Elan

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— Okay, Jaguar, verdade ou desafio? — perguntou Dinah pelo o que parecia ser a milésima vez naquela madrugada. Estávamos tão entediadas e já brincávamos daquele jogo a horas.

— Hum... Certo, desafio. — respondi e eu juro que se arrependimento matasse esse seria o momento que Dinah Jane declararia a hora do meu óbito.

— Tá, eu te desafio a fazer o ritual do elevador. — disse assim, na lata, e eu acho que vocês entenderam porque eu teria morrido de arrependimento. Não brinquem com quem está quieto, crianças. Porém, naquela hora, era só algo engraçado, um ritual? Sério, Dinah? Em que mundo você vive?

— Ritual do elevador? — respondi rindo, e eu juro por Deus que só deveria ter dito não e ter seguido a minha vida com a Dinah me zoando por ter amarelado. — Como é esse ritual?

E eu posso te dizer que é assim que a minha história começa, sem "era uma vez", sem "num belo dia", sem apresentações, apenas eu e Dinah jogando verdade ou desafio. E como eu fui tola em perguntar como era aquele ritual, como eu fui tola em pedir desafio. Mas claro, naquela hora era tudo uma brincadeira, era algo meio creepypasta, sem fundamento e sem provas de que era algo verdadeiro. E eu tinha achado engraçado, um ritual do elevador? Era bem interessante. E é apenas o agora que interessa para essa narrativa, vamos em uma ordem cronológica certa. Dinah pesquisou sobre o tal ritual e me mostrou as regras.

— Certo, começa aqui... O que você precisa: — começou lendo. — um prédio com 10 andares ou mais com um elevador. Por sorte você mora em um com 13 andares, Jaguar... Entre no elevador sozinha e aqui diz que o elevador deve estar vazio também. — olhou para mim pra ver se eu acompanhava sua leitura. — Quando entrar no elevador, siga a ordem: aperte primeiro o botão do 4° andar, depois 2º andar, 10º andar e lembre-se que ninguém poderá entrar em nenhum desses andares se não o ritual será desfeito... Quando você chegar ao 10°, pressione o botão do 5º andar sem sair de dentro do elevador.

— Vou precisar anotar tudo isso... — respondi dando risada do quanto aquilo parecia oficial demais.

— Quieta, Jaguar, não acabei... Quando você chegar no 5º andar, uma mulher jovem vai entrar e irá acompanhá-la no elevador. Em hipótese alguma fale ou olhe para ela. Depois que a mulher entrar, pressione o botão do 1º andar, o elevador vai levá-la até o 10 º andar, em vez de levá-la para o térreo. Importante: você poderá apertar os botões dos outros andares, assim você não completará o ritual, mas também essa será a sua última chance de desistir do mesmo. Há apenas uma maneira de verificar se você foi bem sucedido no ritual ou não: o mundo que você chegou deve ter apenas uma pessoa, ou seja, você. Eu não sei o que acontece depois que você chega lá. Mas posso dizer uma coisa, a mulher que entra no elevador no 5 º andar não é humana.

— Certo, então eu vou me encontrar com um espírito?

— Não brinca com isso, Lauren! — respondeu Dinah, mas eu conseguia ver que nem ela mesma acreditava naquilo. — Um primo do namorado da melhor amiga da minha irmã conseguiu completar o ritual, ninguém sabe como mas ele voltou e não consegue contar a ninguém o que ele viu por lá...

— Okay, okay, Jane... Você já pode escrever uma história... Vamos completar logo esse ritual.

— Vamos? Você vai sozinha, não prestou atenção nas regras?

— Então você está amarelando por causa de umas regrinhas bestas de um blog que você aleatoriamente achou na internet? Nem tudo o que está na internet é verdade sabia?

— Como você é idiota, claro que eu sei... — disse dando gargalhadas. — Mas esse é o seu desafio, não o meu... Então vai cumpri-lo sozinha.

— Tá bom... — eu revirei os olhos e peguei um papel para anotar a ordem dos andares.

"4° - 2° - 10° - 5° (mulher! não falar e nem olhar pra ela) - 1° (vou para o 10°, última chance de desistir: só apertar qualquer botão)"

— Você também está levando muito a sério... — Dinah disse e me deu um empurrãozinho com o ombro. Dei de ombros e apenas ri mais um pouco, se era para aquilo ser um desafio então eu ia encarar com seriedade. — E nada de me enganar... Tem que seguir direitinho todas as instruções...

— Se isso vai fazer você feliz, Jane... — respondi.

— Ah, você não tem noção do quanto...

Dinah era realmente uma garota esquisita, ela era muitas vezes maluca e eu não ligava porque, acima de tudo, ela era a minha melhor amiga e sempre fora, desde a 2° série. E não sei o que deu na minha cabeça em não perguntar como ela tinha descoberto a existência daquele ritual, acho que foi pelo fato de ela sempre estar me contando sobre alguma coisa sobrenatural e dar risada mas também levar tudo aquilo a muito sério, só sei que não o fiz, não perguntei e agora me arrependo mais uma vez.

Hora do óbito? 2:54 da manhã.

O ritual do elevadorOnde histórias criam vida. Descubra agora