Cap. III: FLASHBACK - DOIS ANOS ATRÁS

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Estávamos de volta à sala de estar da minha casa, revirando todas aquelas cartas e papéis, que Calientob ( o cunhado lobisomem de Robert) provou serem mágicos, quando Robert encontrou um livro surrado de capa dura, cujo título referia-se a alguma lista com nomes de alunos e professores, da tal Escola Blogwarts.
- Gente; - Ele disse um tanto pasmo. - Dá uma olhada nisto!

Corremos até ele, enquanto abria e folheava as páginas com cuidado:
- Olhem só isso! - Calientob dizia arregalando os olhos, diante das fotos que se mexiam por todo lugar naquelas páginas.
- São bruxos, fantasmas, fadas, duendes, ogros...
- Tem até... Faunos, e... - Robert questionou.
- Este é um livro de docentes? - Interrompi.
- Ao que parece... Sim! - Calientob respondeu, quando reparou em algumas anotações com imagens que também se moviam ali perto, e foi pegá-las.
- Posso? - Pedi a Robert, que disse me emprestando o livro estranho:
- Claro! Mas, Rose...
- O quê? - Eu disse pegando o livro, enquanto ele parava e pressionava o dedo indicador esquerdo sobre uma página:
- Este nome aqui... - Ele disse referindo-se a uma fotografia daquela página, que mostrava a imagem de uma mulher branca, cujo rosto tinha algumas cicatrizes de arranhões. Ela usava um elmo aberto e apoiava as mãos e o queixo, sobre uma espada.
- Mas; esse é... - Eu exclamei ao ler as legendas logo abaixo do foto, com as palavras:
- "Annabelle Le Rouge; professora de Blogwarts."
- O nome da minha mãe, era Anna, mas... Essa mulher...
- O olhos dela lembram os seus, Rose! - Robert disse sorrindo. - Sabia?

Sem responder de imediato, continuei lendo as demais inscrições, que mencionavam uma grande e estranha lista, de funções, habilidades e até poderes especiais relacionados àquela mulher.
- Professora de defesa mágica e pessoal; líder dos defensores da escola... - Eu lia, sem tirar os olhos daquela páginas:
- Praticamente imparável, quando em combate?
- Ao que parece, - Calientob disse se aproximando com alguns papéis nas mãos, enquanto eu parava numa página, onde outra figura mostrava a mesma mulher, vestindo uma armadura de metal negro, porém revestida com uma enorme capa vermelha:
- Há muitas lendas; sobre esta capa que ela usa.
- Na Europa... Olha aqui, - Robert disse, pegando alguns papéis de uma pilha ali perto, mas não permitiu que eu tocasse:
- Diz que ela fez parte de um grupo de guerreiros, - uma sociedade secreta criada pelo Rei Arthur Pendragon; com o intuito de proteger o reino de ameaças físicas e místicas. Liderados a princípio; pelo próprio mago Merlin, seus membros, além de presenteados com longevidade sobrenatural, usavam capas brancas e vermelhas, e portanto eram chamados de "A Irmandade da Capa".
- Composta por humanos, ogros, fadas, orcs, fantasmas, lobisomens, magos e até vampiros que preferiam a paz, a Irmandade da Capa, combateu uma legião de vampiros, que surgiu na Itália e estava disposta a aniquilar a humanidade. Este conflito começou ainda no século V; teve seu ápice na Idade Média, e durou até o início do século XX.
Mesmo com centenas de corpos de humanos mortos pelas ruas de Monterra... Os vilões finalmente foram detidos. - Robert concluía a leitura, me mostrando aqueles papéis, enquanto Calientob também se aproximava:
- No entanto; o preço foi alto demais, e de tantos guerreiros... - Ele disse pegando outras folhas daquela pequena pilha:
- Apenas uma sobreviveu, para eliminar os líderes que ainda restavam.
- Mas como isso é possível? - Questionei, atônita:
- Idade Média? - Eu ainda murmurava, quando ele disse algo surpreendente:
- Ao se deparar com monstros tão poderosos; ela não estava preparada para tamanho poder e velocidade.
- Que horror! - Sussurrei enquanto ele prosseguia:
- Quase morta; a guerreira cuja capa branca que usava, mudara de cor, tornando-se vermelha com o sangue dos inimigos, foi milagrosamente salva, por um estranho portal, do qual saiu a silhueta de um mago, que desintegrou os vampiros com apenas um raio de luz, disparado de suas mãos.
Em meio às cinzas dos corpos dos inimigos pairando no ar, a guerreira moribunda foi levada por seu salvador sem rosto para dentro da estranha luz, que logo se apagou.
- Meus pais; já me contaram parte desta história; Rose!
- Contaram? - Perguntei, confusa.
- Foi quando os Monturi...
- Monturi? - Interrompi. - O que é isso?
- Segundo os meus pais; - Robert explicou:
- Eles são os mais antigos dos vampiros que ainda vivem.
- Então... - Murmurei, enquanto ele concluía o raciocínio:
- Com o fim dos vampiros antigos, a líder deles, Ormanna assumiu o poder como imperatriz, e estabeleceu leis com pena máxima para qualquer um que expusesse a nossa espécie entre os homens, outra vez!
Ainda hoje; a população de Monterra realiza uma procissão anual, onde todos vestem capas brancas e vermelhas para homenagear os heróis cujas origens e identidades jamais foram reveladas.
Realmente... Isso; mostra o quanto - Calientob disse pedindo para que Robert emprestasse aqueles papéis, por alguns instantes. - As histórias de vocês estão ligadas!
- Ou não, Sr. Black! - Robert interveio:
- Nós sequer; temos informações que realmente comprovem a existência da Irmandade da Capa, quanto mais para afirmarmos que a Chapeuzinho Vermelho fez parte dela. E se fez... Onde estava a capa vermelha?
- É... - Eu assenti, mesmo confusa:
- Faz sentido!
- Afinal... - Eu refleti. - Como minha... Essa personagem; teria participado de algo criado por alguém, que viveu mais de mil anos antes de alguém criar o conto de fadas dela?
- Talvez seja outra pessoa, pessoal. Ainda é muito cedo para... - Robert deduziu, quando voltei a questionar:
- E tem mais! Como eu poderia ser filha; de uma pessoa com mais de mil e quinhentos anos gente? Pelo amor de Deus!

Semanas depois...

A arquitetura rústica daquela casa, tão semelhante à minha, já não me entusiasmava tanto, quanto a curiosidade a respeito de todo aquele material, coletado tanto do laboratório destruído, quanto do apartamento do professor Newton, ainda desaparecido.
Por isso, inclusive, decidimos voltar ao condomínio onde ele morava:
- Estranho como a construtora teve ordens para evacuar; indenizar e realocar todos os moradores, não é?
- Estranho é apelido, Rosanne! - Robert concordou, com um tom bastante ríspido, enquanto desdobrava e me passava seu Galaxy Fold preto:
- Abra aquelas pastas! - Ele disse desbloqueando a tela já ligada do smartphone dobrável; com a digital do polegar direito, enquanto focava na estrada à nossa frente.
- Okay! - Eu disse acessando os arquivos na tela.
- Robert perguntou curioso, enquanto acelerava a modesta Tundra 2014, 1794 Edition vermelha, e que pertencia à senhora Bullen.
- Sim, consegui, mas... - Respondi, confusa, mas fui interrompida
- Mas, o quê, Rose? - Ele replicou, e eu prossegui abrindo algumas imagens e vídeos no dispositivo:
- Olha só isso, cara! - Eu disse analisando imagens de satélite e de algumas câmeras de segurança da região próximas ao condomínio:
- Que tipo de lugar... Completamente abandonado; é vigiado vinte e quatro horas, por câmeras e até drones?
- Nem corpo, ou paradeiro... - Robert dizia acelerando o carro pela estrada que separava minha casa na floresta, do centro da cidade:
- Nada! - Ele disse, irritado enquanto percorríamos o trecho final da mata, entrando na parte urbana.
- O professor realmente sumiu.

Quase meia hora depois; paramos o carro em uma rua próxima, onde Robert pediu para que eu esperasse, enquanto pegava uma mochila.
- Vou colocar os repetidores de imagens nas câmeras, e deixar uma passagem aberta para nós!
- Tudo bem, amigo. Vai lá! - Eu concordei, pensando na loucura daquilo. - invadir uma propriedade particular, na companhia de um vampiro super veloz...
- Rosanne... - Robert sibilou, me tirando de um breve devaneio.
- Foco!
- Desculpe. - Murmurei, enquanto ele dizia:
- Eu já volto pra te pegar, okay?
- Tá legal; - Eu respondi fechando os vidros e travando as portas da picape.
- Toma cuidado, Bullen. - Eu o alertei discretamente; quando já fora do carro... Robert simplesmente desapareceu feito um borrão, sob uma chuva leve que começava a cair.

Pouco tempo depois; cerca de cinco minutos ou menos, o vulto de Robert surgiu bem ao meu lado batendo suavemente no vidro, já molhado pela chuva.
Saindo do carro, segui algumas instruções que ele me deu:
- Vou colocar a mão na sua nuca, para proteger seu pescoço por causa da velocidade, Rose!
- Tudo bem, vamos lá! - Eu disse enquanto ele me instruía a enrijecer o corpo.
- Lembra de quando fugimos daqui? - Robert relembrava o dia em que expôs sua natureza sobre humana.
- Sim; lembro! - Respondi olhando para o condomínio sombrio ao longe.
- Vai ser do mesmo jeito. - Ele disse me agarrando com o braço esquerdo, enquanto segurava a minha nuca com a mão direita:
- Pronta?

- Sss... - Eu comecei a responder, e de repente, tudo parou de se mover:

Um besouro paralisado entre as gotas da chuva agora paradas no ar, estava prestes a ser comido por um morcego, também congelado no tempo, por alguma força estranha.
A água que caía do balde, de uma senhora que lavava um quintal ao longe, também parou no ar.
As hélices de um drone também estavam imóveis, e mesmo assim, o dispositivo flutuava.
Enquanto eu me ouvia dizer a palavra "sim", inacreditavelmente devagar...
Apenas Robert se movia, me carregando por aquele cenário de imagens congeladas, enquanto segurava minhas costas com uma mão, e apoiava minha nuca com a outra.
Em segundos; tudo ao meu redor virou um borrão.
- Iim. - Eu terminei de responder, quando percebi que já estávamos de frente para um corredor escuro e úmido, de um prédio abandonado.
- O que foi? - Robert perguntou saindo detrás de mim e caminhando pelo corredor, enquanto eu ainda tentava entender o que acabara de ver:
- Foi só uma corridinha.
- Nossa! Isso foi... - Exclamei olhando para trás, quando ele esbravejou, desaparecendo naquele corredor escuro:
- Anda logo, Rosanne!

[ UDG ] A GAROTA DA CAPA. O CONTO REPAGINADO IIOnde histórias criam vida. Descubra agora