• quarta página - Jeffrey

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Todos os dias depois da aula, aquela mesma garotinha parava no parquinho à caminho de sua casa para brincar com as formigas que construíam seu formigueiro para terem um abrigo forte e protegido da chuva. Ela ficava encantada com a ordem que elas mantinham, vivendo bem entre si. A menina as alimentava com cascas de pão que sempre guardava de seu lanche para dar à elas mais tarde, então ficava ali por quinze ou vinte minutos depois de finalmente resolver voltar para casa.

Em alguns dias, ela se sentia feliz ao ter a companhia de um garotinho que a acompanhava em suas “descobertas”. Eles ficavam em silêncio na maior parte do tempo, mas ainda assim, ela gostava de ter alguém próximo fazendo a mesma coisa que ela gostava de fazer.

Em um certo dia, o rapazinho criou coragem e falou com ela pela primeira vez.

─ Elas são bonitinhas, não são?

Não tendo muito o que responder e surpresa por não estar aguardando pelo comentário dele, ela sabia muito bem que deveria ser educada (obviamente), o respondendo, por mais que fosse vergonhoso para ela falar com alguém.

─ Sim! Eu adoro ficar as observando.

─ Só é chato quando elas se irritam e mordem você. ─ fez um gesto com a mão, indicando uma mordida.

Ela sorriu ao presenciar sua interpretação, mas tentou esconder.

─ O meu irmão não gosta delas. ─ disse a menina. ─ Ele tenta matar quando as vê, mas eu não deixo.

─ Nossa! O seu irmão é malvado. ─ sorriu.

─ Um pouquinho.

Ficaram em silêncio após isso, até que ele voltou a falar.

─ Ei!

─ Oi?

─ Você sempre vem aqui, huh?

─ Sim.

─ Qual é o seu nome?

Ela iria responder, porém, calou-se quando viu um outro menino surgir atrás deles, e para a sua insatisfação, era o mesmo garoto que costumava bater e a ofender todos os dias.

─ Ei! ─ chamou ele ao primeiro garoto. ─ O que você está fazendo aí com essa porquinha?

─ Estamos vendo as formigas!

─ Você é louco? Não sabe que ela pode te passar doenças?

Mesmo não acreditando muito no comentário ofensivo dele, o garoto ainda assim a olhou com um certo nojo na face, não de forma proposital, mas foi o suficiente para ela se sentir magoada.

─ Vamos embora! ─ estendeu a mão para ele, insistindo para a deixar sozinha. ─ Você não quer pegar as doenças dela, quer?

O rapazinho não respondeu, mas de certa forma, estava triste por ter que deixá-la, porém, ele não sabia se as declarações do outro menino eram verdadeiras ou não, e também não queria arriscar em descobrir da pior forma, apesar de também gostar de passar um tempinho ao lado dela. Então ele se levantou e partiu com o segundo garoto, sem sequer olhar para trás, nem ao menos se despediu, e a menina, ficou observando-o ir embora ao horizonte, muito triste por perder sua companhia, o que a deixou cair em sua fria solidão novamente, e aquele garotinho que passava o final da manhã com ela, jamais retornou, deixando a sentir o peso na consciência chamado, “desprezo”.

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