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Todos os dias depois da aula, aquela mesma garotinha parava no parquinho à caminho de sua casa para brincar com as formigas que construíam seu formigueiro para terem um abrigo forte e protegido da chuva. Ela ficava encantada com a ordem que elas mantinham, vivendo bem entre si. A menina as alimentava com cascas de pão que sempre guardava de seu lanche para dar à elas mais tarde, então ficava ali por quinze ou vinte minutos depois de finalmente resolver voltar para casa.
Em alguns dias, ela se sentia feliz ao ter a companhia de um garotinho que a acompanhava em suas “descobertas”. Eles ficavam em silêncio na maior parte do tempo, mas ainda assim, ela gostava de ter alguém próximo fazendo a mesma coisa que ela gostava de fazer.
Em um certo dia, o rapazinho criou coragem e falou com ela pela primeira vez.
─ Elas são bonitinhas, não são?
Não tendo muito o que responder e surpresa por não estar aguardando pelo comentário dele, ela sabia muito bem que deveria ser educada (obviamente), o respondendo, por mais que fosse vergonhoso para ela falar com alguém.
─ Sim! Eu adoro ficar as observando.
─ Só é chato quando elas se irritam e mordem você. ─ fez um gesto com a mão, indicando uma mordida.
Ela sorriu ao presenciar sua interpretação, mas tentou esconder.
─ O meu irmão não gosta delas. ─ disse a menina. ─ Ele tenta matar quando as vê, mas eu não deixo.
─ Nossa! O seu irmão é malvado. ─ sorriu.
─ Um pouquinho.
Ficaram em silêncio após isso, até que ele voltou a falar.
─ Ei!
─ Oi?
─ Você sempre vem aqui, huh?
─ Sim.
─ Qual é o seu nome?
Ela iria responder, porém, calou-se quando viu um outro menino surgir atrás deles, e para a sua insatisfação, era o mesmo garoto que costumava bater e a ofender todos os dias.
─ Ei! ─ chamou ele ao primeiro garoto. ─ O que você está fazendo aí com essa porquinha?
─ Estamos vendo as formigas!
─ Você é louco? Não sabe que ela pode te passar doenças?
Mesmo não acreditando muito no comentário ofensivo dele, o garoto ainda assim a olhou com um certo nojo na face, não de forma proposital, mas foi o suficiente para ela se sentir magoada.
─ Vamos embora! ─ estendeu a mão para ele, insistindo para a deixar sozinha. ─ Você não quer pegar as doenças dela, quer?
O rapazinho não respondeu, mas de certa forma, estava triste por ter que deixá-la, porém, ele não sabia se as declarações do outro menino eram verdadeiras ou não, e também não queria arriscar em descobrir da pior forma, apesar de também gostar de passar um tempinho ao lado dela. Então ele se levantou e partiu com o segundo garoto, sem sequer olhar para trás, nem ao menos se despediu, e a menina, ficou observando-o ir embora ao horizonte, muito triste por perder sua companhia, o que a deixou cair em sua fria solidão novamente, e aquele garotinho que passava o final da manhã com ela, jamais retornou, deixando a sentir o peso na consciência chamado, “desprezo”.
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Pesadelo - Os Jogos de Ella
Misterio / Suspensogêneros: mistério/terror Você acredita na realidade em sua volta? Acredita que tudo o que você faz, enxerga ou toca, é real? E se tudo o que você conhecesse não passasse de uma mera ilusão? O que aconteceria se o conceito de tempo, espaço, matéria e...