Capítulo onze - Por você

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    Ainda consigo ver Grant com aquela garota que eu não suporto. Ela é tão irritante, principalmente aquela voz dela. E para piorar, ela tem cara de alguém que só se importa em fazer compras. Tem cara de idiota. Uma desmiolada!
   Será que Grant também levou ela para sair? Será que levou ela num restaurante ou para andar de balão? Ou será que levou ela no apartamento dele?
   Todas essas possibilidades são terríveis. Porquê as coisas têm de ser assim? E eu que pensava que ele estava começando a gostar de mim. Já não sei o que pensar.
   Estou tentando estudar um pouco, mas é inútil. Não consigo por um simples motivo: Grant. É só olhar para o livro que os olhos âmbar ou as covinhas vão aparecer na minha cabeça.
  Vladimir entra no meu quarto sem bater na porta. Ele faz sempre isso. Ele acha que pode fazer o que quiser comigo, e parece que ele pode. Ele sabe que eu não tenho ninguém além dele.
   — Você está melhor? — Pergunta.
   Eu afirmo fazendo movimentos com a cabeça. Ele toca o meu cabelo e se inclina para frente para beijar a minha testa.
  Isso não só é enjoativo, como é cansativo. Fingir o tempo todo é cansativo. Um dia, eu vou ter coragem e vou fugir. Não importa o que aconteça depois. Qualquer coisa é melhor que ficar com ele.
   — Já tomou os remédios?
   — Sim. — Viro a página do livro. Ele continua olhando para mim.
   — Você não imagina o medo que eu tenho de perder você. — Ele beija o meu pescoço. Tenho vontade de empurrar ele. — Eu não vou deixar que nada nem ninguém se meta entre a gente. Você vai ver.
   — Vladimir?
   — Pode dizer, meu amor!
   — Você é feliz? — Pergunto. Sinceramente, eu gostava de perceber isso. E será que ele não percebe que eu não sou feliz com ele?
   — Claro que eu sou. Eu só preciso de você para ser feliz. — Ele olha para mim.
   — Está bem. — Viro outra página do livro. Eu não seria feliz se eu soubesse que a pessoa que amo não é feliz. É por isso que foi muito doloroso ter dito aquelas coisas no Grant. Sei que estou apaixonada.
   — É melhor deixar você estudar. — Ele diz. — Depois eu venho ver como você está.
   Ele caminha até à porta e sai. Suspiro e vou me deitar na cama porque não estou conseguindo estudar. Eu só consigo pensar no que Grant deve estar fazendo nesse momento. Será que está com aquela garota?
   Então, como se fosse automático, as minhas lágrimas aparecem. É só imaginar eles dois juntos. Será que eu fiz a coisa certa? Eu não quero que ele me odeie ou fique com aquela ruiva, mas também não quero que fique comigo porque eu não posso ficar com ele. Vladimir jamais deixaria. Cada dia é mais triste. Toda a minha felicidade foi com os meus pais.

   Por causa do frio, eu uso um casaco enorme que era do meu pai e umas botas que Vladimir comprou para mim. Só estou usando porque não tenho opção. Também não me importa o que as pessoas vão pensar. Eu venho para estudar, não para um desfile de moda.
   Fico na biblioteca fazendo investigações sobre o meu trabalho, para não ter de interagir com ninguém. Mas como a má sorte está sempre presente, Grant entra na biblioteca com aquela garota.
   Eles sentam juntos e partilham o computador. Só de olhar para essa figura, eu tenho vontade de chorar. Parece que eles estão se divertindo. Ele se divertia assim comigo?
   — Pára, Grant! Você disse que ia me ajudar com o trabalho. Não me distrair. — A garota sorri. Eu sei que está gostando de ficar perto dele.
   — Não estou distraindo você, linda. — Ele toca o nariz dela.
   Ela é realmente muito linda. Tem olhos bonitos, cabelos bonitos e bem cuidados, maquiagem bem feita, unhas lindas pintadas de rosa e daqui dá para sentir o cheiro do perfume dela. Ela está usando um pullover cor de rosa super lindo, calças jeans e botas de saltos altos. Ela e Grant combinam.
    — Então, a gente sai depois? — Ela pergunta brincando com o cabelo.
   — Claro! — Ele sorri.
   Isso é tão doloroso!
   Eu levanto e levo as minhas coisas. Não quero saber se Grant me viu ou não. Eu não quero ver eles juntos, porque não vou suportar e vou chorar na frente deles.
  Vou para a sala de aulas, que nesse momento está vazia e sento no meu lugar. Só que começo a chorar mesmo assim, mas limpo as lágrimas rapidamente.
  Não é justo que Vladimir faça isso comigo. Eu também mereço ser feliz. Não quero viver com ele para o resto da vida. Eu quero ser livre e feliz. Quero uma vida sem ele.
   Quentin entra também na sala de aulas e vem sentar ao meu lado. Eu escondo o meu rosto na mesa para que não perceba que eu estava chorando. Não quero que ninguém se meta na minha vida.
   — Você está bem? — Ele pergunta.
   — Estou bem. — Digo.
   — Então, porquê não olha para mim?
   — Porque não quero.
   — Você não quer mais que a gente seja amigos? — Ele toca o meu ombro. — Eu quero ser seu amigo.
   Quentin é adorável, super fofo, inteligente, alegre, divertido, porquê ele iria ser amigo de uma pessoa tão triste como eu? Ele não merece isso.
   Olho para ele. — Porquê?
   — Porque não gosto de ver você sozinha e triste o tempo todo. É bom ter amigos, sabia? — Ele sorri. Um sorriso caloroso que eu estava precisando nesse momento.
   — Eu não mereço. Você não vai querer ser meu amigo. — Limpo as lágrimas novamente.
   — Claro que eu quero. Posso ser seu amigo nos seus termos.
   Não sei o que dizer. Só fico olhando para ele. — Eu... eu não sei...
   — É só você pensar sobre o assunto. — Ele abre o livro e começa a ler ao meu lado.
   Quentin parece ser uma ótima pessoa. Claro que eu gostaria que ele fosse meu amigo. Também Kathleen. Ela é muito fofa. Só não consigo perdoar ainda a Chloe. Mesmo que tenha mudado.
   Pego no meu livro também e leio para me distrair dos problemas. E são grandes problemas.

Intensamente quebradosOnde histórias criam vida. Descubra agora