Minha promessa estava de pé, então era isso. Levantei o mais cedo que pude, às 5:00 da manhã, passei no escritório para dar uma olhada na papelada, eu não tinha perdido muito enquanto estive fora. Eu teria que esclarecer minha ausência e dar um motivo para isso, e qual seria?
Aparentemente tudo estava em paz, ninguém tinha chegado ainda, aproveitei para terminar uns relatórios do caso 37, o que eu estava trabalhando até o acontecido. Depois de checar uma pilha de outros papéis entrei no sistema de ausência para funcionários gerais e no meu nome estava constando presença nos dois dias anteriores, será que Catarina teria feito aquilo para se poupar de uma demissão? O que era aquilo eu não sabia, mas no fundo era bom.
Quando os funcionários chegaram e começaram a executar suas funções, saí da sala e procurei por Catarina, mas ela não parecia ter chegado ainda. A maioria do pessoal ali me encarava com ar de dúvida e curiosidade, aposto que estavam tão curiosos quanto eu, porém de uma forma diferente. Seria bom se ninguém soubesse de nada, boatos e fofocas surgiriam sendo que aquilo envolvia algo sério e de extrema mudança da minha imagem social e até mesmo pessoal.
Quando eram 13:00 da tarde, aproveitei minha ida ao banheiro após o horário de almoço e dei uma leve olhada pela sala exterior, a secretária realmente não viria hoje, suspeito. De qualquer forma conversei com algumas colegas de trabalho da loira dando a desculpa de que eu tinha caído de uma escada e precisado de repouso para explicar minha ausência, porém isso não serviu de nada, nem mesmo a peguete do meu irmão, a Mariana sabia de algo que pudesse explicar a falta de Catarina, então resolvi mudar de assunto e levar a conversa a um rumo realmente profissional.
- Tiveram problemas na minha ausência? O que aconteceu? - foram minhas palavras enquanto meu psicológico dizia outra coisa em meu subconsciente.
Após ouvir mesmices de sempre, fiz o que tinha que fazer e saí dali, fui visitar minha mãe, Lorenzo e papai tinham ido pescar, só eu e mamãe estávamos ali, até mesmo a empregada doméstica havia saído mais cedo para resolver problemas pessoais.
- Mãe, como ficou sabendo que sumi por dois dias?
- Verônica foi te visitar e o carro não estava lá, o pessoal do escritório ligou para mim para perguntar de você Emily, como acha que eu não saberia? - ela perguntou enquanto parecia impaciente sentada no sofá.
- Você vai ficar feliz quando souber o motivo - sorri.
- Ao menos você está na minha frente amor, está viva ainda, certo?
- Mãe, eu não ia fazer isso, está fora de cogitação, o motivo pra eu ter sumido é o oposto de tudo que está passando pela sua cabeça agora, explique isso pro papai também, ele deve estar preocupado.
- Não enrola mais querida, você arrumou alguém? - ela arregalou os olhos e pude ver o chá em sua xícara balançar devido à crise de tremedeira com a possível hipótese.
Pensei por um segundo, se aquilo seria uma desculpa perfeita tinha que existir na cabeça da minha família.
- Como você percebeu? - ri.
- Ahh meu Deus, que ótimo Emily - minha mãe se levantou e veio em minha direção para me abraçar - Seu pai deveria estar aqui agora, que droga!!
- Calma mãe, eu sei que você vai espalhar por aí - comecei a rir tentando parecer relaxada e passar confiança.
- Filha me conta tudo, você passou esse tempo com ele? Como ele é? Ele é... - ela iria fazer um questionário se eu não interrompesse.
- Ele é... - estava confusa sobre o que falar, até que me veio Daniel na cabeça - Médico. Sim passei esse tempo na casa dele. Nos conhecemos há pouco tempo mas rola algo.
- Hmm um médico!! - Ela começou a sorrir de canto - Que química, aposto que vai rolar sim algo, por que você não me falou antes? O escritório deve tomar muito seu tempo querida, vá viver um pouco.
- Não, eu coloco o trabalho em primeiro lugar sempre, você sabe mãe.
- Que nem seu pai, vocês têm a mesma hipocrisia, veja só ele, está casado e aposentado agora.
- Cada coisa tem seu tempo, pra mim é assim - falei - Mãe, saí do trabalho agora pouco, to morrendo, vai me visitar um dia pra gente conversar mais.
- Tá amorzinho, vou sim - minha mãe me deu um beijo no rosto e eu voei para o carro.
O céu já estava escuro, o carro me trazia uma lembrança, sim... Da noite anterior. Eu me lembrei de que nem tinha mandado a mensagem para Daniel, enfim, aquelas possibilidades e pensamentos em minha cabeça me tiravam qualquer outro que não pertencesse ao quebra-cabeça do meu maior caso. Eu precisava seguir evidências e pensar no cara que tinha me ajudado na noite anterior, seria importante porque querendo ou não ele era suspeito, tinha aparecido no meu carro do nada, talvez ele mesmo tivesse me levado ali, sumido e depois voltado novamente. Por que eu tinha confiado e me permitido ir até sua casa? Pior, eu tinha comido a comida dele, dito onde eu morava... Não era inato a mim, eu costumava pensar minuciosamente antes de acreditar em algo ou alguém; que erro eu tinha cometido, uma postura e atitude tão erradas num momento crucial.
Eu tinha que lembrar daquele rosto de segunda à noite e tentar assimilar com o de Daniel, mas realmente pelo que me lembrava não tinha nada a ver, O cara tinha luzes loiras, enquanto Daniel tinha cabelos escuros mais puxados para um castanho médio, além disso o homem era mais baixo e não tinha o mesmo olhar. E se eu... Fosse no Free Bar? - pensei comigo mesma. Por que não ? Seria minha chance de tentar lembrar mais coisas. Ouvi o telefone tocar, parei no acostamento e atendi.
- Alô ?
- Sua idiota, o que está acontecendo? - ouvi a voz alta de Vera.
- Amiga, é complicado mesmo, a gente pode se encontrar no Free Bar novo que abriu na esquina do meu escritório?
- Fazer o que né... Mas nossa no Free Bar é? To gostando de ver!! Será que o motivo pra sua sumidinha foi a farra?? Brinks more.
- Olha a precipitação.
- Beleza gata, te vejo já já hein - ela desligou.
Realmente, eu tinha uma amizade para a vida inteira, Verônica era muito paciente comigo, talvez esse fato fosse responsável pela nossa longa e linda amizade de milênios. Eu reservada, ela tão faladeira, uma química e tanto!!
Virei na próxima rua, eu pegaria um atalho até o Free Bar.
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Pra Te Fazer Lembrar
Storie d'amoreE se a felicidade te visitasse novamente após 6 anos, como seria? Emily Lamartine é uma jovem aparentemente forte, independente, elegante e decidida, porém nem sempre um sorriso significa felicidade. Uma série de fatos começam a acontecer em pouco t...