Quando amanheceu eu não sabia mais quem eu era, minha cabeça doía e quando abri os olhos me deparei com uma cena nada peculiar... Eu estava numa floresta, sim uma floresta! Haviam árvores por todo lado, eu estava sozinha, com a mesma roupa de ontem, graças a Deus eu tinha deixado minha bolsa com meu celular no carro, mas enfim, onde estava Catarina e o cara com quem eu tinha dançado? Que lugar era esse? O que tinha acontecido comigo?
Como eu não sabia nem que horas eram, saí correndo em direção reta ao primeiro caminho que vi à frente. Depois de um tempo comecei a suar muito, fui parar em uma rodovia deserta, parecia até aqueles filmes de terror, de quando alguém foge e se depara com a saída. Não parecia haver nada por ali além das árvores e de mim, nenhum carro passava para matar a solidão do cenário.
Por que eu tinha que ter ido para aquele bar? Eu podia ter sido paciente e ter esperado o trânsito passar, aposto que Catarina vira alguém me tirar de lá enquanto eu estava dopada e não fizera nada para me ajudar, talvez ela mesma tivesse dado a ideia ao meu suposto sequestrador, era uma hipótese, eu tinha que juntar as informações e tentar lembrar o que tinha acontecido na noite passada. Me joguei ao chão da estrada e comecei a pensar, de repente resolvi fazer o que qualquer pessoa faria no meu lugar.
- Tem alguém aí? Eu estou perdida - gritei o mais alto que pude.
Ninguém tinha ouvido, eu tinha certeza, aquilo não era bom, se ao menos meu celular estivesse ali. Será que eu estava inteira? De repente comecei a checar parte por parte do meu corpo em busca de qualquer sinal do que poderia ter acontecido comigo.
Andei por um bom tempo, parecia uma estrada para o nada, o cenário nunca mudava, não tinha sinal de vida em lugar algum. O tempo mudou de repente, aquele clima outonal tinha dado espaço a um vento frio, rigoroso, lamentei por não ter um casaco. Já estava tão cansada de andar e gritar, meu relógio mental apontava que eu já estava nessa há pelo menos 4 horas.
- Por que não tem ninguém nessa droga de lugar? - berrei ao me jogar no chão, onde fiquei até adormecer de novo, a dor de cabeça infernal que eu sentia junto à raiva e ao frio me ajudaram a adormecer.
Senti algo tocando meu rosto, era úmido, fazia cócegas... Ao abrir os olhos dei de cara com um cão, estava lambendo meu rosto, ao que me parecia era um Husky Siberiano branco e preto, era lindo. Não consegui me mover, já estava quase escuro, o céu estava aparentando 18:45.
- Oi amiguinho - passei a mão sobre seu pelo, ele retribui com mais lambidas.
- De onde você veio? - sentei.
O cachorro começou a andar com pressa, eu o segui, talvez seu faro me levasse a algum lugar em que eu pudesse comer, eu não fazia isso há horas. Quando ficou totalmente escuro, o cãozinho era quase impossível de se ver, eu me esforçava, seguia quase correndo, aí avistei um carro parado no meio do nada.
- Tem alguém aí? - Perguntei.
Como ninguém respondeu, abri a porta e me surpreendi, tinha meu cheiro ali, corri para analisar a placa, era meu carro! Que raios ele estava fazendo ali e vazio? Entrei e deixei que meu amigo me acompanhasse. As chaves estavam no banco do passageiro. Resolvi ligar e dirigir naquela estrada infinita.
De repente o carro parou, eu estava sem gasolina, nenhum ponteirinho. Fiquei ali por alguns minutos, abracei o cachorro e fechei os olhos, até que ele começou a latir muito, muito mesmo.
- Ei, estou te machucando?
Ele latia em direção à porta. Abri-la, ele correu. Resolvi dormir um pouco, pelo menos o carro era confortável, tranquei as portas e apaguei.
- Meu Deus, você não sabe o que quer - falei para o cão ao acordar pela manhã com seus latidos.
Saí do carro, e andei devagar até onde ele me levava, era uma praia!! Me apressei e comecei a correr em direção à areia. Como o tempo estava bem frio resolvi não me molhar por enquanto. Bem... Se ali tinha uma praia eu deveria estar perto da civilização. Mas por que meu carro estava ali? Será que a pessoa que tinha me trazido para cá estava por perto?
- Vou chamar você de Max - passei de leve a mão sobre sua cabeça. - Você já é de alguém?
Ao receber tantos carinhos meu companheiro acabou dormindo embaixo de uma árvore qualquer perto da areia, eu comecei a sentir algo estranho, tudo estava embaçado, tanto minha visão quanto audição, estava tonta, com frio e enjôo. Cambaleei até o mar, bebi água e lavei meu rosto, com o vento ele secara rápido, eu estava melhor mas precisava comer algo, ter bebido aquela água não era confiável mas acredite, na necessidade você vira outra pessoa.De repente avistei bananeiras, elas ficavam a uns 5 minutos dali se eu corresse. Encontrei forças e corri.
- Max - berrei, vi que o cão me seguia, aumentei a velocidade.
Ao chegar lá, trepei nos galhos e arranquei um cacho enorme de bananas, comecei a descascar e devorar, ao menos quatro, de repente seis, mas não bastava, faltava algo, talvez uma carne.
-Não, eu não vou comer um cachorro - pensei.
Eu nunca tinha pescado, meu pai tinha tentado me ensinar mas nada eu tirara de proveito, e por falar, que saudades de papai, aliás que saudades de qualquer um.
- Caranguejos? - me perguntei ao ver um. - Não - pensei comigo mesma. Eu mal me sentia bem comendo frango ou carne, quem dirá um outro bicho.
Arrastei o cacho até o carro, coloquei tudo lá e me tranquei, resolvi ficar por ali. Enquanto Max se ajeitava no banco passageiro eu me arrumava bem atrás. Comecei a pensar em como eu realmente não tinha ninguém no momento, em como eu me isolava quando tinha um mundo de pessoas ao meu redor, em como meu lado esnobe e reservado selecionava cada indivíduo para tentar entrar em minha vida. Não era bom, eu não era justa, uma ironia para uma advogada, um exemplo para todos, uma decepção para mim mesma.
Encostei a cabeça no banco, fechei os olhos.

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Pra Te Fazer Lembrar
Roman d'amourE se a felicidade te visitasse novamente após 6 anos, como seria? Emily Lamartine é uma jovem aparentemente forte, independente, elegante e decidida, porém nem sempre um sorriso significa felicidade. Uma série de fatos começam a acontecer em pouco t...