Capítulo oito - Quando os sentimentos aparecem

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    Vemos um filme de desenhos animados muito engraçado no cinema. Foi muito divertido e diferente. Eu não podia imaginar que o cinema era muito emocionante. Talvez seja porque é a minha primeira vez aqui.
   Bebo o meu refrigerante com o canudo quando a gente sai da sala de cinema de mãos dadas. Grant está com o balde de pipocas. Eu disse para não comprar tantas pipocas, mas ele não quis me ouvir.
    — Você gostou do filme? — Ele pergunta.
    — Adorei. Fui muito engraçado. Principalmente a parte do final. E aqueles bichinhos amarelos são muito engraçados. Eu me diverti bastante. Muito obrigada por me trazer aqui. Você é um grande amigo, Grant! — Digo.
   — Uau! — Ele sorri. — Nunca vi você falar tanto. Deve estar muito feliz.
   — Você tinha razão. — Olho para um casal andando de mãos dadas e percebo que a gente também está de mãos dadas.
   — Agora vou cumprir com o combinado. Vou levar você para casa. — Ele olha para mim.
   — Claro!
   Saímos do cinema e entramos no carro. Grant me entrega o balde de pipocas para poder dirigir à vontade. Ele passa a mão no cabelo e liga o carro.
   Eu fico perdida em cada movimento que ele faz. Ele parece um homem responsável quando está dirigindo. E ainda por cima fica bastante focado e sério. Chega a ser sexy. Muito sexy!
   — Você conhece aquela garota há muito tempo? — Pergunto. Esse assunto surgiu de repente na minha cabeça.
   — Que garota? — Ele olha para mim por um segundo, depois volta a olhar para a estrada.
   — A ruiva. Aquela que perguntou se faria alguma coisa...
   — A Freya? — Ele sorri. — Digamos que desde o inicio das aulas. Porquê?
    — Parece que ela gosta de você. — Digo.
    — Sério? E porquê você acha isso?
    — Porque ela ficou triste quando soube que você ia me levar para casa. Você não notou? — Pergunto.
    — Não. Ela ficou mesmo?
    — Sim.
    — Tenho muitas garotas apaixonadas por mim. Isso não é novidade. — Ele sorri.
    Que idiota!
    — E você acha que isso é uma coisa boa?
    — Depende. Porquê você está perguntando isso?
    — Por... por curiosidade. — Olho para a estrada.
    — Está bem.
    Não digo mais nada. Eu fiquei com ciúmes de Freya sim. Não tenho culpa por ter caído nas teias do Grant. Ele é muito atraente e também tem uma coisa que me cativa. Só não sei explicar o que é.

   Desço do carro quando chego ao meu destino. Grant também desce e vem ao meu lado. Ele fica na minha frente e coloca as mãos nos bolsos. Alguma vez eu já disse que ele é muito lindo?
   Ele olha para mim como se estivesse esperando alguma coisa da minha parte. Mas o que eu poderia fazer? Eu já agradeci pelo convite e ainda por cima deixei ele entrar na minha vida. O que mais tenho que fazer?
   Abraço o balde pipocas e só agora me lembro que ainda estou com ele nas mãos. Mesmo assim, Grant se aproxima de mim. Seus olhos estão brilhando e estão ainda mais lindos.
    — Você não quer que eu fique com você essa noite? — Ele pergunta.
    — Eu vou ficar bem, Grant. Não precisa se preocupar.
    — Sabe que eu queria não me preocupar! Só que não. Eu... me preocupo. — Ele toca meus ombros. — Porquê eu me preocupo, Mia?
    — E-Eu não sei.
    Ele toca a sua testa com a minha e passa a mão no meu rosto. Eu fecho os olhos para saborear o seu toque. Minha pele fica toda arrepiada. Ele tem um efeito forte sobre mim. E conseguiu isso em pouco tempo.
    — O que está acontecendo? — Ele sussurra. — O que você está fazendo comigo, Borboleta? Me faça entender!
    — Eu não sei.
    Ele passa o dedo nos meus lábios e depois beija o canto da minha boca demoradamente. O beijo dele tem significado, não é como o beijo de Vladimir. E ele é carinhoso. Bastante carinhoso.
   — Por favor, liga para mim essa noite. — Ele se afasta para olhar para mim. — Eu vou estar esperando.
   — Porquê?
   — Só faz o que estou pedindo. Por favor! — Ele abre o portão para mim e me deixa entrar.
   — Vou ver o que posso fazer.
   — Está bem. — Ele continua olhando para mim. — Adeus!
    — Adeus! — Eu fecho o portão, abro a porta com as chaves e entro.
    Vou para a janela e vejo Grant no portão. Queria tanto que ele entrasse e ficasse comigo. Eu queria muita coisa nessa vida. Infelizmente, não posso ter nada do que eu quero. E não posso ter Grant do jeito que eu quero. Só posso ser amiga dele.
   Ele passa a mão no cabelo e tenta abrir o portão, mas não consegue. Depois tenta pular para o outro lado e desiste. Porquê tanto interesse em mim? Porquê quer ficar comigo essa noite?
   Eu suspiro e deixo o balde de pipocas por cima da mesa. Abro a porta e saio para abrir o portão. Vladimir está a quilómetros de distância, tenho que aproveitar.
    Abro o portão também e deixo Grant entrar. Eu sei que vou me arrepender disso depois, mas enquanto não me arrependo, tenho que fazer isso. Não vou voltar atrás.
    — Você mudou de ideias? — Ele pergunta sorrindo. Aqui estão as covinhas outra vez! Meu Deus!
   — Entre antes que eu mude de ideias. — Deixo ele passar.
   Vamos para dentro depois de eu trancar as portas. Afinal, não vou precisar mais ligar para ele. Porquê eu mudei de ideias? Porquê eu deixei ele entrar?
   Eu sei que estou mudando, mas não assim! Eu não devia estar fazendo isso. O que faço agora? Não posso expulsar ele depois de mudar de ideias. Devia ter pensado melhor sobre o assunto.
   — E agora? — Ele pergunta.
   — A gente pode ver um filme. Eu não sei.
   — Onde você dorme?
   — Porquê você quer saber?
   — Curiosidade.
   Eu aponto para o meu quarto. A porta que fica perto da cozinha. Ele olha para mim e depois vai para lá. Não acredito que está fazendo isso.
    — Grant!
    Entramos no meu quarto e eu fico bastante envergonhada. O meu quarto está arrumado, mas nunca ninguém além de mim e Vladimir entrou aqui. É um pouco estranho.
   Ele senta na cama. — Venha para cá também, Borboleta! — Ele puxa o meu braço e eu caio por cima dele na cama.
    — Entra no seu peito, bate, e pergunte ao seu coração o que ele sabe. Shakespeare. — Ele sussurra.
    — Você não devia estar aqui. — Digo me levantando.
    — Porquê não?
    — Porque é o meu quarto. Você gostaria que eu entrasse no seu quarto? — Pergunto sentando ao seu lado na cama.
   — Você quer mesmo que eu responda essa pergunta, Borboleta?
    — Quero.
    — Tudo bem. Eu adoraria ver você no meu quarto. Adoraria muita coisa que você não imagina.
    — E o que isso significa?
    — Vamos ficar por aqui. — Ele apoia a cabeça no meu colo.
    — Não devia ter deixado você entrar.
    — Eu sei que no fundo você está feliz por ter me deixado entrar, Mia.
    Passo a mão no seu cabelo. — Porquê você quer tanto estar perto de mim?
    — Você devia saber! — Ele fecha os olhos.
    Ele pára de falar. Faço o mesmo. Além de não ter nada para conversar, eu tenho medo que ele consiga descobrir uma coisa sobre mim. Não quero que desconfie de mim. Não quero que conheça Vladimir e nem saiba o que ele faz comigo.

   Dormimos juntos depois de passamos a noite toda conversando sobre o filme que vimos no cinema. Acordo e esfrego os olhos por um segundo. Só que não vejo o Grant.
   Sento na cama ainda tentando me livrar do cansaço do dia anterior, quando Grant sai do banheiro todo molhado com a minha toalha na cintura.
   Eu não devia, mas observo seus biceps, peitorais e abdominais definidos. Ele tem tatuagens no seu ombro e no peito. E a melhor parte, é o seu cabelo molhado caindo pelo rosto.
    — Bom dia, Borboleta! — Ele limpa o cabelo.
    — Porquê você está usando a minha toalha? — Pergunto.
   — Eu pensei que podia. Desculpa.
   — Não faz mal. Você já está usando.
    — Você não vai tomar banho? — Ele pergunta.
    — E-Eu vou. Mas não agora.
    — Porquê?
    — Porque eu não quero. Entenda. — Levanto. — Vou fazer alguma coisa para comer.
   Ele segura a minha mão. — Espera!
    Olho para ele. — O que foi?
    — Faça umas panquecas para mim se não for pedir muito. — Ele faz beicinho.
    — Eu vou tentar. Mas saiba que eu não sou como o Scott. — Eu saio do quarto.
   Vou para a cozinha, lavo as mãos, seco numa toalha e ligo o fogão. Abro a geladeira para tirar os ingredientes, mas oiço o telefone tocando.
   Então, eu me lembro que é hoje que Vladimir regressa de viagem para voltar a infernizar a minha vida. É verdade o que dizem: Alegria de pobre dura pouco.
   Saio da cozinha para atender o telefone. — Alô!
    — Bom dia, meu amor! Você já está saindo de casa?
    — Não. Estou fazendo algo para comer.
    — Ainda bem. Não vejo a hora de voltar para você. Beijos. — Ele desliga.
   Pelo menos, foi curto!
   Volto para a cozinha para fazer panquecas para a gente. Eu imagino que a comida que Grant come deve ser diferente e requintada. E não o que eu faço. Espero que pelo menos não esteja horrível.
    Depois de fazer a massa, despejo na frigideira com manteiga. Não tem frutas na geladeira, espero que ele não se importe. Eu sei como os ricos são.
   — Você fica linda distraída, Borboleta! — Grant me assusta quando sussurra no meu ouvido.
    — O que você está fazendo?
    — Então é assim que se faz uma panqueca?
    — Eu disse que ia tentar. — Rio.
    Ele senta na mesa olhando para mim como se eu fosse uma celebridade, algo admirável. E eu confesso que gosto desse olhar.
    Coloco as panquecas num prato e desligo o fogão. — Eu vou tomar banho. Você pode comer se quiser.
    — Vou esperar você. — Ele diz.
    — Está bem.
    Eu vou no quarto tomar banho e acreditando que Grant não veio espreitar em nenhum momento. Acho que ele não fez isso. Sei que não faria isso. Ele me respeita.

   Observo atentamente quando Grant come as panquecas para ver se gosta ou não. Eu acho que estão comestíveis, só quero saber o que ele acha.
   Ele não diz nada. Só come e algumas vezes, escreve alguma coisa no celular, depois olha para mim. Também não tenho coragem de perguntar.
   — Obrigada por não me deixar passar a noite sozinha.
    — Não precisa agradecer.
    — Você... gostou de dormir comigo? — Pergunto.
   Ele pára de mastigar. — Como assim?
   — Esquece! Não precisa responder. — Como.
   — Eu adorei passar a noite ao seu lado. Adorei passar um dia inteiro com você.
    — Não foi um dia inteiro.
    — Mas é como se fosse. Estou gostando da sua mudança, Borboleta.
    — Obrigada.
    Esses dias sem Vladimir foram os melhores da minha vida. Jantei fora pela primeira vez, fui ao cinema com Grant e deixei ele dormir no meu quarto. Não acredito que tenha mudado tanto.
   Mas há uma coisa que não sai da minha cabeça. Como eu vou fazer quando Vladimir regressar? Ele não vai me deixar sair de casa.
    — Você quer sair comigo? — Ele pergunta.
    — Temos aulas, Grant.
    — É a segunda vez que você falta. Eu prometo que vai valer a pena.
   — Não sei.
   — A gente volta antes das aulas terminam. Por favor!
   Eu sei que vou me arrepender disso mais tarde. Disso e de muitas outras coisas. Mas vou arriscar. Não poderei dizer que nunca fiz o que queria.
    — Está bem. Eu vou com você onde quer me levar. Mas você não vai me levar em casa.
    — Claro que não.
    — Está bem.
    — Você não vai se arrepender! — Ele sorri.
    Posso não me arrepender, mas não será bom para mim. Tudo tem uma consequência.

Intensamente quebradosOnde histórias criam vida. Descubra agora