Não culpe as estrelas ~ Saida

Capítulo VIII - Eu Gosto de Você

— Ontem a gente passou o dia todo assistindo filmes. Por que você tão animada pra isso? — Sana murmurou enquanto era arrastada por Dahyun por entre as pessoas do shopping. Aquela tarde de sábado, Dahyun simplesmente apareceu na porta de Sana carregando uma sacola cheia de remédios e falou que estava cansada de esperar o organismo preguiçoso da japonesa cuidar da gripe. Então decidiu fazer algo por conta própria: entupir Sana de comprimidos até que ela ficasse suficientemente bem para ir passar com Dahyun.

— Ora, mas não é a mesma coisa. — a garota virou para trás, olhando para Sana, que percebeu a empolgação na voz de Dahyun. — Assistir um filme em uma telinha pequena e assistir outro em uma grandona são coisas completamente diferentes!

— Sim, são, claro. Mas a gente passou praticamente a semana toda assistindo filmes e- — Após alguns segundos encarando o rosto sorridente de Dahyun, Sana suspirou. Dahyun conseguia ser extremamente insistente, mas era apenas mais um lado dela que Sana estava disposta achar um charme. — Quer saber, deixa pra lá. Que filme vamos assistir?

As duas compraram seus ingressos e entraram na sala escura. O filme era um romance sobre uma moça que, depois de um acidente de carro, perdeu a memória do tempo em que ela e o protagonista masculino passaram juntos, pelo menos era isso que Sana havia entendido pelo trailer. Então Dahyun gostava de filmes de romance? Sana riu internamente, alguns dias atrás, antes de falar com Dahyun, Sana diria que a outra não tinha cara de gostar desse gênero.

A sala não estava muito cheia e Sana e Dahyun escolheram sentar-se em uma fileira do meio. A garota coreana estava concentradíssima no filme, mas Sana nunca foi muito fã de filmes românticos, então não conseguia manter sua atenção na tela por muito tempo. Diversas vezes sua mente flutuava pensando que ela e Dahyun estavam assistindo um filme de romance juntas no cinema e dividindo a pipoca, como um casal. Nervosa, olhou para a outra garota de relance, mas não viu nenhum sinal de que Dahyun daria bola para ela.

Suspirou enquanto tentava, sem sucesso, voltar sua atenção à tela. Seu bocejo foi interrompido quando foi pega de surpresa ao sentir a mão de Dahyun em cima da sua. Automaticamente olhou para Dahyun e ela a encarava de um jeito que Sana sentia-se esquisita, era um olhar profundo, mas ao menos tempo doce e fazia seu estômago revirar de nervosismo. As luzes coloridas do filme iluminavam seu rosto e Sana não conseguia dizer muito bem se a outra estava tão corada quanto ela, esperava que estivesse, ela desejava não ser a única a ter aquela sensação boa.

As duas aproximaram seus rostos vagarosamente, desviando seus olhares apenas quando estes caiam sobre a boca da outra. Centímetros de distância separavam seus lábios, suas respirações quentes já misturavam-se.

Mas um baque forte na cadeira de Dahyun as fez separarem-se, assustadas. Ao olharem para trás viram um homem com uma garota ao seu lado, elas não tinham percebido que eles sentaram ali. A garota desviou seu olhar, desajeitada, mas o rapaz encarou-as intensamente. Sana podia ver, mesmo no escuro da sala, sua expressão de nojo e desgosto. Aquilo a abalou, um nó enrolou-se em sua garganta enquanto ela tentava com todas as suas forças conter as lágrimas que queriam escapar de seus olhos.

Sana já vira aquela expressão antes. Alguns anos atrás. E no rosto de sua própria mãe. Naquele detestável momento em que Sana estava com os nervos à flor da pele, abriu sua maldita boca e gritou tudo sobre o que ela sentia por meninas, por garotas, por mulheres. Ao olhar para o rosto daquele homem ela reviveu cada minuto, cada segundo daquele dia em um piscar de olhos. E também o peso emocional dele. Sua cabeça baixou, não conseguia sustentar o olhar.

— Você só pode estar de brincadeira comigo, porra! — Mas aquilo rapidamente a fez levantar seu olhar, espantada. Dahyun estava de pé e gritava para o homem na fileira de trás. — Quem você pensa que é?! — Murmurinhos espalhavam-se pela sala do cinema. O homem, desnorteado por ser desafiado daquele jeito, levantou-se enfurecido e aos berros.