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Ouvi um barulho de porta batendo e usei o resto de minhas forças para me levantar e ver o que havia acontecido. Abri a porta lentamente. Apenas uma festinha. S/N havia ido embora. Saí do quarto.

— Por que ela foi embora?– perguntei a Jungkook, que me olhou com certa raiva.

— Se você não soube ainda, ela não dorme aqui há meses. Sempre vai embora. Ou achou que ela iria dormir no sofá pela eternidade esperando sua boa vontade de dar atenção a ela?– ele falou com ironia.

— Jungkook...– abaixei a cabeça, envergonhado– Me desculpe por como eu tenho agido. É só... Ah, se você soubesse como me sinto...

— Jimin– ele pôs a mão em meu ombro e olhou em meus olhos– você sabe que pode me contar qualquer coisa. Desde quando deixamos de ser melhores amigos?

Mordi o lábio inferior com nervosismo. Eu só não conversara com ele ainda porque sabia que ele iria contar para S/N como me sinto e ela ia se sentir mal ou tentar conversar comigo. Não seria uma conversa muito agradável.

— Não é nada, Kookie– tentei sorrir, mas falhei e acabei fazendo minha melhor expressão de inocente– Só ando meio ocupado com meus pensamentos ultimamente.

Ele ficou reto e tirou a mão do meu ombro, com desconfiança. É claro que ele sabia que era mentira. Afinal, é meu melhor amigo. Mas se forçou a aceitar minha justificativa.

— Tudo bem então. Tente não se preocupar muito, ok? Não encha a cabeça com besteira. Boa noite, hyung.

— Boa noite, Kookie-ah.

Ele sorriu e foi para o quarto, me deixando sozinho na sala com o barulho do vento assoviando por entre os prédios altos e frios de Seul. Frios, assim como eu sentia que minha alma estava.

Andei até a sacada. O vento estava violentamente forte. Meus cabelos voavam furiosamente em um tornado em volta de minha cabeça. Que ironia, minha vida tinha virado um tornado.

Segurei na amurada e olhei a paisagem. Lindas luzes brancas, laranjas e amarelas reluziam por toda a cidade. Estrelas pulsantes e a lua intensa coloriram o céu negro. A ponte, ao longe, parecia se mover junto com as agitadas ondas do rio, que refletia toda a galáxia. Por isso S/N gostava tanto de tirar fotos e pintar na sacada.

Com essa lembrança, pela primeira vez, fiz algo que nunca tinha pensado em fazer antes.

Me inclinei e olhei para baixo.

A visão era totalmente diferente. Vitrines brilhavam com vidros enfeitados e decorações anunciando liquidações e promoções. Os carros disparavam de uma esquina a outra agredindo o asfalto cinza e criando o som de cascalho pisoteado. Homens de sobretudo e terno se apressavam para chegar em casa e mulheres de salto e cabelos perfeitos olhavam tranquilamente as vitrines, passando reto pelos sem-teto que tentavam ganhar a vida pedindo alguns trocados para comer ou improvisado uma música com baldes e pedaços de cano metálico.

Era, definitivamente, mais triste.

Nunca olhei para baixo. Sempre foquei em o que está na minha frente. Sempre achei que olhar para baixo era como cogitar a possibilidade de pular.

Eu estava certo.

O pensamento passou pela minha cabeça assim que vi quão silencioso era lá embaixo. Quão tranquilo, quão seguro aparentava ser apenas me deitar lá e não ter que me preocupar com nada. Quão prazeroso seria poder ter alguns segundos de paz antes de me estirar no chão cinza, voando pelo vento congelante da cidade com os braços abertos e olhos fechados.

Quando percebi o que acontecia em minha cabeça, saí correndo da sacada, chorando. Não é possível.

Aquele pensamento horroroso realmente passara pela minha cabeça.

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Não consegui dormir depois daquilo. Passei a noite em claro andando pra lá e pra cá e olhando para a sacada com repugnância. Não me atrevi a ir para o quarto. O garoto precisava descansar e eu só dava dor de cabeça.

Quando deu meia-noite, comecei a surtar e querer fazer algo para gastar minha energia. Comecei a fazer flexões e abdominais sem motivo, mas pelo menos me distraiu. Por um segundo, e um apenas, olhei para a sacada. As estrelas brilhavam intensamente como vaga-lumes indo na direção da luz. Sacodi a cabeça. Aquela luz era apenas uma tentação. Agora eu entendia S/N. Era realmente tentador.

Quando deram três e meia da manhã, coloquei uma roupa quente jogada no sofá e um sobretudo. Saí para dar uma volta na madrugada fria de Seul. Não me atrevi a passar nem perto da ponte Hangang. Mesmo sem ter experimentado, sabia que ia ser tentado.

Achei uma cafeteria aberta e tomei três copos de café. Não que isso tenha me dado energia, mas quando deram seis horas, voltei correndo para a casa. Não era pelo café.

Quando abri a porta, o esperado aconteceu.

S/N estava lá.

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Oi oi oi

Só mais um capítulo e, depois, só no natal ;)

Kissus 💙

Lights •°:*Jimin+ S/N*:°•Onde histórias criam vida. Descubra agora