Capítulo II - Quase Inesperado

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Sana havia ido dormir no dia anterior logo após aquilo, no escuro mesmo, o sono chegou dando-lhe um soco, e ela agradeceu por isso.

Agora ela murmurejava palavras desconexas, acordava pelo toque do seu celular e do seu despertador em cima da escrivaninha. Descontava seu mau-humor no travesseiro quando percebeu que teria que fazer o próprio café da manhã.

Seu celular vibrou e ela viu que havia recebido uma mensagem à noite, quando já tinha ido dormir. Uma mensagem de Chaeyoung.

[Chaeyoung]: acredita que no carro que vieram me buscar tinha um porco??? UM FUCKING PORCO VIVO MANO que tipo de lugar é esse bicho? mas enfim ne boa sorte amanhã na escola.

Ela riu ao imaginar a cena, Chaeyoung nunca foi muito fã de animais. Talvez ela aprenda a lidar melhor com eles nessa viagem.

Lentamente levantou-se da cama. Agora seria ela por ela.

§

Assim que Sana pôs os pés no prédio da escola, viu Dahyun conversando com seu grupo de amigos. Passar as férias longe daquela garota seriam tristes para Sana, mesmo que ela nunca tenha ficado perto realmente. Ou talvez fosse a chance de superar esse amor platônico que ela nutriu por três longos anos.

Sana passou por eles, não deixando de reparar o quanto Dahyun estava linda, e foi em direção a sua sala.

Na mesma manhã, do outro lado da Coreia, Chaeyoung acordava com um odor estranho entrando em suas narinas. Ainda sonolenta abriu os olhos devagarzinho. A noite não havia sido muito boa. Dormir com a ideia de passar uma semana inteira na fazenda dos seus tios não era nada agradável. Dormir sabendo que estava cercada de animais era menos ainda.

Quanto mais sóbria ficava, mais fácil era definir o cheiro e o barulho que estava ouvindo. Aquilo que estava em seu lençol era...cocô?

"Có, có, có" Cacarejou a galinha em cima de Chaeyoung. Ao mesmo tempo em que um grito estridente soou por toda a casa.

§

Sana olhou ao redor segurando sua bandeja no meio do refeitório, ponderando se sentava com algum desconhecido ou ficava sozinha. A segunda opção lhe parecia bem mais agradável, no entanto não havia mesas vagas. Varreu o local com seus olhos procurando alguém que lhe parecesse tão sem amigos como ela. E não encontrava uma pessoa sequer que se assemelhasse com sua situação, até mesmo os excluídos tinham seu próprio grupinho.

Deu um longo suspiro, e saiu do barulhento local.

Ela sentou-se encostada em uma velha árvore nos fundos da escola, onde ela sempre ficava com Chaeyoung passando o tempo. Devido à aparência (o local não era podado há muito tempo) ele era praticamente um esconderijo secreto. Elas se esgueiravam por dentro de arbustos até chegar nele. Como as duas acharam-no continua um mistério.

Enquanto levava uma colherada de seu almoço à sua boca, ouviu um barulho bem perto de onde estava, parecia um leve soar de sinos, assustada, acabou largando a colher, que caiu na bandeja fazendo um ruído alto e metálico. Logo em seguida, não se pode ouvir mais nada. Sana procurou o causador do barulho, mas não havia ninguém. Pensou que talvez alguém poderia ter visto ela entrar por ali e ido espiar, mas não tinha certeza.

Quem estava ali afinal?

§

— Você está fedendo. — Chaeyoung resistiu ao impulso de falar um palavrão bem feio para sua mãe. — Que alvoroço todo foi esse? Além de acordar tarde ainda acorda gritando. Sua doida.

— Que palhaçada é essa? Por que tem a merda de uma galinha no meu quarto? — esbravejou, sem ver que um de seus tios estava na cozinha junto com elas.

— Epa, não chama Lindinha de merda. O quarto era dela antes de você chegar — repreendeu a garota, com seu carregado sotaque do interior e um sorriso no rosto.

— Desculpa tio. Não tem como colocar ela em outro lugar? Só enquanto eu tô aqui. Por favorzinho — disse, juntando as mãos. 

— Ninguém manda em Linda, se ela quiser dormir no quarto ela vai. — o homem falou bem humorado, aliás, como todos naquela casa. — E tem mais: acho que ela gostou de você. — A garota sussurrou um "Eu mereço" que passou despercebido pelos dois.

— Vai logo tomar banho Son Chaeyoung, não estou mais aguentando o teu fedor. — Sua mãe falou com as mãos tampando o nariz — Chaeyoung bufou e deu meia-volta em direção ao banheiro, mas parou no meio do caminho. 

— A propósito, onde ele fica? — perguntou, virando-se novamente para os dois.

— Ele fica no andar de cima filha, mas o chuveiro quebrou ontem depois de eu tomar banho. Então seus tios foram atrás um novo na cidade, e suas tias aproveitaram pra ir fazer compras — Por que tudo estava dando errado hoje? Chaeyoung massageou a cabeça pensando se tinha como ficar pior. — Tem um poço do lado de fora da casa ao lado chiqueiro. — ela hesitou antes de completar — Melhor levar botas.

É, tinha.

§

Sana levantou de sua cadeira com a cabeça latejando, definitivamente odiava exatas. Se perguntava o porquê daquele professor insistir em dar conteúdo sendo o último tempo do último dia de aula, enquanto todos os outros professores apenas deixavam os alunos passarem o tempo. Talvez muito rancor no coração, ou então falta de vocês-sabem-o que.

E o pior de tudo é que ele passou milhões e milhões de tarefas para serem entregues na volta às aulas, e Sana pensava em como iria respondê-las sem sequer saber o assunto.

Ela saiu da sala depois de todos. Não tinha a menor pressa, ao contrário de todos os outros alunos que com certeza tinham algo de interessante, e provavelmente divertido, para fazer nas férias.

O que ela iria fazer nesse tempo? Nada passava pela sua cabeça. Por um momento pensou se seria melhor acompanhar a mãe. Mas a mãe viajara a negócios, é, definitivamente não seria legal. Talvez pudesse usar essas férias para estudar matemática, para não se ferrar totalmente nas provas.

Suspirou ao encontrar-se na saída da escola, sem Chaeyoung para lhe acompanhar pelas ruas e sem mãe para buscá-la de carro. Decidiu caminhar até o ponto de ônibus, ir a pé só é legal com sua melhor amiga fazendo palhaçadas.

Sana perdia-se facilmente em seus próprios pensamentos, e eram neles onde ela estava quando alguém se aproximou devagar. Essa pessoa parou ao seu lado, observando-a por alguns segundos. E deu um sorrisinho quando se tocou que a outra garota não iria notá-la ali. Sana voltou à realidade quando sentiu um toque leve em seu ombro e no momento em que olhou para trás empalideceu por completo.

— Ki- Kim Dahyun? — Sua voz saiu trêmula. Ela tentou falar outra coisa, mas estava nervosa e surpresa demais para formular uma frase, então as palavras ficaram presas em sua garganta. O sorriso da outra se intensificou e Sana se perguntou por qual razão Kim Dahyun estar sorrindo para ela.

— Olá Sana. — Ela sabia seu nome?! Como diabos ela sabia seu nome? Não era possível, provavelmente Sana ainda estava na cama tendo mais um daqueles sonhos que ela tem quando pensa demais em Dahyun durante o dia. — É que... — a coreana hesitou, parecia um pouco envergonhada — Nós... podemos conversar ali? — apontou para um local um pouco afastado, sem pessoas. Seu rosto estava levemente vermelho, e por Deus, se o rosto de Dahyun estava assim imagine o de Sana.

Minatozaki, que ainda tentava soltar as palavras de sua garganta, apenas assentiu timidamente com a cabeça. Dahyun soltou um o ar que estava prendendo e falou um "Ok" bem baixo, apertando uma mão com a outra, algo que a menina sempre fazia quando estava nervosa. Logo elas dirigiram-se ao local.

— É... Deus, como eu... — Dahyun gesticulava nervosamente, olhando para todos os lugares menos para Sana. Soltou um longo suspiro tentando acalmar-se e olhou diretamente para a menina em sua frente. Sana estava quase morrendo por dentro, seu coração parecia querer abrir um buraco em seu peito e sair dançando por aí, e ficou ainda pior quando Dahyun encarou Sana intensamente. — Sana — continuou com a voz firme — você quer sair comigo?


Não culpe as estrelas ~ SaidaOnde histórias criam vida. Descubra agora