laurenécamila.

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Eu acordei com uma forte dor na cabeça e amarrada numa cadeira. Mas eu posso garantir que nada mais me assustava nesse momento da história. Estar amarrada talvez tenha sido uma das coisas mais simples que tinha me acontecido. A luz estava acesa e brilhava intensamente, meus olhos não estavam acostumados com aquele brilho. Olhei ao redor e os meus olhos não estavam acostumados com nada ali, era tudo muito claro, tudo muito branco. Tentei levantar minha mão para proteger meus olhos, mas as amarras eram muito fortes e aquilo só me deixava com dor.

— Camila? Dinah? — eu gritei. Mas nada de ter uma resposta, eu parecia estar sozinha ali. — DINAH? — tentei novamente, minha amiga estava machucada, eu precisava saber se ela estava bem. No meio de toda aquela sala incrivelmente branca e impecável, eu notei uma maçaneta se mexer. Alguém estava abrindo a porta e eu estava um pouco confusa e desesperada.

— Fico feliz que tenha acordado, senhorita. — uma moça entrou naquele quarto sorrindo docemente para mim. Eu deveria conhecê-la?

— Me desculpa, onde eu estou? Você sabe onde a Dinah está? Ela estava caída no chão, provavelmente bateu a cabeça...

— Me disseram que seria difícil mesmo... — a mulher se aproximou de mim e me olhou. — Como você está se sentindo?

— Olha, eu não sei quem você é, nem onde eu estou, então eu não estou me sentindo nada bem... Eu preciso voltar para minha casa e lidar com um demônio, a Camila. — eu disse sem me preocupar que talvez aquela história fosse louca demais.

— Eles não podem me ver, bobinha... — disse uma voz. Camila? Dentro da minha cabeça. Eu estava confusa.

— Quem disse isso?

— Isso o que? Você está se sentindo bem, senhorita? — a moça colocou a mão na minha testa como uma mãe faz para medir a febre de uma criança. — Oh, céus, como você está quente!

— Quem é você? QUEM É VOCÊ? — eu gritei com a mulher, que deu uns passos para trás possivelmente assustada.

— Carl? Você pode vir me ajudar? — ela disse para um aparelhinho.

— Onde eu estou? ONDE EU ESTOU? CADÊ A DINAH? FAZ ELA PARAR! EU NÃO AGUENTO MAIS VOCÊ, CAMILA! — a moça me olhava com pena. — NÃO PRECISO DA SUA DÓ. — disse amargamente para ela, ainda ouvindo a voz da Camila na minha cabeça, insistente. Eu estava ficando louca.

— Carl? É muito importante aqui. — chamou novamente.

— EU QUERO MAIS É QUE O CARL VÁ SE...

— Lauren? — uma voz grave me interrompeu. E um homem corpulento apareceu na minha frente, o encarei com certa raiva, não sei se era exatamente direcionada a ele. — Lauren, como você está, querida?

— Você é o Carl? Certo, não importa. Onde está a Dinah? Onde diabos eu estou? Quem é ela? Quem é você? CALA A BOCA, CAMILA. — disse sem saber onde ela realmente estava na minha cabeça.

— Lauren, vamos nos concentrar certo? Isso já aconteceu outras vezes... Você sabe que não existe nenhuma Camila, eu já te expliquei... E Dinah? É triste, eu sei, mas ela morreu faz três semanas.

— Não. Não tem como, ela estava comigo antes de... Antes de eu bater a cabeça. Eu posso provar... Eu posso provar que estive com a Dinah é só ir até o meu apartamento, você vai ver as coisas dela lá, ela ia dormir lá!

— Ninguém te escuta... — eu ouvia Camila dando sua gargalhada.

— Eu te disse, Carl... Disse que ela estava piorando.

— Aretha, não falamos desse jeito na frente deles... — Carl a olhou com um pouco de raiva. — Lauren, querida, você não mora em um apartamento.

— Como não? Moro sim! No 7° andar... AH, MEU DEUS, CAMILA, CALA A BOCA. — eu tentei arrancar as amarras no meu braço a força, eu precisava bater na minha cabeça e ver se aquilo ia funcionar para fazer ela parar. Como só eu a ouvia fazer tanto barulho?

— Certo, Lauren, eu vou precisar chamar a sua médica, eu sou apenas um enfermeiro... Acho que uma boa conversa com a doutora vai te fazer bem...

— Doutora? Como assim? Onde eu estou?

— Senhorita, você está no St. Estrapon.

— Eu estou num hospital? — disse me acalmando mais. Se eu estava num hospital, por que as amarras?

— Não, querida. Isso aqui é uma instituição para tratar de transtornos mentais. — disse Carl, parecendo entediado de ter que explicar aquilo de novo. Mas aquilo na fazia nenhum sentido. Eu estava em casa. — Eu vou chamar a doutora, fique com ela por um segundo, Aretha.

Eu não estava entendendo. Era algum tipo de pegadinha? Onde estava a Dinah? Ela não tinha morrido com uma quedinha daquelas. Será que eu tinha ficado em coma e só acordado agora? Descartei essa opção com facilidade quando notei que não tinha nenhum aparelho ligado a mim naquele quarto. Existia apenas essa cadeira em que eu estava sentada, suas amarras e uma cama que parecia muito confortável. Sem janelas, sem mesinhas para almoço e janta. Aretha me encarava com um pouco de medo e dó. Seu olhar dizia "pobre, Lauren". E Camila continuava falando na minha cabeça, ela era como um pensamento que eu não conseguia controlar. Carl voltou com a doutora, seus saltos batiam no chão, ele chamou Aretha e os dois se retiraram.

— Deus te abençoe. — ela disse antes de sair da sala.

— Então, como está se sentindo? — ela me perguntou e puxou uma cadeira com rodinhas para a minha frente. Eu a encarei e gelei.

— Ally? — perguntei sem desviar o olhar daquela mulher. — Isso não é possível. Você morreu.

— Posso te garantir que estou muito bem viva. Assim como não existe nenhuma Camila, o Carl me contou. E eu sinto muito pela Dinah...

— Você não é real.

— Isso vai ser mais difícil do que eu pensei, estávamos progredindo na semana passada, Lauren...

— Não tem como você ser minha médica. Você era mais nova que eu. Você morreu! Você se suicidou e a culpa era da Dinah, me desculpe por nunca ter te ajudado. Ai meu Deus, eu morri também?

Ela me encarou, abotoou o seu jaleco e pegou um bloco. Fez algumas anotações e me fez contar como tudo exatamente tinha acontecido. Mesmo não aguentando Camila gritando e dando risada na minha cabeça, mesmo não suportando seu olhar de pena e o fato dela parar para anotar tudo o que eu falava, eu contei. O que estava acontecendo exatamente eu seria capaz te de dizer agora, mas na hora era só loucura. Eles achavam que eu estava louca, resumindo tudo o que Ally tinha dito em poucas palavras. E ela era psiquiátrica, nunca estudamos juntas segundo ela e definitivamente ela me assegurou nunca ter pensado em suicídio.

O que estava acontecendo?

O ritual do elevadorOnde histórias criam vida. Descubra agora