Se aquilo era verdade, eu não podia conversar com aquela mulher mas saber que ela me chamou de Jaguar e eu não estava ouvindo coisas me tranquilizou ainda mais, Dinah tinha me chamado assim o dia inteiro. Eu estranhei o novo apelido, mas ela era assim mesmo sempre me chamando de alguma coisa nova. Então se aquela mulher me chamou de Jaguar é porque definitivamente tem dedo da Dinah no meio, então isso significa que eu podia olhá-la certo? Eu estava muito curiosa mesmo mas também aflita, uma grande parte cética de mim mesma olhava para os saltos da mulher e pensava "alguma amiga da Dinah" mas uma pequena parte mística não conseguia não levar aquilo a sério, perdão pela dupla negativa.
— Você não vai conseguir me ignorar por muito tempo, você sabe não é? — disse a menina. Eu apenas dei de ombros e me sentei no chão do elevador encarando o hall a minha frente. Era um pouco escuro e eu só conseguia ver algumas portas, certo, então não existia só eu naquele lugar, não era algo sobrenatural.
— Você podia olhar para mim... — disse, eu senti outro sopro gelado perto do meu pescoço e novamente ela deu aquela gargalhada. Eu só queria voltar para a minha casa.
Ouvi os saltos da garota baterem no chão do elevador, ela andava em círculos. Não sabia exatamente o que ela queria, e já que aquele era o "mundo" dela porque ela não simplesmente saia de perto de mim e ia viver sua vida feliz? Me deixa em paz, caramba. Mas não... A garota queria conversar, queria puxar assunto comigo e, acima de tudo, queria que eu a olhasse. Eu nunca senti tanta vontade de voltar para casa. Eu não queria mais saber quem era aquela garota, ou porque a Dinah estava me enganando assim, não queria saber se esse ritual era uma verdade ou apenas um mito, eu só queria que o elevador voltasse a funcionar e eu pudesse relaxar a minha bunda no sofá pensando em quão louco foi esse dia, principalmente a minha noite. Fechei os olhos.
— Nossa, você foi a que mais demorou... — ela disse e eu não queria nem um pouco saber. Demorei para o que? Não importava se não fosse me levar para casa. — Não gosto muito dos que demoram...
Eu juro que se eu pudesse calaria a boca dela, mas sua voz me assustava um pouquinho, não vou mentir. Ela quase penetrava na minha alma, parecia entrar pelos ouvidos e grudar na minha cabeça e toda vez que ela voltava a falar o seu timbre só parecia aumentar mais e mais, aquilo estava me deixando tonta. Massageei as têmporas tentando afastar uma dor de cabeça, Dinah não podia ter escolhido atriz melhor só que essa garota parecia uma matraca. Não ficava quieta por um segundo e aquilo estava me estressando, poucas coisas me tiravam do sério e agora eu sabia que qualquer brincadeira da Dinah estava no topo da lista, eu odeio essas pegadinhas com todas as forças.
— Por que não fala comigo, Jaguar? Devia me olhar pelo menos, isso mostraria respeito. — a garota disse de maneira firme e eu podia apostar que até um pouco grosseira, ela parecia descontente.
O fato é que eu não falaria com ela por dois motivos, (1) se fosse uma brincadeira da Dinah, dar corda nesse nível não era muito esperto já que ela sempre tinha um truque na manga como fez com Ally e (2) se não fosse uma brincadeira, o site me alertava para não falar e nem olhar para ela então era isso o que eu ia continuar fazendo, mantendo meus olhos fechados até encontrar uma solução para aquele problema com o elevador. O que era quase impossível com aquela mulher tagarelando e andando de um lado para o outro com os seus saltos fazendo barulho e ecoando no corredor. Ecoando. Era isso! Eu podia ter pensado nisso antes!!
— Alguém me ajuda! — gritei enquanto ficava em pé no elevador novamente. — Eu estou presa aqui!
Estava a noite e muito quieto por ali, alguém ia ouvir e me ajudar, nem que fosse para voltar de escadas, eu só queria uma ajudinha. Repeti o meu grito várias vezes ouvindo a menina ao meu lado gargalhando.
— Como é tola... — disse e deu mais risada. — Não percebe que só tem nós duas aqui? Presta atenção, Jaguar. Foco, Lauren! — disse a última parte um pouco mais firme, eu apenas a ignorei e gritei mais uma vez. Não preciso esconder ao dizer que eu tomei sim um susto quando senti o seu corpo avançando contra mim tampando a minha boca, ela era muito fria, quase gelada, e o gelo de sua mão em contraste com a minha boca e bochechas que estavam quentes me trouxe mais calafrios. Eu fechei os olhos com força assim que a senti avançar para calar a minha boca. Eu nunca senti tanto medo.
— Ninguém vai te ouvir entendeu? NUNCA MAIS ALGUÉM VAI TE OUVIR. — ela disse com a voz firme e da maneira grossa com a qual acabaria me adaptando. E eu cometi um erro grave, eu mordi a mão da garota. Ela começou a me xingar, pelo menos eu achava que era, não entendia que língua era aquela, não parecia inglês e depois de um tempo, como se nada tivesse acontecido, ela começou a gritar, gritava tão alto e com uma voz tão aguda que eu pensei que meu cérebro fosse explodir. Não era um grito de dor, nem de felicidade, ou de susto. Era um grito porque ela queria gritar.
— Dá pra calar a porra da boca? — disse abrindo os olhos e encarando a mulher ao meu lado.
— Assim é bem melhor... — ela respondeu imediatamente me encarando de volta, seus olhos mudaram rapidamente de um marrom para um vermelho intenso que brilhava. — Eu espero ser o seu pior pesadelo... Mas você também pode me chamar de Camila.
Ela sorria.
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O ritual do elevador
FanfictionNo meio de uma partida de verdade ou desafio, Dinah acaba desafiando a sua melhor amiga Lauren a concluir o ritual do elevador. Mesmo acreditando que isso era só mais um daqueles rituais creepypasta, ela sai de casa determinada a concluí-lo. Porém...