Quando abro meus olhos, me vejo em um ambiente totalmente diferente de um carro, que era onde eu havia desmaiado.
Eu estava preso, meus pulsos estavam para atrás, minhas pernas presas numa cadeira e minha boca amordaçada.
Aquele ambiente era familiar. Era mal iluminado, haviam janelas, mas que estavam pintadas de preto. Havia uma lona preta no chão, talvez para evitar sujeira e uma porta.
A porta se abre de repente, me assustando. Vejo um homem conhecido entrar segurando uma arma, ele dá um sorrisinho, tentando me intimidar, mas eu não iria recuar.
- E aí, meu parceiro, Josh. - Ele disse. - Como vai na... como é o nome mesmo daquela porra? Deve ser uma merda trocar a gente e agora estar afundando.
E ele continuou falando o quanto eu estava ferrado e não deixava de sorrir enquanto isso, mas então, de repente ele parou.
- Você não vai responder? Ah sim, claro... - Ele chegou perto de mim e retirou a mordaça. - ...agora você pode me responder.
Observo seu sorriso maligno. Aqueles dentes com marcas de sujeira e manchas que o tabaco deixava. Era nojento.
- Ora, ora. O gato mal sai e os ratos fazem a festa. - Ouço outra voz conhecida.
Se ainda restavam dúvidas, sim, eu estava preso em alguma das comunidades de Mestre. E ele havia acabado de chegar.
- Josh! O meu ex-homem preferido. - Ele veio diretamente a mim, estava com um soco inglês em mãos. Eu sabia que em instantes, aquele objeto estaria sendo arremessado em meu rosto. - Deve estar em dúvidas de como veio parar aqui, a questão é que... desde que você se bandeou para o outro lado, eu tive que mudar em muitas coisas.
- Inteligente de sua parte... - Finalmente começo a falar.
- Cala a boca. - Ouço Turner, o homem que havia chegado primeiro dizer.
- Josh, tem algo me incomodando. - Mestre voltou a falar. - Eu achei que havia fugido, não só por uma mulher, mas poder, um cargo bom, boas recompensas. Mas, vendo agora, você quis virar um saqueadorzinho de merda. Me diz pelo menos um motivo muito bom pra eu não te matar, cara?
- Se quiser fazer isso, vá em frente. Agora, não vou me responsabilizar pelo que pode acontecer depois. - Digo, Mestre olha para Turner e os dois começam a rir.
Vejo Mestre arrumar o soco inglês em sua mão e menos de três segundos depois, sua mão está sendo arremessada em meu rosto com toda força.
Senti meu rosto se rasgar, senti o sangue quente escorrer e senti minha cabeça pesar.Foram tantos socos, que logo após a quinta ou sexta vez, eu não sentia mais nada. Nem a dor, nem o sangue jorrar, nada.
- Pode me espancar quantas vezes for, não vai mudar nada. - Ele chega perto, analisando meu rosto. - Me mata de vez.
Ele se afastou, passando a mão limpa no queixo, parecia pensar.
- Turner, trás a bolsa do ordinário. - Turner não foi muito longe, minha bolsa estava à alguns metros de distância, em cima de uma mesa.
Mestre virou a bolsa de cabeça para baixo, deixando cair tudo o que havia nela. Garrafas de água, uma faca, alguns enlatados e o livro de Cristal.
Ele pegou o livro, com um sorriso nos lábios, o abriu e passou página por página até chegar nas manchas de café.- Você nunca foi fã de leitura, Josh. Qual é o segredo aqui? Ia mandar uma mensagem pra sua querida?
- Talvez você nunca vá saber, idiota. - Ele jogou o livro no chão, vindo até mim.
- Talvez você queira que suas protegidas morram antes que o esperado. E se eu simplesmente enfiasse uma bala no centro das cabeças das duas?
- O que você quer, porra?
- Agora sim, uma pergunta que me interessa. - Ele sorriu novamente. - O que eu quero, Josh, talvez exija demais de você.
- Fala logo!
- O que você faria pra ver as suas duas coelhinhas livres?
- Qualquer coisa. Eu faria qualquer coisa. - Ele deu uma risada, comemorando.
- Esse era o ponto, Josh!
Ele se virou para Turner, então falou algo baixo, logo depois Turner saiu, nos deixando sozinhos.
- Essa é a hora que você corta minha cabeça e à mantém em sua mesa, como um troféu? - Pergunto, ele me olha como se eu fosse um idiota.
- Claro que não. Acha que eu sou algum tipo de psicopata? - Tento levantar as sobrancelhas, mas desisto quando sinto meu rosto dormente.
- O que eu tenho que fazer pra você as libertar? - Finalmente pergunto e ele sorri, o vigésimo sorriso da noite.
- Eu quero que você me sirva. Seja meu braço direito e elas poderão viver em paz, onde quer que seja. - De início, achei que era alguma piada, mas ao ver que não havia sequer algum vestígio de humor em seu rosto, eu passei a levar à serio.
- Você sabe que elas nunca vão desistir de mim, não sabe? - Digo.
- Eu sabia que você ia dizer isso. - Ele respirou fundo. - A minha solução é simples; vamos forjar a sua morte.
- Como? - Eu sabia que aquela idéia era absurda e eu estava entregando a minha vida para um psicopata, mas também sabia que eu tinha que manter Cristal e Jamie o mais longe possível daquele homem, mesmo que eu sofra as consequências.
- Turner! - Mestre gritou, então vejo alguém empurrar a porta. Turner entrou com outro homem carregando um cadáver. Mestre se aproximou do cadáver, então segurou os cabelos dele, levantando sua cabeça. - Esse é o Josh, ou melhor, o que sobrara dele. Infelizmente ele me enfrentou sozinho e o que ele mais temia aconteceu. Eu venci e ele morreu.
O cadáver era relativamente parecido comigo. Os cabelos loiros, o corpo. Mas quando elas vissem o rosto, saberiam que não era eu.
- Isso não vai convencê-las.
- E você tem alguma ideia melhor? - Ele perguntou.
- Se me soltar, talvez eu mostre. - Mestre olhou para Turner, que fez um sinal para o outro homem e soltaram o cadáver no chão. Turner veio até mim e me soltou.
- Pensa bem no que vai fazer. - Turner disse e eu apenas o encarei, sério.
Quando levantei, passei a mão em meus pulsos, tentando aliviar a dor. Me aproximei de Mestre, que estava de pé, ao lado do cadáver.
Quando olhei para aquele corpo, pensei na pessoa que aquele homem poderia ter sido. Se tinha uma família, um lar, quem e o que ele era antes do apocalipse.Me senti um monstro quando chutei seu rosto com força, ouvindo alguns ossos quebrarem. De repente vi sangue escorrer de seu nariz e boca. E eu o chutei mais uma vez, e outra. Até que aquele rosto ficasse irreconhecível. Ele havia acabado de morrer, pois eu sabia que cadáveres não sangravam, o que deixou tudo pior.
Quando terminei, eu estava ofegante. Meus olhos ardiam de ódio por ter que fazer aquilo, uma vontade de chorar, gritar. Mas eu não podia.
- Pelo menos algo eu sei que você aprendeu, rapaz. - Mestre disse, vindo até mim e segurando meu ombro com firmeza.
- Tem uma última coisa. - Digo.
- Sou todo ouvidos.
- A marca. Ele tem que ter uma marca nas costas. - Mestre deu um sorrisinho.
- Não se preocupe com isso. - Vi Mestre estender a mão para mim, a oferecendo para um aperto. - Temos um acordo?
Eu não queria fazer aquilo. Não queria me entregar a ele de novo, mas mesmo que fosse difícil, eu tinha duas pessoas das quais prometi proteger. E eu tinha que proteger.
- Sim, temos um acordo. - E eu apertei sua mão.
Agora eu tinha um acordo com o diabo.
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A Garota e os Zumbis - A Fuga
RomanceCristal Levigne está de volta. Determinadas a fugir de Mestre, Cristal e Jamie bolam um plano para o escape. Enquanto isso, um novo personagem se junta à trama, trazendo o passado conturbado de Mestre à tona. Mas o que ninguém sabe, é que Mestre es...