Capítulo três.

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Se possível, escute ao ler: Trauermusik – Paul Hindemith  

O sol estava alto e brilhante em um céu azul sem nuvens. Pássaros faziam seu voo gracioso; as árvores balançavam harmoniosamente com o vento. O caixão estava coberto com uma bandeira americana; parte do regimento ali presente estava uniformizado, perfeitamente alinhado em respeito ao soldado que perderam.

Luke, seu filho, estava sentado ao seu lado segurando em uma mão a bandeira do país que seu pai havia lhe dado um ano atrás, antes de ser convocado para a guerra e, na outra mão, segurava a medalha que Rafael lhe entregara no dia anterior.

O menino reagira melhor que Dânia. Parecia até que aceitava o fato de que o perdera o pai. Mas Dânia sabia que isso era somente uma máscara. Conhecia seu filho melhor do que ninguém, para saber que ele sofria tanto quanto ela ou até mais.

Rafael também se mantinha ao seu lado, trajando seu uniforme e com a cabeça baixa. Sabia que ele sofria como eles. Afinal, perdera seu melhor amigo e companheiro. Os dois eram inseparáveis, quase como irmãos.

Aquilo estava sendo tão difícil para ele como para ela.

Sem que percebesse, levou sua mão de encontro à dele e entrelaçou cuidadosamente seus dedos. Sentiu ele a apertando levemente em sinal de conforto e seus lábios tremeram involuntariamente, uma lágrima solitária rolando por seu rosto.

Se não fosse a força e carinho que Rafael lhes dedicava, Dânia teria sucumbido à dor.

― Senhor  ― o padre começou. ―, dia sem ocaso e fonte de misericórdia infinita, fazei-nos recordar sempre como é breve a nossa vida e incerta a hora da morte. Aceitar a morte...

Dânia fechou os olhos por um momento, prestando atenção nas palavras que o padre discursava com tanto fervor.

Aceitar...

Como alguém aceitaria a morte prematura de alguém enviado à uma guerra tão estúpida e sem valor algum?

Escutou ao fundo uma melodia triste e tentou não se concentrar nas notas tão angustiantes e melodramáticas. Aquela música só piorava tudo.

Um movimento ao seu lado lhe chamou a atenção e viu Luke se levantar, indo até o caixão. Dânia não sabia o que ele faria com isso e sentiu seu coração se encher de ternura ao vê-lo depositar uma rosa branca sobre o caixão.

Como se tivessem vida própria, suas pernas à levaram até ele e o abraçou com carinho, sentindo-o tremer levemente.

― Tudo ficará bem, meu amor... ― ela sussurrou em seu ouvido ao se abaixar na altura dele. ― Tudo bem, meu amor...

Luke se virou de frente para a mãe e a abraçou com força pela cintura, derramando as lágrimas que tanto se esforçara para segurar.

O silêncio tomou conta do lugar quando começaram a abaixar o caixão.

Não aguentando ver a cena a sua frente, Dânia fechou os olhos com força. Não queria ver a dura verdade de que nunca mais teria seu amor, o pai de seu filho consigo. Como seguiria com sua vida?

Como se fosse um anjo salvador carregando a resposta, Rafael apareceu ao seu lado e apoiou a mão em seu ombro.

*Não esqueçam das estrelas, amores! :*

Pietate - Amor pleno.Onde histórias criam vida. Descubra agora