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"Os corações das crianças pequenas são órgãos delicados. Um começo cruel neste mundo pode mudá-lo de maneira estranha."
~ Carson McCullers, 1917-1967

"~ Carson McCullers, 1917-1967

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FLASHBACK

Era noite na instalação.

Entardecia na Polônia, Andrew estava sentado na cama de baixo do beliche, cama que agora era denominada sua. As costas na cabeceira da cama, o caderno pequeno em suas pernas, ele não desenhava nada, nem escrevia. Só estava olhando fixamente para o papel em branco, talvez a procura de algo interessante para ser escrito.

Era sua segunda semana ali, a guerra estava mais mansa, alguns guerreiros machucados, Parker com alguns ferimentos no rosto, ferimentos esse que ele cuidava com muito afinco para não criar cicatriz alguma em sua bela face.

— No que está pensando, Parker? — um jovem perguntou subindo para a cama de cima.

Na sua mãe, Roger.

— Nada muito motivante, meu amigo. Estava pensando em casa, saudade do meu pai, ele precisava muito de mim — respondeu com um tom de tristeza.

A cabeça de Roger apareceu ali, de cabeça para baixo. Os cabelos raspados, Roger era negro, alto, mas tinha um ar infantil, como se seus dezoito anos não o tivesse feito amadurecer.

— Não fique assim, Parker. Pense que ainda continua ajudando sua família — ele deu uma piscadela e sumiu.

Andrew soprou instintivamente, fechando o caderno com força, encostou a cabeça na cabeceira e olhou para as madeiras da cama de cima.

Seria uma pena se Roger caísse dali.

— Eu tento pensar nisso, tento mesmo. Papai vai se manter alimentado enquanto eu estiver aqui, mas ele vai está sofrendo, não é fácil perder um filho, Roger. Principalmente quando ele era o seu escudeiro.

— Posso imaginar, Andrew. Mas não olhe pelo lado negativo, é hora de pensar na sua vida, pelo menos durante esses anos, a guerra não está sendo nada fácil, precisamos de força e coragem.

Andrew revirou os olhos e sorriu daquele papo furado.

— Obrigada, tentarei fazer isso.

— Tentar não é algo bom. Você precisa conseguir.

— Definitivamente, meu amigo. Definitivamente.

Penteou os cabelos com os dedos, escutando o murmúrio dos jovens e adultos daquele enorme galpão desconfortável, fedorento e cheio de doenças.

— Você tem irmãos, Roger? — interpelou devagar.

Escutou o amigo se mexer na cama, talvez se aconchegando melhor naquelas molas gastas.

— Sim, sete. O do meio, de doze anos, foi atingido pela tuberculose.

— Como ficou sabendo?

— Pela carta desse mês, porém, presumo que ela tenha sido enviada a mais ou menos três meses, o quartel é muito sigiloso com o que chega até nós, demora algum tempo para todas as cartas sejam analisadas.

— Então você acha que ele já morreu?

— Saberei mês que vem — soprou, se mexendo na cama de novo.

— Espero que esteja tudo bem com ele.

— Sinto pensar nisso. Entretanto, meu irmão é muito fraco, magrelo. Não aguentaria uma gripe se quer, o dinheiro que eu ganho aqui não dá para alimentar as oito pessoas que residem em minha casa.

Fechou os olhos e aspirou o ar abafado com força, dizendo logo após:

— Quando perdi meu irmão foi como se tivesse perdido uma parte de mim, lembro de implorar ao céus que ele vivesse, era só uma criança inocente que pulara no lago, não merecia aquele fim.

— A morte é muito cruel, Parker.

Andrew meneou a cabeça concordando, escutou a gargalhada dos soldados zombeteiros e sem ética, todos falando sobre mulheres, bebidas e as coisas mais tolas que um homem sem dignidade poderia sair falando ou se gabando.

— Espero sair vivo daqui —  Roger disse subitamente.

Parker arqueou os lábios em um sorriso.

— Por qual motivo?

— A vida, ora.

— E isso é motivo para você?

— Sim, mas também as consequências dela.

— As consequências da vida nem sempre são boas.

— E nem sempre são ruins, Parker. Você enxerga um mundo de uma maneira tão negativa.

— Realista — corrigiu.

— Não, Parker. Negativa mesmo.

Ele não teve o trabalho de responder, seu colega não sabia o que ele já houvera passado, não sabia o quanto a vida e a morte já tinham pisado nele, esmagado seu corpo junto ao chão mais mordaz.

Roger era pobre, mas tinha uma família para chamar de sua, tinha algo para lutar com todas as forças, já Parker não tinha nada para se agarrar, para ter esperanças, ele insistia em dizer que não precisava disso, porém era só mais uma mentira que ela queria que fosse real.

Andrew precisava de abrigo, de esperança e de todas as outras coisas que um ser humano necessita.

Afinal, Andrew era só um menino acuado pela vida e pela morte.

Afinal, Andrew era só um menino acuado pela vida e pela morte

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NOTA DA AUTORA

Cheguei, meninas/meninos! Então, publiquei um novo livro aqui na plataforma, na verdade, um conto, já tá quase concluído, seria uma honra receber você por lá, se chama "Fique Bem, Amor".

MÚSICA: "Cold, Cold, Cold", Cage The Elephant.

Link da playlist de Ônix e do grupo no WhatsApp disponível na minha descrição!

Ps.: Não esqueça da estrelinha e do comentário, assim eu me sinto mais motivada!

Ps*.: Atualização toda quinta-feira, podendo ter bônus ao longo da semana, dependendo dos comentários e votos...

AMO VOCÊS ❤️

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