Capítulo III.

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Scarlett levantou-se cedo naquela manhã de quinta-feira. Após tomar um longo e demorado banho de água quente, desceu os degraus da casa, caminhou até a cozinha e abriu a geladeira. Nela, haviam ovos, suco, leite, manteiga, uma certa variedade de pães e algumas fatias de bolo. A indecisão era grande, principalmente porque ela gostava de tudo aquilo o que ela via. Ponderou por alguns longos segundos, até que optou por uma fatia de bolo de baunilha. O doce sempre vencia no final.

— Meu Deus, você quer me matar do coração?! — Ao virar-se, deparou-se com Roger Taylor parado logo atrás dela. Involuntariamente, ela levou a mão até o coração, a respiração estava levemente ofegante.

Roger apenas gargalhou da cara dela, ainda que não tivesse feito absolutamente nada para assustá-la. De qualquer forma, havia sido uma situação bastante engraçada. E ele nunca perdia uma oportunidade de dar boas risadas, principalmente se fosse da cara dos outros.

— Por um segundo, eu achei que fosse morrer — ela retomou a fala e, por incrível que pareça, estava falando sério. — Desde quando você é o segundo a acordar?

Mais uma vez, ela agia como se conhecesse e soubesse tudo sobre ele. Aquilo o irritava profundamente, era agoniante. Eles não se viam a anos, as coisas haviam mudado. Haviam mudado para ela e haviam mudado para ele. Os dois haviam mudado. Entretanto, no fundo, ele sabia que se irritava justamente por ela mostrar conhecê-lo tão bem, mais do que ele gostaria.

— Eu não dormi bem essa noite. Deve ser a fase de adaptação. — Deu de ombros. — O que temos para o café da manhã?

— Pães, ovos, bacon, bolo, suco, leite — respondeu, adotando uma feição levemente pensativa. — É só abrir a geladeira e ver, senhor preguiçoso. — Apontou para o objeto. 

— É, acho que vou esperar o Deaky preparar o café da manhã dele e roubar a metade. — Aquilo soou tão natural, que mais parecia um hábito do que consequência da preguiça daquela manhã. — Então, como veio parar aqui? — ele perguntou, sentando-se em uma das cadeiras da cozinha.

Scarlett fez o mesmo, caminhou até uma das cadeiras de madeira e acolchoada, sentou-se ao lado dele e, logo em seguida, experimentou um pedaço de sua fatia de bolo de baunilha.

— Quando a mamãe faleceu, as coisas ficaram complicadas, era menos uma pessoa trabalhando, entende? — Ela ainda odiava ter que falar da mãe no passado, aquilo a machucava profundamente. — E, bem, em Londres o custo de vida é mais caro, então eu realmente precisava de um emprego para ajudar com as despesas. Papai trabalhou com gravadoras desde, praticamente, sempre. Ele me colocou nesse meio e eu comecei a trabalhar com ele. — Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. — E eu sou uma ótima aprendiz, então, aos poucos, fui pegando o jeito e agora eu estou aqui — explicou. — Eu ajudo com as gravações e com a administração, sou quase uma "faz-tudo".  — Fez aspas com os dedos.

Roger a olhava, quase que admirado-a. Se parasse para pensar, talvez eles não fossem tão diferentes assim. Roger era um biólogo focado na música, e Scarlett uma escritora igualmente focada na música, apenas de um jeito diferente. Chegava a ser cômico, na verdade, que pessoas tão diferentes pudessem, ainda assim, ser tão parecidas. Ele não costumava acreditar em coincidências ou em baboseiras como o destino, mas ela provavelmente era o mais próximo disso que ele havia chegado. Eram coincidências em cima de coincidências, começando pelo dia no bar.

— É até engraçado, porque eu realmente nunca trabalhei com letras. — Uma risada fraca escapou de seus lábios rosados.

Havia um tristeza quase imperceptível, mas, como o bom observador que era, ele não deixou passar. Aparentemente, ela queria trabalhar na sua área de formação, mas não era infeliz com o que fazia.

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