Não conseguia dormir, mesmo que estivesse fisicamente cansada minha mente não queria descansar, não até que algo mudasse. Cansei de investir na tentativa de cair na inconsciência e abri os olhos, o quarto estava levemente claro, com o sol que adentrava a janela, pareciam ser 6:00 da manhã.
Ao levantar resolvi tomar um banho e preparar um bom café, sem café eu suponho que provavelmente a parte da humanidade que se ocupa com ideias e hipóteses durante o dia todo não teria sobrevivido.
Parecia que o dia seria bonito, o sol começava a tomar conta de todo o banheiro, e eu pensei que talvez devesse respirar um pouco, precisava esquecer por um instante aquilo que me tirava a paciência e estranhamente eu só conseguia pensar em uma coisa que me pudesse trazer um pouco de distração, eu almoçaria fora e depois faria compras, me lembrei de que precisava de alguns sapatos novos.
Verônica era minha amiga inseparável, porém depois de ontem eu realmente achava que era momento de deixar as coisas esfriarem um pouco, ao menos por um dia, então como de habitual peguei meu telefone e mandei uma mensagem de bom dia à minha amiga e aos meus pais.
Eu me lembrei de que desde aquele dia não havia mandado mensagem a Daniel, seria um ato de educação fazer isso até porque ele havia sido gentil comigo e provavelmente agora deveria me achar um tanto indiferente. Comecei a vasculhar meus contatos à procura do seu nome e finalmente achei, uma foto de perfil que me parecia adequada a alguém casual, ou ao menos básico, um tanto séria. Resolvi mandar uma mensagem logo, ser educada, não havia nada de demais nisso, eu queria mostrar reconhecimento e simpatia, ou então... Bom, é um cara que conheci e agora vou dar um "oi" é só... Então digitei um "Oi Daniel", porém achei um tanto íntimo e apaguei, achei que um "Bom dia" caberia melhor e mandei. Ele era um homem ocupado, médico, com muitos afazeres imagino eu, então deixei meu celular e fui preparar meu café.
A cozinha estava limpa, ficar tanto tempo fora de casa e fazer suas refeições em restaurantes e padarias tem suas vantagens: louça zero! Meu estômago roncou, liguei a cafeteira e escolhi um expresso clássico. Decidi firmemente incluir mais fibras em minha dieta como recomendava uma amiga minha, por coincidência minha nutricionista, Elisa. Peguei um pacote de aveia, banana, alguns ovos, mel e canela, eu tentaria fazer uma panqueca. Corri para meu celular, iria procurar por uma receita na internet, qualquer coisa que me ajudasse, eu e minha falta de dotes culinários.
Ao ligar o celular vi novas mensagens, as últimas eram de minha mãe, as primeiras de Daniel. Tinha que admitir que ele gostava de acordar cedo e que tinha me respondido mais rápido do que eu esperava. Decidi responder o seu "Olá Emily! Como vai?" logo, então falei "Estou bem!, e você, como está?".
Resolvi continuar minha tarefa, levei meu telefone comigo até a cozinha, me esqueci do que estava fazendo, forcei minha memória e me lembrei: Emily, você quer fazer uma panqueca! Selecionei a primeira que vi, me parecia melhor do que qualquer coisa que eu estava acostumada a fazer. Juntei tudo, levei à frigideira e pronto! Usei uma pasta de amendoim como recheio, me lembrando atenciosamente dos conselhos de Elisa, que me mandava sempre uma lista de sugestões para as compras e para meu desjejum.
O café já estava pronto a minutos, resolvi pegar logo e comer, antes que estivesse mais frio ainda. Enquanto eu saboreava aquele refeição tão aparentemente saudável checava minhas mensagens, do meu conhecido que aparentemente parecia tão desocupado quanto a mim naquela manhã.
- O que faz de bom? - li de Daniel.
- Na verdade só me surpreendendo por ter conseguido preparar meu café da manhã sem causar um incêndio - digitei.
- Aposto que deve ter ficado ótimo, você só precisa de prática, Emily! No começo eu também não me sentia tão confiante em cozinhar.
- Acho difícil de acreditar, porém se você diz...
Até estava rindo com o apreciável senso de humor de Daniel, estava imaginando as coisas ditas por ele, enquanto passava uma outra coisa por minha mente: Seria estranho convidar Daniel para um almoço no shopping?... Bom eu não sabia, resolvi desistir, caí em mim e vi que já estávamos conversando a mais de uma hora, ele me falava de como fora sua infância, das coisas que gostava de fazer e me perguntava coisas a meu respeito, era atencioso ao que me parecia, então me lembrei de Henrique, aquela sensação de receber mensagens atenciosas de um homem de manhã.
- O que pretende fazer hoje? - meu novo amigo me perguntou.
Bem, era a hora de dizer que eu estava prestes a preencher papelada, buscar respostas para os casos em andamento ou até mesmo passar um tempo com minha mãe, só que... Eu comecei a achar tão irônico aquela pergunta depois daquela ideia que me percorreu a mente. "Não Emily, não tem problema... Espera, não seria estranho sair com alguém que eu mal conhecia?" - ouvi a minha cabeça se questionar repetidamente. Não, eu só quero um tempo, um tempo...
- Eu estou pensando em sair, almoçar fora em um restaurante no shopping Center da cidade. Você gostaria de me acompanhar? - eu digitei devagar, confusa quanto às palavras que saiam, apertei o "enviar" antes de voltar atrás, odeio meu arrependimentos idiotas.
- Eu acho que vou aceitar, porque estou sem planos para hoje! Kkk - li.
- Então podemos nos encontrar em frente à entrada principal às 13:00? - falei.
- Claro, me espere lá!
- Combinado! - disse.
Estava tudo certo, não dava mais para mudar de ideia, eu já tinha marcado. Talvez fosse bom para mim, ou talvez eu estivesse sendo precipitada, era só um "oi" mas olha como eu fui além... De qualquer forma era estranho dizer que uma leve ansiedade me percorreu ao soltar o telefone. Olhei para a janela e pensei que era mesmo um lindo dia!
Após levantar me dei conta de que já eram 9:00, eu precisava limpar os pratos do café, arrumar minha cama, checar minhas correspondências e me arrumar! Eu era como uma empregada jovem, distraída e ambulante, não queria admitir para mim mesma que estava ansiosa e pensando em como seria meu dia daqui a algumas horas, em como seria o olhar do Daniel me olhando quando me visse em sua frente, na forma como ele me cumprimentaria... De repente acordei e me vi varrendo o chão. Raios, eu nem estava pensando em varrer!
Me sentei e fiquei entretida com minha mente que corria a mil: que roupa eu usaria? E meu cabelo? Comecei então a fazer as combinações possíveis de trajes e penteados. Será que Daniel achava mais atraente algo mais ousado ou tradicional? - me toquei e pensei que a palavra atraente era algo forte para alguém que sairia apenas para passar um tempo, para uma conversa entre duas pessoas que só se viram uma vez.
Quando vi que eram 11:30 corri para o banho, eu deveria mostrar pontualidade, afinal um médico é convenientemente organizado, metódico e pontual, não gostaria de me mostrar inconveniente, já lembrando que nosso primeiro encontro não havia tido um clima socialmente agradável, eu descalça, descabelada e perdida, como uma bêbada qualquer.
Estava decidido, eu usaria algo básico porém levemente sensual. Escolhi uma blusinha preta, do tipo alça em V, elegante na medida certa para o ambiente, além de jeans escuros, saltos médios e um par de brincos leves, prateados. Meu cabelo seria natural, solto, e a maquiagem algo simples, sem exageros ou grandes elaborações. Escolhi um tom de nude para o batom, uma base leve, rímel e pronto.
Antes de sair, às 12:35 me lembrei de que tinha esquecido meu celular, então dei meia volta e o peguei na cozinha, me apressando pois da minha casa até lá seriam uns 20 minutos.
Dei a partida, não tão ansiosa quanto um tanto empolgada, eu me sentia estranhamente bem.
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Pra Te Fazer Lembrar
Lãng mạnE se a felicidade te visitasse novamente após 6 anos, como seria? Emily Lamartine é uma jovem aparentemente forte, independente, elegante e decidida, porém nem sempre um sorriso significa felicidade. Uma série de fatos começam a acontecer em pouco t...