Capítulo um.

378 16 0
                                    

Se possível, escute ao ler: Over my head – The fray.

― “Cheia de confiança na tua proteção, eu peço a ti interceder por mim junto a Deus, e que do mais alto dos céus se digne a lançar um olhar piedoso para este humilde servo.

Ao terminar sua reza, Rafael respirou fundo mais uma vez e abriu os olhos. Por mais que pensasse que estivesse preparado, sabia que não era bem a verdade. Ter de dar uma notícia dessas era preciso muito cuidado, ou acabaria a tornando ainda mais traumatizante do que já era.

A ideia de ser o portador de tal notícia não o agradava em nada, mas havia prometido à ele que cuidaria de tudo, mesmo que ao fazer isso acabasse se machucando ainda mais.

Perder seu amigo de infância na “guerra contra o terror” como a chamavam nos Estados Unidos da América, não foi fácil. Entretanto, seria mais complicado para a viúva dele. Isso sem contar no filho pequeno do casal.

Sendo filho de militar, Rafael conhecia bem o sentimento de impotência ao ser avisado da morte de seu pai. Carregara essa dor durante toda sua vida, por isso, faria todo o possível para tornar a vida daqueles dois o mais confortável que conseguisse. Essa era a promessa que fez à Richard e Deus sabia bem como Rafael as cumpria à risca, cheio de determinação, não importando o que acontecesse no futuro.

Olhou para a casa de seu amigo e se perdeu nos detalhes da mesma. Não era muito grande, mas tinha o tamanho suficiente para abrigar um casal com seu filho único.

Rafael conhecia a vontade que Richard possuía de poder dar uma moradia melhor a sua família, mas o salário de militar que recebia não era o bastante. E ainda tinha a criança e seus gastos...

Voltando ao presente, ele se concentrou na janela aberta e na cortina amarela esvoaçante. Conhecia cada pequeno detalhe da casa, toda decorada por Dânia.

Dânia... Como ela reagiria ao saber que o marido, o namorado desde a época de colégio, havia sido morto em um ataque surpresa?

Ao se lembrar de como tudo aconteceu, Rafael sentiu uma raiva furiosa se apoderar de seu corpo e sentido. Se ao menos houvessem lhes avisado o que encontrariam pela frente... Agora não estaria parado dentro de um carro em frente à casa de seu melhor amigo, com a missão de dizer a esposa que o mesmo morrera. Maldita guerra contra o terror! Se os caras da “alta cúpula” ao menos soubessem o quanto estavam equivocados...

Quantas vidas inocentes eles ainda arrancariam de seus lares? Quantas pessoas teriam de morrer para eles se darem conta de que eram tão terroristas quanto aos que caçavam?

Guerra ao terror... Rafael não conhecia nada mais irônico e hipócrita do que isso! Era certo que executaram o terrorista número um do mundo, mas não seria e nem poderia ser tão idiota ao ponto de pensar que tudo terminara.

A batalha que viria pela frente seria ainda mais terrível e brutal. Porém, já não estava ao seu alcance. Agora teria de se preocupar com a família de seu amigo, como prometera. E rezar para que tudo acabasse o melhor possível.

*Não esqueçam das estrelas, amores.

Pietate - Amor pleno.Onde histórias criam vida. Descubra agora