camilaédinah.

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Camila foi para o lado e eu abri a porta pesada que dava para o hall. Dei um passo a frente e conseguia ver Dinah, ela sorria para mim mas fez uma careta quando notou todos os cortes e o sangue seco na minha testa.

— Jaguar? Deu certo? — ela disse com uma alegria doentia. Ela parecia muito mais preocupada em saber que o seu desafio inútil tinha dado certo do que com o fato de eu estar acabada e dolorida. Mas tudo bem, aquilo não importava pra mim.

— Deu. — respondi percebendo que minha voz estava ficando um pouco rouca, talvez fosse uma reação tardia de tanto gritar com Camila. Eu ainda estava quente.

Ela sorriu, Camila saiu de onde estava "escondida" e foi aí que minha ficha realmente tinha caído. Entendi porque a Camila insistia em dizer que eu a tinha chamado e, de certa forma eu tinha mesmo feito isso, já que tinha convidado Dinah para a minha casa. Eu tinha permitido que ela entrasse muito tempo antes de realmente saber que ela existia. Foi mais rápido do que esperar uma lâmpada acender quando você aperta o interruptor. Parte da Camila era parte da Dinah e eu não conseguia entender direito como eu sabia aquilo mas eu sabia. E sabia que tinha caído numa grande brincadeira de mal gosto de suas partes misturadas. Camila se abaixou ao lado da Dinah e sorriu para mim, seus olhos brilhavam intensamente, não eram vermelhos, ela não parecia irritada ou não queria ser intimidadora, então mantinha seus olhos marrons, os de Dinah brilhavam igualmente, ambas me encarando com um sorriso estranho enquanto eu processava o que estava realmente acontecendo.

— Quando? — foi o que eu consegui perguntar para Camila ou para Dinah, eu já não sabia com quem deveria conversar sobre esse assunto.

— Dinah me chamou quando começaram aquela onda de jogar sehzuij nas escolas...

— Eu ia alcançar um nível tão alto por entrar em contato com a ela que nada mais importava naquele momento...

— Foi quando você humilhou a Ally. — eu disse meio incrédula, meio admirando a coragem que Dinah tinha, não de humilhar alguém, aquilo era horrível de qualquer maneira, mas admirando a coragem dela de jogar algo tão sombrio.

— Ela foi apenas um sacrifício, Jaguar... Eu precisava daquilo pra conseguir pontos! — disse Dinah, se exaltando um pouco mas sendo acalmada apenas pela Camila lhe lançando um olhar, ela parecia querer que aquele momento fosse calmo e paciente.

— Você nem ligou quando ela morreu... E ela deixou aquela nota pra você!

— Não foi pra ela, foi pra mim... — Camila me encarou percebendo que eu não estava entendendo mais nada. Aquilo era loucura e eu sabia que tinha dedo da Dinah no meio, desde o começo eu sabia! E pra que? Pra conseguir pontos pra um maldito jogo que servia para entreter um demônio.

— Pra você? — eu me sentia esquentar toda vez que a Camila falava e eu notava que ela estava com dificuldade de manter seus olhos humanos. O vermelho queria cintilar.

— A Dinah me chamou para conversar com a Ally também... E você pode pensar que sim, mas Ally não era nem um pouco santa. — cruzou os braços com o seu ar soberbo.

— Eu não quero saber, Camila. Você fez alguém se matar, vocês duas fizeram...

— São só as regras do jogo... — Dinah disse como se uma vida não tivesse sido perdida.

— Você está louca! — eu gritei para a pessoa que eu achei sempre ter conhecido. Sabia que ela tinha um pé no sobrenatural, mas não sabia que faria realmente de tudo por ele. — E eu? Fui só mais um peão?

— Você pode ser muito mais que isso se quiser jogar comigo... — Camila sorriu um sorriso travesso. Eu encarava ela e acabei ficando um pouco desnorteada. O seu sorriso era tão convidativo mas o seu propósito era tão desumano... Porém a intenção era o que valia não é? E a intenção era ruim. Era péssima. Dinah também me encarava encorajadora e eu não soube exatamente quando eu estava na posição de tomar uma decisão mas sabia que estava. E era uma decisão importante.

— Eu não... Eu não vou jogar! — respondi, nem eu acreditava em mim mesma. Minha voz estava esganiçada, eu parecia um pato falando. Eu estava me achando tão confiante antes. Podia ver que a Camila estava perdendo a paciência e que aquele jogo era muito importante pra ela. Eu não queria saber as regras e nem como jogá-lo, só queria ser deixada em paz.

— Poderíamos ser uma dupla tão... Poderosa! — Camila se levantou e veio até mim, eu sentia o calor que emanava de seu corpo e sabia que tinha algo de muito errado comigo. Não sei como mas sabia que era obra da Camila, era quase como se eu estivesse enfeitiçada por ela naquele momento. E vou admitir, não era tão ruim assim... — Você e eu? Donas daquele jogo... Isso ia ser tão excitante!

— Você tem que aceitar! É ela te pedindo! — Dinah me olhava como se fosse realmente uma obrigação. Era Camila me pedindo!

— Eu sei que você sente... Você é especial... — Camila sorriu para mim e não deixou de brilhar seus olhos vermelhos, ela estava de volta. Se ela se referia ao calor que vinha toda vez que ela dizia algo, ela estava certa, eu estava sentindo algo e estava completamente quente. — E eu posso dizer que não vai passar...

Aquela coisa que começou como algo quente aumentou um pouco. Ela estava controlando a temperatura do meu corpo? Eu não sabia exatamente se era isso, mas se fosse era até legal. Camila era incrível, eu conseguia ter essa visão, mas ela era diabolicamente incrível, o que era ruim. Mas naquela hora eu só pensava no quão bonita ela estava naquela roupa preta. O calor aumentou e eu pude ouvir a risada da Camila e da Dinah ecoando juntas, elas pareciam bolando alguma coisa e aquilo não era nada bom. O calor aumentou e eu já sentia gotas de suor descendo pelas minhas costas, era agoniante e pegajoso. Passei a mão na testa sentindo uma pontada de dor devido ao corte que o vidro tinha feito ali e enxuguei as gotinhas de suor.

— Como você faz isso? — perguntei a Camila.

— Primeiramente: você olhou pra mim, eu já tinha todo o poder sobre você ali... — ela riu e o som se transformou em algo maldoso. Quanto mais ela ria, mais o calor se intensificava, eu não estava gostando nada daquilo.

— Camila, eu vou passar mal! — disse começando a me abanar, estava insuportável.

— Não vai ser divertido? — ela olhou para Dinah e eu pude ver incertezas nos olhos da garota que sempre foi minha amiga.

— Eu realmente acho que você está machucando ela... — ela disse.

— Isso é o que eu quero. Ou ela vai ficar presa no próprio inferno ou ela vai jogar comigo. — Camila respondeu rindo e segurou na mão da Dinah. — Ela não vai aguentar pra sempre se você também estiver em jogo.

Ela disse e eu pude ver Dinah revirando os olhos, o que quer que a Camila tenha feito ao segurar sua mão tinha a machucado, eu podia ver que ela estava segurando uma careta de dor. Seu corpo foi ficando mole feito gelatina, vi suas pernas ficando bambas e ela fechou os olhos com força. Parecia tonta demais e sem ter onde se apoiar. Eu me apressei para segurá-la pois tinha certeza que ela iria desmaiar, não bateria a cabeça com força porque já estava sentada mas ela podia realmente se machucar. Porém, cada passo que eu dava o calor aumentava e eu mesma não estava conseguindo suportar. Logo ela estava caída no chão, imóvel.

— Eu jogo com você... — disse sem forças a Camila e logo eu também estava caída no chão.

Meus olhos fecharam, eu bati a minha cabeça e tudo ficou escuro.

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hoje é véspera de natal e como presente eu vou fazer uma maratona pequena e amanhã eu vou postar mais um capítulo como presente mas eu preciso da ajuda de vocês, eu posto todos os capítulos direto ou dou um intervalo entre um e outro? :)

O ritual do elevadorOnde histórias criam vida. Descubra agora