Tarde em Família

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O caminho parecia bem mais longo, sinceramente eu estava bem nostálgica do abraço de mamãe, das piadinhas incontáveis de papai e de sua cega confiança em mim, de todo aquele sentimento de estar com quem se ama.

Depois de uns 17 minutos consegui ver a rua que me servira de lar por boa parte da infância, os vizinhos andando pela calçada, alguns com os mesmos rostos, outros que eu desconhecia ou não me recordava devido à ação do tempo, crianças correndo de mãos dadas, até mesmo os cachorros de rua me pareciam familiares naquele lugar.

Ao ver várias casas passarem e depois algumas árvores também afetadas pelo outono pude ver a fachada da casa de meus pais, parei o carro bem em frente ao portão e buzinei esperando que alguém viesse e o abrisse, e foi o que aconteceu, Lorenzo, meu irmão veio correndo e abriu o portão para que eu entrasse.
Depois de estacionar o carro de forma descuidada na ampla estrada de terra do jardim aparentemente bem cuidado, abri a porta e fui cumprimentada por Lorenzo da maneira mais maravilhosa que um irmão pode receber sua irmã em sua casa depois de um período sem a ver:

- Sua besta! Quanto tempo que não vejo minha baixinha - disse ele enquanto me levantava no ar.

- Meu Deus! Quem é você ? - perguntei.

- Hahaahaa, parece que além de baixinha continua sarcástica né mana ?

- E você continua imaturo. - Após dizer isso refleti por um instante e concluí que ele estava correto mesmo, além de sarcástica ainda mantinha intacta ao lado de meu ego a mesquinhice.

- Sério Emily, você sumiu o que tá rolando? - disse ele com tom de preocupação.

- Ei, vamos conversar lá dentro pode ser? Mamãe e papai estão aí ?

- Pra sua sorte sim, eles chegaram agora há
pouco, aposto que você só veio por causa deles né ?

- Eles me ligaram mais cedo e convidaram para uma tarde em família - sorri de leve.

- Ahh tá , entendi. Então siga o cavalheiro madame.- Lorenzo fazia cócegas em minhas costas enquanto andávamos.

Ele realmente não havia mudado em nada, tanto em aparência quanto em personalidade, moreno, alto, olhos castanhos, bom senso de humor. Isso era bom e ruim, ele mantinha fixa sua originalidade, porém não evoluía nem agradava o senso crítico de papai.

A casa aparentava a mesma, a piscina ao lado de fora, os carros estacionados, a arquitetura também não mudara nesses meses, o grande sobrado continuava o mesmo com seu visual tradicional, mantendo bem o caráter da família Lamartine.
Ao entrarmos pela porta da sala, vi papai dormindo no sofá, tudo estava silencioso, para minha surpresa o interior da casa também era o mesmo, o cheiro de infância estava ali, ao olhar para o sofá que eu tanto pulava aos 6 anos de idade, ao sentir aquela força interior que me fazia lembrar de como a Emily de seis anos atrás se sentia, e quando eu me referia ao cheiro da infância eu não me enganara, percorri a sala iluminada sorrindo para meu irmão , nós dois em silêncio até chegarmos à sala de jantar e depois à cozinha. Lá avistei Carmem, a empregada doméstica de meus pais e bem ao seu lado estava mamãe com seus caracóis castanhos, as duas estavam cozinhando algo, mas o cheiro que vinha da panela já denunciava que eu realmente não jantaria em casa hoje, estrogonofe de carne era realmente uma das melhores lembranças da cozinha que eu tinha.

- Mãe? Olha só quem tá aqui. - gritou Lorenzo.
Mamãe virou tão rapidamente junto com Carmem que mal pareciam se importar com as cascas de batata que o grito de meu irmão levou ao chão .

- Emily! - Ela correu até mim cuidadosamente e me abraçou de forma leve, olhei para seu rosto e sorri, ela continuava lindíssima, os traços finos se assemelhavam aos meus, porém meus lábios não tinham toda aquela espessura, soltei um oi bem alto e animado que chegou aos ouvidos de todos na cozinha.

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