Capítulo vinte e dois - Uma parte de mim que ficou para trás

1.8K 135 38
                                    

           Cinco anos atrás

  Eu tinha uma vida incrível, uns pais fantásticos que eram tudo para mim, uma casa grande de sonhos e maravilhosa. A minha vida era perfeita, tirando o fato de ninguém gostar de mim no colégio.
   Quando voltei em casa de autocarro, fui para a cozinha onde a minha mãe estava. Ela adorava cozinhar. Meus avós queriam que ela fosse médica, mas ela desistiu para ser uma chefe de cozinha. Já o meu pai, ele sempre gostou de economia, gestão de empresas, essas coisas. E a sua paixão passou a ser a minha também. Eu queria ser como ele.
   — Oi, mãe! — Sentei na ilha da cozinha e deixei a mochila por cima dela.
   — Porquê essa cara?
   — Porque ninguém gosta de mim. Não tenho amigos.
   — Isso é uma questão de tempo, Mia. Você é nova naquele colégio. Sabe o que pode ajudar você?
   — O quê?
   — Uma festa. Convida todos os seus colegas.
   — Não! Eu não quero uma festa. Além disso, o meu aniversário foi há uma semana e não aconteceu nada.
   — Tudo bem. Então, dê tempo ao tempo.
   — Vou pensar sobre o assunto. — Suspirei e peguei na minha mochila para ir ao meu quarto.
   — Seu pai vai trazer um amigo para jantar. — Ela disse quando percebeu que eu estava indo embora.
   — Que amigo? — Perguntei.
   — Vladimir! — Ela sorriu.
   Só de ouvir aquele nome, senti um frio na espinha. Eu sabia que os meus pais gostavam muito dele, mas havia algo que não me permitia gostar dele. Não sabia explicar, apenas sabia que quando estava perto dele, sentia que algo ruim ia acontecer.
   — Eu vou para o meu quarto, mãe. — Saí correndo.
   Fui para o meu quarto e fechei a porta. Eu não sabia como dizer para os meus pais o que sentia. Da última vez que ele esteve aqui, ele não parava de olhar para mim. Ele olhava para mim de um jeito muito estranho e ao mesmo tempo assustador.
   Talvez eu estivesse enganada. O que ele poderia querer? Eu tinha apenas catorze anos. E meus pais diziam sempre que ele era uma boa pessoa. Eu tinha que confiar nos meus pais.

   Durante o jantar, meu pai conversava com Vladimir sobre negócios. Eu não tinha muito apetite e queria me fechar no meu quarto o quanto antes. Queria inventar qualquer desculpa, mas não queria que meus pais ficassem bravos comigo.
   — Coma, Mia! — Minha mãe olhou para mim.
   — Não tenho fome. — Respondi. Automaticamente, Vladimir olhou para mim. E parece que meus pais não perceberam.
   — Você precisa comer. Como vai conseguir ficar de pé amanhã? — Ela continuou.
   Comecei a comer porque sabia que minha mãe não ia desistir até que visse o meu prato limpo. Mas como eu ia conseguir comer com o olhar de Vladimir? Eu tinha muito medo dele.
   — Como vai a escola, Mia? — Ele perguntou.
   Isso não interessa a ele. Porquê está perguntando algo que não lhe interessa? Ou será que está fazendo isso para ter uma desculpa para olhar para mim?
   — Vai bem. Os professores são ótimos. — Respondi sem vontade.
    — Devem ser. E você também é muito inteligente. — Ele sorriu e mordeu o lábio inferior.
    Olhei para os meus pais, mas não prestavam atenção no homem perigoso. Eles prestavam atenção na comida ou em mim.
   — Obrigada. — Disse para acabar com aquilo de uma vez.
   — Não precisa agradecer. — Ele piscou um olho para mim.
   — ... você terá que empregar muita gente. — Meu pai estava conversando com Vladimir enquanto eu tentava comer.
   — O que você tem? — Minha mãe perguntou baixinho para que Vladimir ou meu pai não ouvissem.
   — Nada. Não tenho muita fome. Amanhã tenho que ir para a escola de novo?
   — Claro que sim, Mia. Você vai se acostumar com tudo.
   Eu duvidava. Não gostava da nova escola, de ninguém. E para piorar, o grande amigo do meu pai parecia ser um psicopata.

    Fiquei no meu quarto estudando, no dia seguinte. Meus pais foram jantar fora e já fazia quatro horas desde que tinham saído. Não sabia se eles iam demorar mais.
   Meu pai disse que tinha uma surpresa para a minha mãe, então, talvez voltassem no dia seguinte. Eles mereciam essa noite para se divertir. Só que eu não gostava de ficar sozinha.
  Se eu fosse uma adolescente normal, eu iria dar uma festa sem os meus pais saberem. Mas eu não era normal. E eu gostava de ser diferente, mas era triste não ter amigos.
  Fui para a cozinha beber um copo de água, quando ouvi a campainha tocando. Não podiam ser os meus pais porque eles tinham as chaves. Tinha que ser outra pessoa.
  Eu abri a porta e vi um policial que era amigo do meu pai. Ele estava usando farda e estava com o carro. Porquê ele estava ali?
   — Boa noite! Posso ajudar, senhor Lopez? — Perguntei.
   — Não. Você está com alguém em casa?
   — Não.
   — É que... — Ele fechou os olhos. — Seus pais foram mortos. Encontramos eles dentro do carro. O carro estava machucado, o que indica que tiveram um acidente, mas eles também foram baleados. Eu sinto muito.
   — NÃO! — Caí no chão. Não queria ouvir mais nada. — PÁRA, POR FAVOR! — Cobri as minhas orelhas e comecei a chorar.
   — Mia! — Ele ajoelhou ao meu lado. — Eu sinto muito. Vamos achar alguém para cuidar de você. O tribunal irá nomear um tutor para você...
   — Não! Eu quero os meus pais. — Deitei no chão. — Por favor, traga os meus pais. Eu imploro!
   — Eu gostaria. Mas eu não posso. — Ele me levantou. — Vai ficar tudo bem.
   — Não vai. Eu quero morrer! — Chorei mais ainda. Não tinha forças para ficar em pé, por isso caí novamente no chão.
  Porquê alguém ia fazer mal a eles? Eles sempre foram boas pessoas. Quem será que fez isso? Quem acabou com a minha vida? Quem me destruiu?

Intensamente quebradosOnde histórias criam vida. Descubra agora