Capítulo II.

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Roger encarou o papel fixamente por segundos que mais lhe pareceram horas. Já fazia três dias que haviam se encontrado. Estava decidindo entre manter o seu orgulho ou matar a sua curiosidade. E ambas pareciam duas opções muito válidas. Pegou-se pensando em quando se tornara assim, tão orgulhoso. De fato, sempre fora um traço de sua personalidade, mas aos quinze anos jamais hesitaria em perguntar qualquer coisa, especialmente, a ela. Sua curiosidade sempre vencia. Desde quando as coisas haviam mudado tanto? Era algo engraçado de se pensar. 

Tudo havia mudado tão rápido. Ele era só um garoto aprendendo a tocar bateria, e, de repente, tornara-se membro de uma banda mundialmente famosa. As coisas foram difíceis até que chegassem a esse ponto, mas olhando agora, tudo era como um filme acelerado. Perguntava-se quando amadurecera, apesar de seus amigos ainda caçoarem da sua infantilidade e das atitudes mimadas.

Ele se levantou da própria cama e caminhou em meio ao extenso corredor da casa até que chegasse a sala. Encarou o telefone por poucos minutos, até que por fim decidiu dar-se por vencido. Colocou os números atentamente no telefone e o levou até o ouvido. Uma chamada. Duas chamadas. Três.

Alô, aqui é a Scarlett  — a voz feminina disse prontamente. Era aveludada e extremamente agradável de se ouvir.

Aqui é o... Roger — o rapaz disse, um pouco sem jeito. Estava tão preocupado com a ligação, que nem sequer pensara no que dizer, e agora parecia um grande idiota.

Ah, oi, Meddows. Achei que fosse algo importante, como o trabalho.

Ouch. "Achei que fosse algo importante." Roger nunca fora rejeitado tão friamente em toda a sua vida. Seu ego estava ferido de uma forma inimaginável. E seu ego era algo muito importante para ele. Do outro lado da linha, ele limpou a garganta.

— Ficou mudo de repente, é? — ela perguntou, insistentemente.

Meu Deus, eu tinha me esquecido de como você era chata às vezes. — Ainda que ela não pudesse ver,  o rapaz revirou os olhos, impacientemente. Estava quase arrependido de ter feito a ligação.

É o seguinte, Roger: o meu tempo é precioso demais para gastar com esse silêncio esquisito, então vamos, desembucha. — Curta e grossa. Roger gostava disso, era atraente, embora imensamente irritante.

Você tem um tempo livre hoje? — o rapaz perguntou, finalmente.

Duas e meia da tarde, na cafeteria ao lado da minha casa — respondeu rapidamente. — Nossa, você demorou tanto a ligar, esse orgulho ainda vai te matar.

A boca de Roger abriu-se automaticamente, ele balbuciou por alguns segundos, até que por fim escolheu as palavras que iria dizer. 

Olha quem fala, me viu frequentemente depois de chegar em Londres, mas só falou comigo quando eu quase te derrubei na pista de dança. — Respondeu, amargurado.

Roger sabia muito bem como guardar rancor. Era algo péssimo, ele sabia, mas era algo que fazia com maestria. E, na maioria das vezes, odiava isso.

Meu Deus, eu não me lembrava de você ser o rei do drama — ela falou, com a voz mais entediada que tinha. — Na cafeteria, duas e meia. Por favor, não se atrase, Meddows.

Nem a minha mãe me chama assim  — ele rebateu, com rapidez.

Que pena, porque é um belo nome. — Deu de ombros. — Eu preciso ir agora, tenho que trabalhar.

Até mais.

Scarlett desligou o telefone. Desde quando ela se tornara tão explosiva? Tudo bem, ela sempre teve uma personalidade forte e decidida, Roger recordava-se bem disso, mas parecia estar dez mil vezes potencializada. Finalmente, ele devolveu o telefone ao gancho.

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