular. Estava muito recente pra isso? Novamente me vem a sensação de estar sozinha.
Procuro seu número e o encontro. De uma coisa eu sei, eu posso ter duas alternativas. São 50% de chance de acertar. Mas eu sempre vou escolher a errada.
Sem hesitar, ligo para Júlia.
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Ana e Cecília
RomancePassou meses desde o último encontro, a vida seguiu. Mesmo distantes por um tempo, Ana e Cecília percebem que a história delas ainda não terminou. Ana desistiu na primeira vez, Cecília na segunda. Os cenários mudaram, as pessoas ao redor também...