Elena acorda assustada com barulho de tiro. Outro. Outro. Outro. É uma sequência incontável. Ela toma a iniciativa de abrir a gaveta do criado, onde guardava a arma que ganhou de seu marido. Tremendo e com o coração a mil, tenta respirar fundo antes de tomar qualquer decisão. O sol já havia nascido e com a arma em punho, a mulher desce calmamente as escadas. Era cedo, provavelmente Leda não havia chego para o trabalho, mas aquilo não foi a preocupação no momento. Elena estava com medo de continuar os passos e encontrar alguem morto em alguma parte da casa, especialmente seu marido.
Continuava à ouvir tiros. Passou pela cozinha e a porta dos fundos estava aberta. Como uma caçadora, saiu em posição de defesa para fora da casa. Rico estava treinando, enquanto atirava contra um boneco gigante. Elena não sabia se metia uma bala na testa do seu marido ou o beijava por não estar morto.
- Rico Salvatore! Argh! - esbravejou. Estava muito puta com susto que ele lhe dera.
Rico não ouviu. Estava com um protetor de ouvidos e Elena poderia xingá-lo de todas as formas possíveis, que não haveria defesa de sua parte. Ela, de longe, aproveitando que seu marido havia parado para repor balas, mirou na cabeça do boneco e atirou perfeitamente no meio dos dois olhos. Rico se assustou, se virando imediatamente com a arma em posição.
- Que susto, Elena. - Suspirou aliviado por ser a sua esposa.
- Susto? Susto, Rico? Eu estava dormindo quando ouço barulhos de tiro. Desci as escadas achando que o encontraria morto. - foi falando enquanto andava pra perto dele e quando chegou, estapiou seu marido com uns tapas leves.
Ele sorriu, a abraçando e acongechando-a em seu peito. Elena ainda estava nervosa.
- Você não vai me perder tão cedo, amore mio.
- Dio! Não me apronte mais outra dessas.
- Prometo que não.
Rico desistiu de continuar seu treinamento. Puxou Elena para dentro de casa e a levou para a mesa do café. A mesa já estava devidamente organizada, com tudo que eles mais gostavam de comer. Leda havia saído para fazer as compras do café, por isso a mulher não a encontrara na casa. Rico puxou a cadeira para que ela pudesse se sentar e assim, ela pôs as mãos no cabelo. O coração ainda saltitava e a respiração estava um tanto ofegante.
- Está melhor?
- Sim.
- Desculpe, Elena. Não era minha intenção.
- Tudo bem. Eu só... preciso me acostumar.
Ele sorriu. Gargalhou, na verdade.
- O que foi? - ela o repreendeu.- Você desceu pra me proteger caso alguém estivesse aqui?
- Foi. Mas quando vi que não era nada, deu-me vontade de usar as balas em você, seu pagliaccio.
Rico se inclinou poucos centímetros e depositou nos lábios de Elena, dois beijos molhados. Há dias não sentia o gosto dela. Elena retribuiu, passando os dedos leves em sua face... era tão delicada. Ele sorriu, se afastando novamente dela.
- Agora sei que estarei protegido.
- Ou não. Posso usar ela contra você.
Ela não seria louca de chegar a tal ponto.
- Você não seria louca.
- Não mesmo. Minha cabeça estaria em uma bandeja nesse momento.
- És filha de Marco, acha mesmo que seus cabelos castanhos estariam em uma superfície de aço?
- Prefiro não arriscar. - Leva um copo de suco à boca.
Eles conversavam como se fosse um assunto comum e aquilo era assustador pra quem ouvisse. Sorte de Leda, coitada, que estava na cozinha e não presenciou tal cena. O papo não se estendeu. Rico recebeu uma ligação e diferente das outras vezes, continuo no mesmo lugar e atendeu o chamado. Era Marco.
- Buongiorno, chefe.
- Preciso que viaje para o México. Cásio teve problemas por lá. - Disse seu sogro do outro lado da linha.
- Cazzo! Aquele figlio di una cagna ainda vai estragar tudo. Já falei que aquele verme não viaja mais. - Rico parecia irritado.
- Yndi mandou-o sem me consultar. Vou matá-lo! - talvez fosse verdade.
- Saio em uma hora.
Ele desliga. Rico vira-se para Ramiro à postos perto da escada.
- Ramiro, prepare o jatinho. Partirei para o México em poucos minutos.
Ele se levanta da mesa e vai para o quarto. Estava tão irritado que sequer falou com sua esposa, o que deixara Elena triste, pois contava que os problemas fossem divididos ou sequer ele fosse avisar que estava de saída para outro país. Ela não se contentou com a atitude do marido, também subiu para o quarto.
- Não vai falar comigo? Sequer me avisar que vai viajar?
- Eu ainda não sai, Elena.
Rico estava arrumando uma pequena mala com roupas e algumas coisas que iria precisar. Quando pede para Ramiro preparar o jatinho, o homem já entende e abastece-o com todo o porte de arma que tem, o que faz Rico não precisar levá-las na mala, apenas a que carrega sempre consigo.
- Pelo visto irá passar muitos dias. - Observa a mala.
- Talvez.
- O que houve?
- Não tenho tempo para explicações, Elena.
- Você nunca tem. Sou sua esposa. Mereço saber pra onde meu marido vai, o que vai fazer e com quem vai.
- Vou para o México com Ramiro e outros. Tudo bem pra você?
- Só isso? - cruzou os braços esperando um complemento para a explicação.
- Dio! Queres que eu perca a paciência logo pela manhã?
Rico estava tentando manter qualquer paciência que ainda lhe restava, mas sua esposa não colaborava. O homem não era acostumado a dar satisfação sobre suas viagens e problemas relacionados a máfia, então ainda precisava se adaptar. Elena partiu a passos duros de volta à sala. Não iria mais atrás para saber pra onde iria ou o que iria fazer. Se morresse, ela jurou não se importar.
Sentada na mesa, de costas para a porta de saída, ainda terminando seu café da manhã, Elena fingiu ler um livro e não ligar para qualquer atitude que seu marido fizesse atrás. Só ouviu a porta bater e mais nada, a partir daí teve a certeza de que ele havia saído. Suspirou e tentou não se afetar por tamanha falta de consideração vindo de Rico, mas estava foda. Instantaneamente Elena recebe uma ligação de sua mãe. Mãe tem o poder.
Conversaram por quase duas horas. Aquele dia Elena decidiu fazer algumas compras e visitar novamente a livraria na qual estreou seu livro. Havia deixado alguns exemplares lá e voltaria para saber como andavam as vendas. Estava ansiosa para saber a reação do público ao seu livro.
Quando retornou pra casa, ja era quase noite. Passou o dia com o celular na mão e sequer recebeu uma mensagem ou ligação de Rico. Não sabia se ficava preocupada ou com raiva. Talvez os dois. Em cima da mesa observou o seu livro. Rico estava realmente a ler ele, passava da página dezoito e Elena sorriu, ao imaginar como aquilo não combinava com o seu marido. Se despiu e foi para o banho. Não queria pensar mais ou ficar esperando um sinal de vida de Rico. Também não iria ligar, sabia que se acontecesse algo, Marco, seu pai, saberia e sua mãe não hesitaria em avisá-la.
Antes de deitar-se na cama, conferiu se os soldados ainda estavam à postos na sala e suspirou aliviada por pelo menos Rico pensar em sua segurança. Leda havia saído cedo, já que Elena não almoçara em casa. Ao seu lado, conferiu a arma. Aquela seria a sua vida e já deveria ter se acostumado. Ora teria o seu marido na cama, ora não. Não podia reclamar. Foi treinada exatamente pra ser a mulher do poderoso chefão e aquilo, para qualquer uma, seria o maior prêmio. Para Elena era comum. O dinheiro ou status nunca foi prioridade em sua vida... Talvez, nesse momento, preferia ter o seu marido do jeito que fosse, com o dinheiro que fosse, do que saber que ele estava em algum lugar correndo risco de morte.
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DONO DE TUDO - Trilogia: Guerra por Amor #1
RomanceUma Dalylova prometida a um Salvatore. Elena, filha de um dos homens mais poderosos da máfia italiana teve que se casar com o braço direito de seu pai, Rico Tuniê Salvatore. Um homem alheio a qualquer sentimento e sem intenções de um dia amar, se v...