Desd

804 92 27
                                    

Eu tinha olhado, eu era uma anta. Bastava fechar os olhos mais um pouquinho, ou aguentar até que ela parasse de gritar, perdesse a voz, eu não ligava nem um pouco, era o que eu mais desejava, queria que ela ficasse rouca e não falasse mais comigo, era o meu sonho. Mas agora que eu olhava para ela eu podia exigir respostas, podia perguntar porque ela tava junto com a Dinah naquilo tudo, o que eu não tinha percebido na hora é que ela não estava com a Dinah naquilo tudo, nem tinha dedo da Dinah naquilo, foi só uma terrível coincidência, mas mesmo assim perguntei.

— Por que você e a Dinah estão me assustando? — ela riu e negou com a cabeça, seus olhos voltavam a ser marrons. Ela usava uma calça preta e uma regata igualmente da mesma cor, era elegante, tinha o corpo esguio e unhas grandes também pintadas de preto. Ela era praticamente a definição da cor preta já que tudo nela tinha essa cor, menos seus cabelos, eles eram marrons com leves ondas.

— Porque é divertido... Olha só. — ela assoprou o meu rosto e eu descobri que onde vinha o vento gelado que sempre atingia meu pescoço. Fiquei arrepiada e fechei os olhos. — E porque você me chamou...

Eu a chamei? Eu nem conhecia alguém chamada Camila. Carina sim, Catrina também e até uma Camile, mas nenhuma "Camila". E eu disse isso a ela, assegurei que não a conhecia então não podia ter a chamado, era impossível demais.

— Não me conhece mas ainda sim me chamou... — ela revirou os olhos e sentou na divisão do elevador e do hall. O elevador começou a fazer aquele barulho de quando você está segurando ele para não sair do andar e ela pareceu não se importar. Mas eu sim, aquele barulho era irritante como todo o resto da situação.

— Da pra parar de fazer esse barulho?

— Por que eu pararia? Te irrita? — ela me olhou com os seus olhos trocando de cor novamente, aquilo era no mínimo assustador. Quem na vida tem os olhos vermelhos brilhantes?

— Sim, me irrita. — disse me sentando encostada na parede do elevador.

— Ótimo. — ela deu de ombros e continuou sentada ali, não moveu um partezinha do corpo dela. Ela tinha o dom de me estressar e me deixar com dor de cabeça. E essas duas coisas juntas era uma combinação horrível, eu odiava aquela situação. — Quer ver algo que eu sei fazer?

— Não. — respondi e ela deu aquela gargalhada cortante. Eu soube ali que não importava a minha resposta ela faria do mesmo jeito.

Camila levantou e continuou no meio do elevador, ela fechou os olhos e o barulho pareceu aumentar mais. Tampei meus ouvidos e pude notar a garota sorrindo, ela parecia movida a minha dor e aquilo era estranho demais. O barulho foi aumentando e ela continuava de olhos fechados, mais alto e mais alto a cada segundo e eu estava prestes a gritar para ela parar o que quer que estivesse fazendo quando toda a pouca luz que existia ali apagou. Como se todas as pequenas lâmpadas tivessem explodido ao mesmo tempo sofrendo de algum tipo de curto circuito. O barulho parou e eu pude ouvir a Camila dando risada, sua gargalhada parecia preencher todo o espaço do elevador e depois foi ecoando pelo hall. Como ninguém acordava? Como ninguém estava ouvindo tudo aquilo?

— PARA, CAMILA! PARA! — eu gritava com ela e o som da sua risada só aumentava, ela parecia estar realmente se divertindo com toda aquela situação. Eu não enxergava nada, nem mesmo a palma da minha mão na minha frente. Fechei forte os meus olhos, aquilo só poderia ser um sonho. Um sonho não, pesadelo, que parecia não tem um fim.

Eu precisava encarar aquilo, eu ia passar pelo corredor do hall e iria descer pelas escadas gritando por qualquer ajuda. Qualquer pessoa era melhor companhia do que a Camila. Abri os olhos e vi dois pontos vermelhos me encarando, era Camila na minha frente, ela ainda estava ali. Era a única "luz" que eu podia ver, e eu só queria toda a energia de volta. Fiz outra coisa de que me arrependeria para sempre, mas na hora parecia muito sensato. Olhei para a garota na minha frete e disse:

— Eu não tenho medo de você! — péssima ideia, Lauren. Você é cheia de péssimas ideias. Camila parou de gargalhar na hora e eu pude ouvir outro som de lâmpadas explodindo, mas por algum motivo dessa vez a luz voltou. Tudo estava muito claro e eu não conseguia manter meus olhos abertos, eu era muito sensível a luz.

— Você não tem ainda. — ela disse com uma voz num tom nervoso e sussurrando. Eu entendi a besteira que tinha feito porque, com um grito ela fechou a porta do elevador, estourou todas as lâmpadas que tinnha dentro dele e eu senti vários cacos de vidro caindo na minha pele, o resto das lâmpadas. Eu estava presa, no escuro.

Aquilo não podia piorar.

O ritual do elevadorOnde histórias criam vida. Descubra agora