Capítulo XIV.

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Existem dias em que, sem qualquer motivo aparente, acordamos bem, e sentimos que nada vai nos abalar. Podia até ser que isso mudasse no decorrer das horas, mas Scarlett havia acordado assim naquela amanhã e estava disposta a manter o seu bom humor pelo máximo de tempo que conseguisse. Ela já estava no estúdio, com Brian, John e Adam. Por vez ou outra, Brian e Deaky soltavam alguma piadinha que a fazia rir.

"Você me chama de doce como se eu fosse um tipo de queijo" e... — John mudou o seu olhar de uma folha para a outra, haviam duas com ele, uma em cada mão. — "Disse a minha garota que terei que esquece-la, prefiro comprar um novo carburador", os dois à oitenta quilômetros por hora. Qual é pior? — O Deacon caçoava, mas, dessa vez, Brian May parecia sério. Ele revirou os olhos, impacientemente, e fez uma careta engraçada.

Scarlett pensou em dizer alguma coisa, mas, antes que pudesse se pronunciar, Brian tomou a frente.

— Pense bem no que vai responder, isso pode influenciar seriamente na nossa amizade. — Ele estava tão sério, que a menina quase acreditou naquelas palavras. — O Deaky, por exemplo, eu nunca mais vou preparar o café da manhã dele.

— O que eu acho é que o Deaky não sabe apreciar grandes obras de arte. — Ela esforçou-se ao máximo para não cair na risada e bateu uma de suas mãos contra a de Brian.

— Ei, calma aí, isso não é nem um pouco justo, vocês estão fazendo um complô contra mim! — Ele resmungou, altamente insultado, com uma expressão emburrada no rosto. — E desde quando concordamos sobre isso do café da manhã? Um verdadeiro absurdo.

— Bom dia, queridos. — Era Freddie quem cruzava a porta do estúdio, logo sentando-se ao lado de Scarlett na pequena roda que haviam feito. — O Roger ainda não apareceu? E nem aquela moça... Como é mesmo o nome dela... Nancy?

— Ainda não. — John rebateu, rapidamente.

Ao notar o clima pesado, Freddie pigarreou e voltou-se para a menina.

— Ah, Scarlett, eu espero que não tenha se esquecido do seu encontro com o Joe Kendrick hoje à noite. — O Mercury piscou, com um sorriso vitorioso em seus lábios. Ele quem havia marcado aquele encontro, afinal.

A menina engoliu seco, tinha se esquecido por completo daquele evento. Ela fez o máximo para não transparecer, mas tinha suas próprias desconfianças de que Freddie havia notado a sua displicência. Timidamente, Scarlett sorriu, sutilmente assentindo com um movimento de cabeça e voltando o seu olhar para o chão.

— Claro. — Foi tudo o que ela conseguiu dizer, esforçando-se ao máximo para, no mínimo, parecer algo natural. A menina sempre foi uma péssima mentirosa.

Scarlett suspirou, levemente frustrada, mas estava determinada a manter o seu bom humor, mesmo que aquilo significasse ignorar qualquer coisa relacionada ao Roger Taylor, ou aquele encontro esquecido. Não havia mal em pensar sobre o seu bem estar de vez em quando. E, só de ouvir os nomes de Roger e Nancy em uma mesma frase, ela já se sentia enjoada, ainda que soubesse que era uma grande besteira sentir-se daquela forma. Eles já tinham conversado sobre aquilo, e tudo estava decidido. Roger seguiria com a vida dele e ela, com a dela e, se quisessem dar alguns amassos uma vez ou outra, então tudo bem. Simplesmente assim, como vinha sendo até agora.

Roger e Nancy atravessaram a porta do estúdio juntos, rindo de alguma coisa que nenhum deles havia escutado. Os olhares curiosos rapidamente se voltaram para eles, mas Scarlett manteve a sua atenção firme no papel que tinha em suas mãos, com a caligrafia de Roger e toda a letra de "I'm In Love With My Car" em rabiscos. Droga, por que absolutamente tudo tinha que lembrá-la de Roger Taylor? Não era nem um pouco justo. Ela suspirou e, sem dizer nada, se levantou, caminhando até o outro canto da sala e começou a vasculhar algo em meio a alguns discos antigos. Roger fez menção em falar com Scarlett, no entanto, ela fingiu não ver. Ele estranhou a atitude, mas, insistente, se aproximou dela e sentou-se em uma das cadeiras vazias do cômodo.

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