Acordei no meio da noite assustada e comecei a chorar. Eu me sinto horrível, um monstro. Eu já não sei o que fazer, eu estou cansada disso tudo. Toda vez que eu tento vestir uma roupa e ela não entra, é uma tortura tão grande. Faz anos que eu não subo em uma balança, porque sempre que eu faço isso é como se eu perdesse meu chão. 80...90..95... Os kg não importam se não forem 69kg. Eu já fiz de tudo para emagrecer, inclusive parar de comer mas nada da certo, eu acabo voltando a comer como se fosse minha última refeição. É porque se eu tô triste, quase sempre, eu como. Se eu tô atoa, eu como. Se eu tô feliz eu como. É isso sabe? Eu queria controlar isso e parar de me sentir uma baleia fora d'água. Porque é isso que eu vejo quando me olho no espelho. Eu já nem me reconheço mais.
Eu acabo dormindo de novo. E só acordo no outro dia.
Vou caminhando para a escola, já que não estou atrasada. Coloco os meus fones e coloco no aleatório. E quando percebo, estou em frente ao portão da escola. Respiro fundo, uma, duas, três vezes. Entro. Caminho lentamente pelos corredores, subo as escadas e como e costume chego primeiro na sala. Me sento e começo a ouvir algumas músicas. E no aleatório, cai Just Right (autora: a música ta na ''imagem'' lá em cima com tradução) eu dei um sorrisinho, era como se o destino estivesse me dizendo para ficar bem. Fechei os olhos e aumentei o som. O sinal tocou e mesmo de fone eu ouvi e abri os olhos. Fiquei olhando para o quadro. Quando o professor chegou eu resolvi mexer na mochila e ao olhar para a carteira vi um post-it rosa grudado na mesa escrito ''Desculpa por ontem! Eu fui um idiota. Não costumo ser assim, eu juro! -Rodrigo'' eu sorri e balancei a cabeça. Nem tinha percebido que ele tinha colocado aquilo na minha mesa. Então eu escrevi um 'tudo bem' e entreguei ele, que sorriu de ladinho, muito fofo por sinal. Eu sei que não foi por querer que ele fez aquilo, mas na hora deu uma raiva de tudo aquilo que só Jesus sabe. Mas as pessoas soltam coisas sem saber então tudo bem. Era professor novo, de física. Bruno. Ele queria saber o nome de todo mundo então perguntou pessoa por pessoa. Até que chegou a minha vez :- O teu nome querida?
-Orca! ~alguém gritou.
O professor começou a ri e eu pensei lavem mais um, então gargalhando ele perguntou quem havia feito a piada porque era boa demais.
- Fui eu Bruno! ~Priscila assumiu o feito rindo. Que novidade.
O professor caminhou, enquanto ainda ria, até a mesa dela que se gabava. Olhou nos olhos dela e se apoiou na carteira em que ela estava e disse:
- FORA DA MINHA SALA!! Eu não vou ser conivente com piadinha gordofóbicas na minha sala então saia e vá até a diretoria. Caso contrário, você não vê mais nenhuma aula minha esse ano. ~a primeira parte ele gritou, surpreendendo todo mundo, já a segunda ele falou bem tranquilo.
Priscila saiu pisando alto, eu dei um risinho de felicidade, não pela situação dela, mas por ter um professor tão legal. Ele se voltou para a sala:
- E isso serve para todo e qualquer preconceito de vocês, e isso serve pra qualquer um. Então a mocinha pode me dizer seu nome? ~ele olhou pra mim.
- Wendy Vieira Santos.
-Wendy tipo em Peter Pan? ~ele sorriu ao perguntar.
- Sim. ~que bom que alguém finalmente entendeu de onde surgiu meu nome.
- Quando eu estudei, eu tinha uma amiga que ela sonhava em ter uma filha e chamar de Wendy por causa de Peter Pan. Quem sabe não é sua mãe? ~ele riu quando terminou.
- Eu acho que não professor, ela não estudou aqui. ~eu fiquei meio sem jeito.
- Estou brincando querida. ~ele sorriu e passou para a próxima pessoa e assim até o último.
A aula foi bem divertida e ele era ótimo. Os outros horários foram um saco, como sempre.
Tocou o sinal do intervalo e todos voltamos pra sala, eu cheguei primeiro, me sentei. E lá estava outro post-it. Imaginei que fosse do Rodrigo, mas a letra era diferente e tava escrito:
''Ei, fica tranquila. Você é linda sim, mesmo que os outros digam que não!''
Eu achei aquilo estranho. Alguém provavelmente deve ter colocado na carteira errada. Eu dobrei e coloquei na bolsinha. Quando o Rodrigo entrou eu olhei pra ele e imaginei que fosse dele, mas a letra era tão diferente. Deixei queto, provavelmente foi engano. Fiquei pensando em coisas diferentes, como por exemplo: Qual a viagem eu vou fazer quando tiver dinheiro. Eis que vejo Luiz se aproximar de mim.
- E ai Wendy?~ele disse com um sorriso largo.
Eu olhei pra ele e voltei aos meus pensamentos.
-Coé Wendy Pan. Vamo fazer o trabalho ou não? ~já disse impaciente.
-Meu santo Deus Luiz. Ridículo. Eu fiz o trabalho e te mandei no e-mail. Podemos conversar por la ou mensagem. Mas não venha pessoalmente querer falar comigo. ~eu disse calmamente.
Ele fez uma cara de bosta e saiu. Respirei fundo e a aula correu normalmente.
Antes de ir embora o Rodrigo me deu adeus e perguntou se estava mesmo muito bem entre nós. Eu não entendia o porque dele está preocupado nem porque querer ser meu amigo ou algo do tipo. Mas era bom. Aquecia o coração. Eu fui para casa feliz. O que era novidade. Cheguei em casa e o dia correu normalmente.
