Lembranças infantis.

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 Às vezes é necessário retornar às nossas raízes

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Às vezes é necessário retornar às nossas raízes.
É importante relembrar constantemente de onde viemos, como costumávamos ser e quais eram os nossos medos, para só então poder supera-los e transformá-los em força.

Eu sei bem o que se passa na cabeça do cara no banco de trás. Sei que ele se culpa por tudo que aconteceu com a garota que ele amava e com a garota que ele ama, ainda que não saiba ao certo distinguir qual é qual.

Consigo me lembrar perfeitamente da primeira vez que vi Florence Bingley e de como ela carregava uma expressão prepotente no rosto. A típica expressão de quem quer dominar o mundo, mas nem sempre sabe como fazê-lo. Ela se mostrou confiável, aventureira e brilhante, uma mistura perigosa para um garoto de nove anos.

Os tempos mudaram.
Florence Bingley se jogou num precipício e quase levou todo o resto junto com ela.
Ou será que nós a empurramos e depois tentamos resgata-la?

— Está vazio. — Noora avalia o carro batido. — Qual é o hospital mais próximo?

— Eu não acho que eles tenham sido resgatados. — digo. — Olhe ao redor, Noora, a área nem foi isolada pela polícia. Acho que ninguém sabe sobre este acidente.

Acidente.
Acidente.
Acidente.

— Doug, você está bem? — Virgínia aperta o meu ombro. — Está pálido como papel.

— Me sinto enjoado. — aperto os olhos e minha memória, traiçoeira como a mais venenosa das serpentes, me arrasta novamente para aquele maldito dia.

Era verão.
O verão por essas bandas não costuma ser quente e agradável. Na verdade, as chuvas comuns se transformam em chuvas de veraneio, e se tornam mais perigosas.
A minha mãe sempre dirigia quando retornávamos da casa dos meus avós, mas naquele dia, ela pediu para que o meu pai nos levasse de volta para casa. Os dois haviam brigado feio na noite anterior e eu, com o cérebro do tamanho de uma azeitona, tentei interferir na discussão.

O meu pai terminou sem voz.
A minha mãe desacordada.
E eu com uma vontade infinita de poder mudar de família, ou simplesmente desaparecer.

As curvas pareciam mais angulosas naquele dia, os biscoitos que eu comia mais amargavam do que adocicavam e nenhuma palavra foi dita por muito tempo.

Uma ultrapassagem.
Um grito estridente.
Uma dor infernal no abdômen.
Um odor desagradável e sufocante.

Quando acordei, estava numa sala mais limpa do que o quarto de visitas que a minha avó geralmente prepara para os filhos. A minha família estava lá também, mas nada parecia igual.
Eu voltei para a escola algumas semanas depois e me lembro de ter chorado por ninguém ter sentido a minha falta.

Eu não tinha amigos.

Foi então que Florence Bingley, com sua boca banguela e suas histórias inacreditáveis, notou a minha presença. Vincent não gostava de mim e isso prejudicou a minha amizade com a garota. Apenas nos encontrávamos quando ele não estava.

Homeboy - amigavelmente amigável (livro 1).Onde histórias criam vida. Descubra agora