Eu, Vera & Talvez Um Culpado

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    Minutos depois que sentei numa mesa bem na entrada do Free Bar senti alguém me cutucar, e como suspeitava era Verônica Novaes.

- Ei, sua louca, finalmente te achei! Por onde esteve? Ou melhor, com quem esteve? - a loira me abraçou e gritava como se fosse o fim do mundo.

- Bem... Me escuta primeiro e depois pode me matar - respondi em tom quase mudo.

- Eu quero saber de tudo Emily, de tudo, ouviu?

- Vera, pode parecer muito clichê ou idiota, mas eu quero que você se sente comigo aqui hoje, e que beba como se não houvesse amanhã, eu sei... Te explico depois, é louco , mas só faz isso, tá?- eu pensei que tentar reproduzir o ocorrido naquela noite seria uma boa forma de adotar hipóteses, excluí-las ou ao menos de me esquecer dos problemas de novo.

- Você já bebeu sem mim? - ela perguntava inquieta - Você só pode estar brincando, eu achando que você tinha sofrido um acidente, sendo que esse tempo todo você só estava desconsolada enchendo a cara por aí, né sua chapada? - agora seu tom era de preocupação, como o de uma mãe que encontra a filha adolescente bêbada por aí.

- Não, eu não tenho bebido dessa forma, só quero fazer um teste, eu devia ter te explicado o motivo antes, mas não posso perder tempo, só quero que confie em mim nessa noite, Vera. - eu usava o tom mais persuasivo possível, algo quase comercial.

- Olha, eu devia cuidar de você, te impedir de fazer mais merda, seja lá o que você tenha feito nesses últimos dias, mas como eu te conheço, eu sei que ir contra a sua decisão tomada é besteira, então...

- Ótimo! - interrompi - Olha, eu quero que você finja que está conversando comigo sobre qualquer coisa fútil e banal, e que fique atenta. Caso veja um homem me encarando demais, seja por interesse ou outra coisa preste a atenção em seu rosto, se possível tire uma foto - falei.

- Tudo bem, mas você promete me explicar tudo depois?

- Sim, é o que pretendo, e de forma clara - falei.

    Vi uma piscada leve na face de Vera, aquilo era o sinal que eu esperava, estava acionado o meu plano 1: Tentar reviver o episódio ocorrido, ou ao menos encontrar aquele cara suspeito de novo, para isso fiz uma descrição de sua fisionomia à Vera, de forma precisa.

    As horas se passavam, já deviam ser mais de 1:30 da manhã e nada me era de valor ou minimamente útil para a montagem do quebra cabeça. Nem eu nem Vera conseguia ter no campo de visão o homem com quem eu dançara naquela noite. Como o movimento começava a abaixar eu achei melhor interrogar o Barman, talvez alguém que estivesse no lugar por mais tempo me ajudasse no necessário.

- Ei moço, você deve passar muito tempo por aqui, certo? - ousei.

    O rapaz me respondeu que sim, enquanto pegava uma bandeja qualquer para ajeitar drinks que seriam distribuídos.

- Eu gostaria que me respondesse algo, seria demais? - falei com empolgação.

- Se eu puder ajudar - o ouvi resmungar com a mesma vontade que parecia estar de trabalhar: nenhuma.

- Eu costumo ver um homem por aqui, ele tem um ar descontraído, luzes e se veste de forma descolada, é moreno, forte e bom de papo. Você costuma ver alguém com essa descrição por aqui?

- Moça, esse lugar inaugurou há dias, quantos homens bonitos acha que não passam por aqui? - ele me olhou com ar irônico.

- Bem, esse era diferente, ouvi que ele dançou com uma menina à noite toda anteontem, e que quando estava perto de fechar deu um barraco com a amiga dela, uma loira bonita. Ouviu ou viu algo assim? - interroguei.

    O rapaz me olhou com ar de dúvida, de forma indiscreta, quase como quem busca uma fofoca fresca, então abriu o bico.

- O Pedro divide os turnos comigo, ele me falou que teve um barraco aqui um dia desses, ao que parece um cara armou uma confusão com uma mulher por causa da namorada, ele saiu bufando com ela e deixou a loira chorando. - o menino falava entretido, como se descrevesse o último capítulo de uma novela.

- Nossa, que história, né Vera? - eu fingia só ser uma interessada na desgraça alheia, uma fofoqueira ambulante em busca de matéria.

- Deve ter sido um escândalo - Vera só respondia da forma mais natural e esperada em uma situação assim na mentalidade feminina, porém me encarava por um minuto para procurar minha reação com o que dizia.

- Será que aconteceu algo depois? - Perguntei curiosa.

- Eu sei lá, nem o Pedro sabe o que pensar. - o cara disse, limpando a sujeira do balcão.

- Você conhece esse cara? É que talvez seja meu namorado. Ele vive vindo aqui, esquecendo que tem alguém agora, ele não presta, vive caindo na vida, uma vez eu peguei ele no flagra com outra, aquele vagabundo! - eu soltei com ar de frustração.

- Você pode falar com o Pedro, ele vai estar aqui amanhã.

- Você me passa o contato dele? É que eu quero resolver isso hoje, se for ele mesmo eu resolvo deixar de ser trouxa hoje - eu comecei a choramingar.

    Vera parecia me encarar com ar de desconfiança, não sabendo se levava o que eu falava a sério ou não. Eu chutei seu pé de leve, ela começou a me abraçar.

- Eu posso até te passar, mas não sei se ele vai responder não, vive ocupado. - o cara me olhava com cara de quem estava prestes a se declarar a favor de mais um barraco.

- Eu posso tentar, melhor isso do que continuar fazendo papel de otária - eu o olhei com cara de  de cachorro sem dono.

- - eu adicionava o contato com base no que o cara falava, salvei e me aliviei com o sucesso que tive, graças ao meu jeito dissimulado, típico de alguém que passou a infância como um bebê mimado.

- Cara, você me ajudou viu? - eu bebia, para mostrar desconsolo, sofrimento, que era alguém que sofria.

- De nada moça, boa sorte aí! - ele me fitava com olhos brilhantes de quem aplaude uma boa intriga, porém finge indiferença para não deixar tão claro.

- Vamos Vera - levantei com um copo em uma mão e arrastando minha amiga com a outra.

    Andei o mais rápido que pude, ela acompanhava meus passos com a mesma pressa, eu já sabia, seria uma longa madrugada de explicações. Ao sair daquele inferno avistei o carro no estacionamento e continuei andando da mesma forma automática, então entramos  e logo se iniciaram as perguntas da forma meus indireta possível, os olhos de Verônica falavam ainda mais do que sua boca, eles matavam silenciosamente e eu estava sendo a vítima, talvez pela confusão que eu já sentia dentro de mim, então resolvi quebrar o silêncio.

- Então Vera, por onde quer começar?

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