Capítulo 5

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Eu estava apenas à alguns centímetros de distância da sala de Mestre.

Estava impaciente e ansiosa. Haviam dias em que eu fazia um trabalho de idiota, apenas limpando espaços aparentemente abandonados e claramente sujos demais. Quando ele abriu a porta, vi seu sorrisinho sarcástico.

- Levigne, que honra receber a maior e melhor funcionária da nossa comitiva! - O encarei, achando sua animação estranha.

- Quem foi que te deu um... "agrado" para você estar tão feliz? - Ele deu risada, puxando uma cadeira para que eu pudesse sentar e logo após, indo sentar do outro lado da mesa, à minha frente.

Observei brevemente seu escritório. Era quase igual ao da outra comunidade, porém mais espaçoso e amplo. Havia uma televisão e um console de vídeo game ligados, enquanto Mario Bross estava na tela. E senti aquela nostalgia. Quando um simples Mario Bross não passava de uma bobeira antiga e o normal era Grand Theft Auto V.

- O que foi? Qual o grande motivo de ter vindo?

- Eu só... sendo bem sincera e sei que valoriza isso na sua cabeça doente, eu não aguento mais o trabalho que está nos dando. Jamie estava ajudando no posto de saúde que tínhamos em nossa comunidade. E eu... bom, você já sabe o meu trabalho.

- Se você estiver achando que vou confiar uma faca sem ponta a você, está muito enganada.

- Olha, pode ser qualquer coisa, tá legal? Eu só acho que sua detençãozinha podia acabar de vez. E outra, cara, você nem mesmo usa os espaços que limpamos, ou seja, estamos trabalhando por pura vingança, não necessidade. - Ele sorriu.

- Apesar de te odiar, Cristal, eu não sei o motivo de ser tão fascinado por você. É inteligente, bonita, mesmo na porra de um apocalipse e sempre estando imunda... - Fiquei alguns segundos de boca aberta, prestes a questiona-lo sobre essa parte, mas ele foi mais rápido que eu. - você é observadora, caçadora, sabe sobreviver, tem um apreço a isso, e... você não tem medo. Pode passar o tempo que for fugindo, mas não parece ter medo de um homem como eu.

- Você é só um charlatão. - Cruzei os braços e me encostei na cadeira, ficando relaxada. - E eu ainda fico me perguntando o motivo de me aguentar, mas agora eu sei. Agora eu sei o motivo de sua obsessão.

Eu levantei, indo até a porta, mas antes de sair, me virei e olhei para ele, rindo.

- Você gosta do que te desafia, Mestre. - Ele me encarou por tempo demais, então eu abri a porta, a atravessando. Antes de sair, eu ouvi ele me chamar, mas não me virei, apenas fiquei parada esperando que ele falasse.

- Amanhã, às 7hrs estarei na sua porta. - Eu dei risada e saí.

Quando estava em casa, sozinha, apenas deitei na cama dura e fechei os olhos.

-Bjorn, nós precisamos sair. Temos que procurar comida, estamos ficando sem nada. Ontem comemos sopa enlatada, hoje não temos nem isso. - Ouço minha mãe dizer.

- Como vamos sair de casa se não temos nada além de uma arma? - Ele respondeu.

- Nós precisamos! Nossa única filha não pode passar fome.

Meus pais discutiam mais, mas depois de muita insistência de minha mãe, meu pai finalmente cedeu. E eles decidiram ir, mas não queriam que eu fosse.

- Eu não vou ficar sozinha. E se aquelas coisas vierem? Eu prefiro ir com vocês, posso ficar no carro. - Meu pai relutou, mas logo viu que era melhor assim. Assim saberia que estávamos todas bem.

Quando saímos, tudo estava tranquilo, não havia sinais daquelas coisas nas ruas. Nós iríamos em qualquer loja ou supermercado próximo. Qualquer lugar que não parecesse uma ameaça em potencial.

Quando estávamos chegando à um local chamado "I'Market" , meu pai estacionou o carro próximo ao meio fio, estava em frente à entrada, então eles iriam entrar pelos fundos e sair. Parecia simples, mas para quem não tinha experiência alguma, era quase impossível.

Meus pais entraram em uma pequena discussão quando estavam fora do carro, mas logo observei tudo se acalmar e eles seguirem.

Minha mãe estava com a arma de meu pai, mesmo depois de negar e quase fazer um escândalo, já meu pai estava com um machado em mãos. Ele usava aquilo para cortar a lenha da lareira, agora seria útil para se livrar daquelas coisas, caso aparecessem.

Eu os vi entrar pelos fundos do supermercado, então, se passaram vários minutos em que meus pais não davam sinal nenhum. Então eu peguei um punhal de meu pai, que eu mesma tinha escondido e resolvi sair do carro.

Fechei a porta, com todo cuidado para não fazer qualquer barulho, e finalmente andei até a entrada em que meus pais tinham adentrado. Quando puxei a porta, notei que a mesma estava emperrada e eu não conseguia abrir.

Observei o local. Havia uma estrada de terra ao longe, alguns carros parados no meio do nada, haviam alguns também estacionados mais perto. Lojas de artigos antigos, o que parecia ser um ponto de fast-food famoso, e bem no canto, uma biblioteca.

E eu me encantei. Fui até ela com cuidado, observando tudo minuciosamente. Assim que vejo a fachada, percebo que eu não iria voltar para aquele carro sem antes pegar alguns livros.

A porta estava entreaberta, então eu apenas a empurrei um pouco para entrar, e não fiz barulho algum.

Poucos feixes de luz entravam pela janela, que estava coberta por uma cortina, mas eu não quis abrir o restante, poderia chamar atenção.

Eu conseguia ver um balcão e mesas com cadeiras, haviam xícaras penduradas atrás do balcão, pia industrial, máquinas de café e apertei bem os olhos, conseguindo ver comida podre dentro do balcão.

Ali era uma biblioteca e café. Eu teria adorado visitar aquele lugar antes de tudo aquilo.

Ando até as prateleiras de livros e antes de pegar o primeiro, deixo o punhal em cima de uma das mesas.
Havia uma edição antiga de O Morro Dos Ventos Uivantes, que quando vi, minhas mãos chegaram a formigar. Eu tinha que pega-lo, sentir aquele livro em minhas mãos, leva-lo para mim.

Quando o peguei, minhas mãos estavam tremendo, e por um segundo de descuido, acabo arrastando outro livro junto, que foi parar direto no chão.

Aquele momento pareceu passar em câmera lenta, pois a partir do momento em que o barulho seco do livro batendo no chão empoeirado ecoou pela biblioteca, uma quantidade absurda de mortos começaram a sair de trás do balcão, de dentro da cozinha. Haviam até cadáveres secos jogados sobre o chão, ao meu lado, e eu estava tão cega que não pude ver.

Por um mísero segundo, me imaginei morta.
E eu quase morri.

A Garota e os Zumbis - A FugaOnde histórias criam vida. Descubra agora