Capítulo 3

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Duas semanas, três horas e vinte e sete minutos naquele lugar. Sim, eu era boa em contar e parecia que tinha ficado melhor.
Jamie e eu ainda estávamos trabalhando na limpeza e organização do local e eu não estava achando tão ruim por um motivo; eu podia conhecer o lugar melhor.

Eu tinha alguns planos, queria pode fazer uma planta do local e anotar os pontos-chave, mas todas as noites, os guardas de Mestre vasculhavam o quarto, então era perigoso guardar o que fosse.

Eu estava tentando abrir um espaço no chão, tentei procurar alguma parte oca na parede, debaixo da cama, mas eu não tinha acesso à qualquer tipo de arma, mesmo que fosse branca e a vigilância estava dobrada.

Ao menos com isso ele foi inteligente.
Em qualquer momento do dia, havia alguém parado no observando. Era estranho e assustador, mas já estava se tornando comum.

Acordamos com batidas altas na porta, então levantei e só tive tempo de me cobrir com uma jaqueta. Quando abri a porta, vi Mestre.

- O que você quer? Parece que mal amanheceu. - Ele deu um sorriso de lado.

- Bom dia, Cristal.

- Péssimo dia, Mestre. O que você manda? - Cruzei os braços e respirei fundo.

- Preciso que façam um trabalho pra mim. Não quero ouvir reclamações, choros, lamentações, nada. - Revirei os olhos e bufei. - Muito menos essa cara, aí.

- Qual o trabalho? - Ele pigarreou.

- Vamos, eu mostro.

Ele me deu tempo de acordar Jamie e ficarmos apresentáveis, então nós levou a um espaço antigo, era um galpão velho, cheio de tralhas. Haviam equipamentos de carros, motores velhos, ferragens. Também haviam alguns carros no meio do galpão, estavam cobertos por lonas, então não conseguíamos ver quais modelos eram, de fato.

- Eu preciso que limpem o local, deixem brilhando.

- O que vai fazer aqui? - Jamie perguntou.

- Uma oficina, não é óbvio? Os produtos estão ali, podem começar e espero que terminem hoje.

Ele saiu, nos deixando sozinhas. Jamie amarrou os cabelos loiros cacheados e olhou para mim, balancei a cabeça.

- Que droga, vamos demorar o dia todo nisso. Por que só nos mandam pra esses trabalhos?

- Deve ser porque nós fazemos e não temos outra opção. - Olhei para Jamie por alguns segundos, absorvendo o que ela disse. Era verdade e eu tinha que parar de reclamar, afinal, estávamos vivas.

Eu comecei lavando o chão. Haviam crostas de sujeira quase que impossíveis de limpar, mas graças à alguns produtos, consegui deixar o chão limpo. Logo depois, começamos a limpar as mesas e separar alguns objetos. O que aparentemente poderia funcionar, nós guardávamos, o que não podia, nós jogávamos fora.

Peguei a caixa para jogar fora e a segurei firme. Andando devagar, eu fui até o lado de fora do galpão e larguei a caixa no chão, quando dei as costas para ir embora, quase dou um pulo de susto.

Havia um cara me observando, ele estava de braços cruzados, com um sorrisinho familiar. Ele era alto, magro e forte, tanto que seus bíceps estavam aparentes, apesar da camisa que os cobria. Ele tinha cabelos pretos ondulados que estavam precisando de corte e seus olhos claros me encaravam. Pude ver tatuagens em todas as partes descobertas de seu corpo. Haviam duas em seu pescoço, uma rosa preta de um lado e uma peônia vermelha do outro, nos antebraços haviam uma rosa, uma aranha, a parte lateral da face de uma pantera e em sua mão direita, havia a mesma pantera, apenas a sua face, porém de frente.

Eu sei que passei muito tempo o observando e ele também percebeu, porém ele estava me observando também. Engoli em seco e continuei andando, mas o vi pegar a caixa e me seguir.

- Mestre o mandou nos observar? - Perguntei, ríspida.

- Na verdade, eu só vim antes que jogasse as minhas peças raras no lixo. - Então eu parei de repente e olhei para ele.

- Suas?

- Certamente. - Me virei e continuei andando, bufando.

Quando entrei, Jamie estava limpando algumas peças.

- Finalmente, achei que tinha ido embora... - Jamie tomou um susto, foi tão grande que ela soltou a peça em sua mão, que caiu direto no chão e quebrou. - ...ah, meu deus...

Juntei os restos da peça e coloquei em cima da mesa.

- Tá tudo bem, não tem problema. É só uma peça velha. - Jamie se aproximou de mim, então sussurrou em meu ouvido.

- Você nunca ouviu falar nele?

- Não, ele é só um idiota acumulador. - Ela se afastou subitamente de mim.

- Desculpe por ela. - Ela disse.

- Acho que não fomos apresentados. Meu nome é Max, vocês são...?

- Jamie e Cristal. É um prazer conhecer a lenda. - Jamie disse, achei aquilo, no mínimo, ridículo.

- Lenda? - Ele deu risada. - Por que lenda?

- Ninguém acredita que você existe, não nas outras comunidades. - Ele riu e balançou a cabeça.

- Infelizmente existo.

- Quem é esse cara, Jamie? - Perguntei, achando que estava falando baixo.

- Bom... - De repente ouvimos uma voz atrás de nós. Então estremeci. Mestre andou até o lado de Max e colocou os braços ao redor do pescoço dele, parecia estranho, mas era carinho. - ...deve ser porque Max é meu filho. Meu herdeiro.

Meu queixo foi ao chão. Olhei para Jamie, que mantinha uma expressão neutra.

Minha reação não se devia ao fato de Max existir, mas, como um homem como aquele tinha um filho? Alguém a quem amar, proteger, cuidar? Como?

Só podia ser uma brincadeira de mau gosto.

A Garota e os Zumbis - A FugaOnde histórias criam vida. Descubra agora