Seja o que Deus Quiser

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P.O.V ALICE

Boa noite,

Como foi seu dia hoje? Espero que tenha sido melhor que o meu. Fui ofendida, demitida e ainda agredi um maluco. Eu sei que você me disse para ser forte mas é que as vezes eu só sinto vontade de desistir de tudo, o aluguel está atrasado minha faculdade está por um triz e o Maicon está na mesma. Então como eu posso ser forte quando tudo na minha vida parece ir de mal a pior? Sem você aqui para me apoiar me sinto sozinha no mundo e eu sei o quanto sou egoísta por querer que você carregue todos os fardos comigo, então que Deus me perdoe mas eu queria tanto ter você de volta.

Te amo.

Guardo a carta junto com as outras, antigamente todas as minhas cartas eram respondidas pela mamãe. Mas agora sou apenas eu. E não, eu não sou louca por escrever cartas para alguém que nunca irá ler porque está morta. Mas foi o jeito que encontrei para me sentir mais perto dela de alguma forma. A história das cartas começou quando eu tinha uns oito anos, minha mãe tinha dois empregos para manter a casa então eu não a via com frequência, na verdade eu a via uma vez por mês que era no nosso dia de garotas, eu tive a ideia de começar a contar tudo sobre o meu dia a ela de forma escrita, assim quando ela chegava do trabalho ela saberia como foi meu dia longe dela e quando eu acordava tinha uma resposta as minhas cartas, ela também me contava como havia sido o dia dela e sempre me dizia o quanto me amava. Maicon nunca foi do tipo que se importava com a família realmente, mas eu sei que do jeito dele ele também a amava.

Me chamo Alice Ferreira, tenho vinte anos, estou prestes a perder o lugar onde moro, a bolsa da faculdade e agora estou desempregada graças a um maluco perseguidor. Já pensei tantas vezes em desistir mas aí lembro da minha mãe, de tudo pelo que ela já passou e de como ela era forte. Faço tudo para que ela sinta orgulho de mim onde quer que esteja.

Olho para a minha geladeira praticamente vazia e pego a última caixa de leite que tem, vasculho em busca de algo que dê para comer e acho um pão de forma.

- Isso vai ter que servir até amanhã de manhã.- Sim, eu falo sozinha. É o que acontece quando você passa a maior parte do tempo sozinha.

Depois de comer limpo onde sujei e vou para o quarto que consiste em uma cama de solteiro e um armário para guardar minhas roupas. No geral minha casa é minúscula, mal cabe eu, mas é bem limpinha e organizada.

O que eu vou fazer da minha vida agora? Por que aquele cara tinha que cismar logo comigo? Por que existe gente assim no mundo? Tudo bem que ele é a personificação de um deus grego em pessoa, têm aqueles olhos azuis que parecem o céu, e quando dei uma espiada a mais notei que ele tem uma bunda bem apalpável, mas isso não dá o direito dele acabar com a minha vida que já era ruim sem ele.

[...]

Se passaram três dias do início da minha ruína, pelo menos a vaca da minha ex-patroa me pagou tudo certo. Tudo bem que aquilo era quase um trabalho escravo, eu entrava as cinco da manhã pra deixar tudo pronto e saia as seis horas da noite, isso em dia que ela tava de bom humor e deixava eu chegar na hora na faculdade, quando ela estava virada no Jiraya eu saia as oito horas, depois de fechar tudo. Eu ganhava um pouco mais de um salário mínimo, mas não é o suficiente para pagar o aluguel, as contas mensais, xerox da faculdade, advogado, comida... Você entenderam. 

Já distribuí currículo em toda essa cidade, enviei por e-mail também mas até agora não recebi nenhuma ligação. Ligo minha tv que está mais pra lá do que pra cá e fico assistindo a sessão da tarde até alguém bater na minha porta. Meu coração acelera ao imaginar quem pode ser já que não passei meu endereço para ninguém, vou até a cozinha e pego uma frigideira para me defender caso seja necessário, seria bom viver sem medo do passado as vezes...

Indomável Salvatore - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora