Se possível, escute ao ler: I will come to you – Hanson.
Como sua mãe podia fazer isso com seu pai? Como podia beijar o amigo de seu pai? Como podia traí-lo dessa forma?
A mente de Luke estava uma bagunça total, seu coração doía e não entendia o porquê. Não permitiria que sua mãe namorasse Rafael!
Se ela fizesse isso, Luke já enfiara em sua mente infantil que fugiria, iria para longe de sua mãe e ela nunca mais ficaria sabendo nada dele. Iria morar no parquinho no final da rua e sua mãe nunca mais o veria.
Não era esse o seu verdadeiro desejo, mas não havia outra escolha. Amava sua mãe e queria ficar ao seu lado, mas não aceitaria que homem algum tomasse o lugar de seu pai. Não queria outro pai.
O traidor se sentou ao seu lado em silêncio e assim Luke continuou. Era o traidor que queria conversar, não ele.
― Como você está? ― Rafael perguntou e esperou pela resposta que não veio. Tudo bem, já esperava que Luke se mantivesse calado. Mas faria com que ele falasse, nem que fosse a força. Não com violência, mas com palavras.
Sabia quais usá-las para derrubar a parede quase intransponível que o pequeno erguera ao redor de si.
Só se combate medo, temor, tristeza... com amor. Com palavras ternas e tom de voz certo. E Rafael as usaria, até que o ultimo tijolo dessa parede fosse destruído. Nem que isso levasse anos a fio. Não iria a lugar algum sem aqueles dois e Luke teria de aceitar a novidade que os cercava.
A dor da morte do pai ainda era muito recente e era compreensível ele se sentir traído. Mas não precisava ser assim. Os dois, Luke e Dânia poderiam ser felizes novamente e, Rafael daria o melhor de si para conseguir isso.
― Tudo bem. Não precisa falar, só me escute.
Como fazer com que Luke entendesse que o sentimento ali envolvido entre os dois não era feio? Que o monstro que ele criara não era assim tão horrível e assustador?
― Eu sei o que você pensa e quero que saiba que não tiro sua razão, Luke. Meu pai também era militar e morreu em serviço.
Luke parou de fitar a fotografia do pai e olhou para Rafael, que sabia que a partir de agora tinha toda a atenção do menino e precisava usar isso a seu favor, antes que fosse tarde demais. Assim, continuou:
― Quando minha mãe começou a namorar um vizinho nosso, não entendia o porquê ela fazia isso, o porquê ela queria substituir e esquecer meu pai. Pensava que já não o amava. E não era verdade. Ela o amava, o amou sempre, até o fim de seus dias. Mas era um amor diferente, Luke. Um amor do que viveram juntos, do fruto que esse amor gerou. Assim como você, eu não aceitava o que acontecia e a acusava de trair a memória de meu pai. Não foi fácil para mim e hoje sei que para ela também não. ― respirou fundo e fez uma pausa rápida antes de continuar: ― Um dia, não aguentando mais a situação, o namorado dela veio conversar comigo e, foi ai que comecei a entender melhor o que acontecia e que não havia culpados. ― olhou firmemente para Luke, que o fitava com atenção. ― Não quero tomar o lugar de seu pai, Luke. Só quero fazer você e sua mãe felizes. Não quer que sua mãe seja feliz, amada?
― Quero, mas...
― Mas sente que ainda é cedo. ― completou por ele, que assentiu com a cabeça. ― Talvez seja mesmo, mas quando encontramos uma segunda oportunidade de poder ser feliz, temos que agarrá-la. Eu não queria e não esperava me apaixonar por sua mãe, mas aconteceu. E ela precisa de você para ser feliz, assim como você também precisa dela. E eu de vocês.
Luke ainda ficou em silêncio por um longo período, avaliando as palavras de Rafael com o cuidado que a pouca idade lhe permitia. Acabou suspirando e se levantou, colocando o porta retratos de seu pai de volta no lugar e olhando atentamente para Rafael.
― Tudo bem. Pode namorar minha mãe. ― ele disse isso com a convicção de um adulto, mesmo não passando de uma criança com seus cinco anos.
Rafael sorriu com aquilo e se ergueu, o abraçando e bagunçando seu cabelo.
― Obrigado, Luke. Que tal contar a novidade para sua mãe e deixá-la feliz?
*Não esqueçam das estrelas, amores! :*
