Scarlett levantou-se cedo naquela manhã de quinta-feira. Após tomar um longo e demorado banho de água quente, desceu os degraus da casa, caminhou até a cozinha e abriu a geladeira. Nela, haviam ovos, suco, leite, manteiga, uma certa variedade de pães e algumas fatias de bolo. A indecisão era grande, principalmente porque ela gostava de tudo aquilo o que ela via. Ponderou por alguns longos segundos, até que optou por uma fatia de bolo de baunilha. O doce sempre vencia no final.
— Meu Deus, você quer me matar do coração?! — Ao virar-se, deparou-se com Roger Taylor parado logo atrás dela. Involuntariamente, ela levou a mão até o coração, a respiração estava levemente ofegante.
Roger apenas gargalhou da cara dela, ainda que não tivesse feito absolutamente nada para assustá-la. De qualquer forma, havia sido uma situação bastante engraçada. E ele nunca perdia uma oportunidade de dar boas risadas, principalmente se fosse da cara dos outros.
— Por um segundo, eu achei que fosse morrer — ela retomou a fala e, por incrível que pareça, estava falando sério. — Desde quando você é o segundo a acordar?
Mais uma vez, ela agia como se conhecesse e soubesse tudo sobre ele. Aquilo o irritava profundamente, era agoniante. Eles não se viam a anos, as coisas haviam mudado. Haviam mudado para ela e haviam mudado para ele. Os dois haviam mudado. Entretanto, no fundo, ele sabia que se irritava justamente por ela mostrar conhecê-lo tão bem, mais do que ele gostaria.
— Eu não dormi bem essa noite. Deve ser a fase de adaptação. — Deu de ombros. — O que temos para o café da manhã?
— Pães, ovos, bacon, bolo, suco, leite — respondeu, adotando uma feição levemente pensativa. — É só abrir a geladeira e ver, senhor preguiçoso. — Apontou para o objeto.
— É, acho que vou esperar o Deaky preparar o café da manhã dele e roubar a metade. — Aquilo soou tão natural, que mais parecia um hábito do que consequência da preguiça daquela manhã. — Então, como veio parar aqui? — ele perguntou, sentando-se em uma das cadeiras da cozinha.
Scarlett fez o mesmo, caminhou até uma das cadeiras de madeira e acolchoada, sentou-se ao lado dele e, logo em seguida, experimentou um pedaço de sua fatia de bolo de baunilha.
— Quando a mamãe faleceu, as coisas ficaram complicadas, era menos uma pessoa trabalhando, entende? — Ela ainda odiava ter que falar da mãe no passado, aquilo a machucava profundamente. — E, bem, em Londres o custo de vida é mais caro, então eu realmente precisava de um emprego para ajudar com as despesas. Papai trabalhou com gravadoras desde, praticamente, sempre. Ele me colocou nesse meio e eu comecei a trabalhar com ele. — Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. — E eu sou uma ótima aprendiz, então, aos poucos, fui pegando o jeito e agora eu estou aqui — explicou. — Eu ajudo com as gravações e com a administração, sou quase uma "faz-tudo". — Fez aspas com os dedos.
Roger a olhava, quase que admirado-a. Se parasse para pensar, talvez eles não fossem tão diferentes assim. Roger era um biólogo focado na música, e Scarlett uma escritora igualmente focada na música, apenas de um jeito diferente. Chegava a ser cômico, na verdade, que pessoas tão diferentes pudessem, ainda assim, ser tão parecidas. Ele não costumava acreditar em coincidências ou em baboseiras como o destino, mas ela provavelmente era o mais próximo disso que ele havia chegado. Eram coincidências em cima de coincidências, começando pelo dia no bar.
— É até engraçado, porque eu realmente nunca trabalhei com letras. — Uma risada fraca escapou de seus lábios rosados.
Havia um tristeza quase imperceptível, mas, como o bom observador que era, ele não deixou passar. Aparentemente, ela queria trabalhar na sua área de formação, mas não era infeliz com o que fazia.
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Right By Your Side
Lãng mạnRoger Taylor se vê surpreso ao reencontrar uma amiga de infância em uma noite qualquer nas terras de Londres. Ele só não esperava que esse acontecimento repentino fosse, de certa forma, alterar o curso da sua vida.