Capítulo 2 | Proditione

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— Ela tem quase 55 anos — foi a primeira coisa que te falei

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— Ela tem quase 55 anos — foi a primeira coisa que te falei.

Me lembro que em seguida, seu rosto foi assombrado por pelo menos três expressões diferentes. Primeiro você me olhou confuso, depois arregalou os olhos com o susto de ter sido pego e por fim, cravou os seus olhos indiferentes em mim e abriu um sorriso de canto, que revelou as suas covinhas profundas.

— Desde que ela continue aparentando ter trinta anos, pode ter setenta e não vou ligar — a sua voz estava carregada com o mesmo sentimento que permanecia em seu olhar: indiferença. Você realmente não dava a mínima para isso.

Bufei baixinho e me sentei na poltrona do quarto de hóspedes, convicta de que ainda não estava totalmente recuperada do ataque de pânico. Me permiti levantar os meus olhos e te observar por alguns longos segundos, você ainda estava sem camiseta, então foi para o seu abdômen que o meu olhar foi atraído. Assim como o restante do seu corpo, ele era todo definido e eu só consegui me imaginar tocando todas as linhas que demarcavam os três pares de gominhos perfeitamente esculpidos. Passei os meus olhos para os seus braços – que eram muito volumosos –, e antes que eu pudesse continuar a observar todo o seu corpo, ouvi um pigarro e imediatamente levei o meu olhar até o seu, que se mantia fixo em mim com ambas as sobrancelhas elevadas.

— Ela é casada com o dono da casa — tentei continuar o assunto, ignorando o fato de as minhas bochechas terem corado violentamente.

Você manteve os olhos fixos em mim por alguns segundos, completamente calado.

— Isso não é problema seu — sua voz estava tão dura quanto o seu olhar, eu provavelmente estava com os olhos arregalados diante da grosseria inesperada — E nem meu, se quer saber. O único culpado é o marido dela, que não é capaz de segurar uma mulher — você completou, debochando.

Eu me recostei na cadeira e me mantive calada, estupefata com tamanha babaquice. Abri um sorriso amargo enquanto encarava o chão e comecei a balançar a cabeça negativamente, me preparando para levantar e sair daquele quarto.

Era possível sentir o seu olhar em minhas costas enquanto eu atravessava o quarto, mas você não pronunciou nenhuma palavra até que eu chegasse no batente da porta.

— Onde você vai? — perguntou, o que fez eu me virar em sua direção.

— Para qualquer lugar — soltei uma risada carregada de desprezo — Qualquer lugar é melhor do que estar trancafiada com um babaca.

E então te deixei ali, de braços cruzados enquanto me observava atravessar a porta e sumir no corredor.

Eu realmente pensei que ficaria melhor em outro lugar, mas percebi que estava errada quando parei ao lado da parede que dividia a sala de estar e a de jantar. Cheguei a conclusão de que os adultos conseguiam ser piores.

Suspirei e continuei a andar, só que dessa vez rumo ao sofá de couro creme. Fiz menção de apressar a caminhada ao passar na frente da porta da sala de jantar, torcendo para que ninguém me visse ali e estragasse os meus minutos sozinha. Mas eu tinha que ter adivinhado que se alguém iria atrapalhar a minha paz, a pessoa não estaria jantando, estaria no quarto de hóspedes do andar superior.

— Você não sabe o que a traição faz na vida de uma pessoa — murmurei exasperada, sentindo a sua presença no cômodo.

— Não fale como se você me conhecesse — você falou inexpressivo.

— Só... Pare de ser idiota — murmurei irritada.

Você finalmente se manteve em silêncio e eu mantive o meu queixo erguido com o olhar fixo na estante de madeira em minha frente, analisando todos os detalhes dela enquanto torcia para o jantar chegar logo ao fim e eu poder ir dormir.

— Meu nome é Zach.

Essa foi a primeira coisa decente e gentil que você me falou. E eu apenas ignorei.

— Não vai me dizer o seu nome? — você estava com um sobrancelha elevada, seu rosto continuava sério e sua voz carregava desafio, era como se você tivesse certeza de que eu não iria resistir e que acabaria te contando.

A sua autoconfiança era tão excessiva que quase se tornou um defeito.

Eu continuei calada, ainda observando a estante e os porta-retratos distribuídos pela mesma. Em todas as fotos o casal Smith parecia feliz e apaixonado, e eu teria acredito no amor deles, se não tivesse presenciado a traição.

— Ah... Você gosta de brincar? — estreitei os olhos e me virei em sua direção, o duplo sentido da frase me pegou desprevenida e me deixou mais irritada ainda.

— Gosto de brincar de entregar traições — eu pensei em dar alguma resposta grosseira, mas com certeza não teria o mesmo efeito que essa teve. Minha voz carregada de inocência e veneno fez os seus olhos arregalarem brevemente, mas você não deixou se abalar e soltou uma gargalhada. Mas não era uma gargalhada forçada ou algo assim, era um riso genuíno, como se você realmente achasse a situação engraçada.

— Acha que algo vai mudar na minha vida se alguém souber? — você perguntou quando interrompeu os seus risos. Eu soltei um suspiro frustrado e resolvi que a melhor maneira de te irritar seria te ignorando.

E foi isso o que eu fiz por longos 10 minutos. Ouvindo todas as suas provocações, era impossível pensar que um dia eu passaria a gostar tanto de ficar perto de você, e mais ainda, que eu seria dependente disso.

— Não houve traição alguma — você falou depois de algum tempo, me surpreendendo — Eles não são mais um casal há muitos anos, mas preferem continuar com as aparências.

Me mantive calada e você voltou a soltar piadinhas sujas.

Você estava me desafiando, talvez eu valesse tanto o seu esforço por ter sido – acredito eu – a única garota que não se jogou aos seus pés e fez tudo o que pediu. Mas você não sabia de uma coisa Zach, eu amava ser desafiada. Apenas para no final sentir o sabor da vitória. Eu era viciada em estar certa.

E eu tinha certeza de que você não iria saber o meu nome por isso. Pelo menos não pela minha boca.

Você só soube porque eu fui traída pelo meu pai.

— Maritza, se despeça do seu amigo, já estamos indo embora — ele disse ao sair da sala de jantar e me encontrar.

Eu sabia que você estava com um maldito sorriso vitorioso nos lábios, e foi exatamente por conta disso que eu não olhei para trás enquanto seguia os meus pais, mas não foi o suficiente para me impedir de ouvir a sua voz sarcástica atrás de mim.

— Até breve, Maritza.

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"Não importa quem começou o jogo, mas quem chegou ao final." - John Wooden.

Oi amores, hoje ouso utilizar esse espaço para colocar algumas palavras minhas, e bom, prometo ser breve. Quero avisar que infelizmente teremos alguns saltos no decorrer da história (aliás, é uma carta e a nossa mocinha não conseguiria relatar exatamente TUDO) e pedir ajuda em divulgações. Me recuso a estabelecer metas para liberar novos capítulos, mas ainda assim, peço que me ajudem a levar esse livro para o conhecimento de outras pessoas também. Enfim, é isso... Desde já agradeço e peço desculpas por interromper a sua leitura.

Grandes beijos,

Dusky.

CacosWhere stories live. Discover now