- Eu tô tão feliz que vamos jogar! - Camila bateu palmas e ela parecia tanto com uma criança. - Você finalmente vai se curvar a mim e vamos ser poderosas juntas... Por que demorou tanto?
- Não vou me curvar a você. - respondi revirando os olhos. Eu não tinha mais medo dela, já sabia que morreria de qualquer jeito. Ou da maneira literal, ou parte de mim morreria.
- Claro que vai. - ela abriu a caixa e me mostrou um tabuleiro que tinha apenas várias casas coloridas na borda, no centro tinha um grande K escrito. Parecia bastante com um tabuleiro de xadrez.
Ela tirou umas peça e alguns pedaços de papel, arrumou tudo e me pediu para escolher uma das peças. Eu te juro que se eu pudesse eu saia dali, mas eu estava presa e já tinha entendido tudo o que aquele demônio era capaz de fazer comigo e com a minha vida. Além de conseguir entender que eu já estava conectada a ela de alguma maneira, ela mesma me disse que tinha controle do meu corpo desde quando eu a olhei, e quando ela me fez esquentar eu pude notar que Camila realmente tinha um poder sobre mim nas palmas de suas mãos. Reparando em todos os personagens em cada peça, escolhi um que parecia ser uma pessoa comum com um par de asas. O demônio me olhou sorrindo, parecia que a minha escolha tinha lhe feito feliz.
- Então, podemos começar... Você tem que chegar aqui e pode andar cada vez que completar uma missão, elas também valem pontos.
- Eu não quero enrolar, qual é a missão que me dá mais pontos? Quero acabar com isso logo! - a encarei com raiva.
Ela deu um sorriso largo e esquisito, com os olhos escarlates brilhando para mim. Camila mexeu nos pedaços de papel, escolheu um que parecia o mais novo de todos e leu apenas algumas palavras para mim. Meu corpo se estremeceu mas a ideia não parecia ser tão assustadora quanto eu pensava, parecia até plausível e eu soube que parte de mim já estava perdida a mais tempo do que eu imaginava. Eu sentia algo como ódio passando pelas minhas veias e esse é o jeito mais simples que eu posso achar de descrever o momento. Minha cabeça parecia partida em dois e cada parte pensava de um jeito diferente.
- Junte-se a Kamah. - ela leu novamente com sua voz ecoante e, céus, eu estava perdida porque já estava começando a sentir falta daquele eco. Parecia uma abstinência da presença de Camila.
- Kamah? - a encarei, mantendo a minha sanidade enquanto eu podia.
- Um demônio. Um demônio divertido e brincalhão, além de muito sexy, que adora jogos e a cor vermelha. Lhe é familiar? - ela deu a sua gargalhada costumeira.
- Você é Kamah? - rebati com amargura, sem saber se eu estava realmente surpresa em entender que ela era realmente um tipo de demônio.
- Muitos nomes pra muitas pessoas... Kamah talvez seja o mais antigo de todos. Kamah, Kamuahe, Karha, Kalira, Karla, Camalah, Camila.... - ela disse por fim e riu. Eu gostaria de saber como era ter vários nomes.
- Juntar-se a você em que?
- Uma nova ordem... Preciso de cinco pessoas para concluir isso, já tenho duas e, comigo, formamos três. Preciso de você, Jaguar.
- Quem são as outras duas? - perguntei com firmeza, agora eu fazia as perguntas ali.
- Dinah e Ally.
- Mas você a matou!
- Ally? Não, não... Fizemos parecer ser suicídio, ela está junto com a Dinah agora, provavelmente explicando para ela onde vamos depois daqui... Aliás, esse mundo me enjoa, podemos acabar logo com isso?
- Por que nós?
- Fácil, eu preciso de alguém firme... Essa é você... - ela me olhou sorrindo. - Preciso de alguém manipulável, - "Ally" eu pensei. - de alguém fiel - provavelmente Dinah - e de alguém que seja criativo...
- Você não sente sua consciência pesada?
- Vocês vieram até mim porque quiseram... - respondeu dando de ombros.
- Você fala como se tivesse me dado escolha... - revirei os olhos. - O que significa uma nova ordem?
- Como você é tola... Muito, muito tola. Gosto disso. - ela gargalhou e depois me encarou. - Vamos fazer o possível para influenciar as decisões dos humanos na Terra, para quando chegar a hora de sua morte, o Inferno ser o seu lugar, não o Céu... - ela praticamente cuspiu a palavra "céu". - Eu vou ter várias pessoas para brincar e não vou mais ter que implorar pela atenção do meu pai...
- Espera! O seu pai? - a encarei tentando processar e foi aí que a minha ficha caiu. - Lúcifer é o seu pai?
- De onde acha que vieram os olhos? Com certeza não puxei da minha mãe...
- Você é tipo o demônio mais forte!
- Não... Lúcifer é. Eu só serei forte com as minhas cinco pessoas. Quatro sacrifícios em meu nome, quatro companhias para mim e eu posso ser a próxima rainha do inferno...
Eu a olhei, esperando que lhe desse um ataque de raiva e ela viesse para cima de mim me obrigando aceitar, mas Camila parecia inofensiva. Ela só me encarava com seus olhos vermelhos e parecia me encorajar a tomar uma decisão. Eu tinha plena consciência de que só tinha uma para tomar e, por isso, ela não parecia preocupada com que eu pudesse tomar a errada. Eu não tinha saída, eu não conseguiria minha vida de volta mas faria um feito extraordinário. Eu ouvia um cochicho dentro da minha cabeça que, provavelmente, era Camila mas não me incomodava mais. Na realidade, ter a voz dela me dava um certo alívio.
- Como me junto a você? - perguntei. Eu tinha feito a minha escolha dessa vez, sem truques, sem gracinhas. Eu ia reinar com a Camila.
Ela me olhou sorrindo, parecia realmente alegre e se levantou, eu fiz o mesmo, pois parecia o certo a fazer. O demônio segurou nas minhas mãos e deixou seus olhos brilharem mais do que eu já tinha pensado ser possível, ela estava quente e transmitia o calor para mim. Camila se aproximou e encostou seus lábios no meu, aquele talvez tenha sido o beijo mais esquisito e maravilhoso de toda a minha vida. Eu apenas retribuí e me deixei levar, estávamos quentes e não era insuportável dessa vez. Fechei o olhos aproveitando o momento e por um segundo, se eu esquecesse tudo o que tinha acontecido, esse momento parecia certo e predestinado. Eu deveria fazer aquilo, era quase como se o destino tivesse me colocado naquela situação e ele já soubesse desde o começo que eu iria aceitar. Quando ela se separou, eu me sentia a mesma porém com um laço ligado a Camila, parecia que estávamos finalmente conectadas. Abri os olhos encarando o lugar que estávamos e não me surpreendi quando me vi no hall do meu apartamento. Dinah e Ally nos esperavam na porta sorrindo largamente como o sorriso de Camila. Eu me virei para Camila e ajoelhei em sua frente. Ally e Dinah também se ajoelharam para se curvar ao ser que era milhares de vezes soberano a nós.
- Podem se levantar... - ela respondeu quase se divertido com aquela cena e nós saímos de nossa reverência ficando novamente de pé.
- Nós temos a quarta? - Ally perguntou e eu sabia que ela se referia a mim. Camila assentiu e eu pude ver seus olhos brilhando, eu era uma conquista para ela.
- Precisamos da quinta.
- E quem é ela? - Dinah perguntou.
- Normani. Normani Kordei. - respondeu Camila.
- Vamos atrás dela? - eu pude notar a minha voz voltando a ser rouca e sentindo que a quentura do meu corpo estava sendo direcionada aos meus olhos. Seria tão incrível que eles tivessem o brilho escarlate de Camila.
- Vamos. - ela sorriu.
Foi andando comigo ao seu lado enquanto Ally e Dinah nos seguiam. Iríamos atrás de Normani, seja ela quem fosse e ela ia amar juntar-se a nós.
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O ritual do elevador
FanfictionNo meio de uma partida de verdade ou desafio, Dinah acaba desafiando a sua melhor amiga Lauren a concluir o ritual do elevador. Mesmo acreditando que isso era só mais um daqueles rituais creepypasta, ela sai de casa determinada a concluí-lo. Porém...