*Um dia antes*
Já havia feito algumas horas desde que Katy adormecera na cadeira em frente ao quarto da Maya, depois que o médico veio até nós e comunicou que fizeram tudo o que era possível e que teríamos que esperar pra ver, é a primeira vez que ela descansa. Os amigos da menina estiveram por perto durante toda a noite de ontem - apartados e quietos, porém aqui - mas hoje, com as aulas, só viriam pela tarde... Ao menos quatro deles. Riley está lá dentro até agora, vi ela arrastar aquele soro de um lado para o outro algumas vezes, mas a maioria das vezes permanecia sentada ao lado da cama ou deitada nela com a Maya. A garota está fazendo um enorme esforço, mas não consegue abandonar sua alma nem por meia hora, quando a crise de choro a ataca. Consigo ver o amor que laça as duas claramente, não é algo fácil de se ter, requer tempo e querer. Sem jogos. Sem medos. Apenas é o que é. Quando duas almas se unem como eu vejo diante de mim, difícil é aparta-las. Maya tem um grande coração, mas Riley quem consegue coloca-lo para fora, são a junção do um só. Eu precisei rodar o mundo pra descobrir que era possível afastar duas almas, Angela esteve na minha mente e coração por tempo demais, porém, descobri que, na verdade, colidir não é enlaçar. Eu desejo que a menina encontre a felicidade na Riley ou em qualquer outro ser, contanto que não acabe como eu, anos na estrada e sozinha... Não, ela jamais estaria sozinha. Não com a Katy ao lado dela.
Riley está lá agora, conversando com sua "Peaches", ou, na verdade, com o corpo dela. Pobre crianças, agora traumatizadas por toda uma vida. Observo a Maya do lado de fora, de pé sobre o meio do corredor, imaginando como eu estava bem e me divertindo enquanto ela era espancada por garotas mais velhas. Nem mesmo ali, imóvel, inconsciente, ela consegue relaxar. Mas, ainda que não seja dito, não só eu, como cada um ao redor dessas meninas, sabe que a fragilidade, que emerge por dentro, esta parte é da Riley. Ela quem lê e o administra, ela quem mantém vivo. Assim como Cory foi pra mim um dia. Talvez fosse a hora de alguém ir lá e dar real apoio àquela garota, e aqui, do lado de fora, percebo que precisa ser eu. Como a Maya de sua Riley, sou o Shawn do seu Cory. Mas a hora ainda não chegou. E quando chegar, tudo se findará.
*
Eu tive minha brecha pela manhã, mas agora eu estou pronto. Não tive minha chance pela tarde, estou exausto e pronto, pela noite, sem uma noite sequer de sono. Caminho a passos lentos e adentro o quarto, os garotos haviam saído de lá há pouco, aquilo havia voltado a ser o santuário da Riley. Ela olha pra mim no exato momento em que entro, estava exausta também, segurava a mão da Maya e mantinha o queixo acima de suas mãos, braços apoiados na cama e olhos pequenos. Fecho a porta e me aproximo de Maya, o rosto começara a arder, os lábios a querer tremer, mas, como sempre, me mantive.
- Que bom que ela tem você. - digo, mas ela se mantém quieta, olhando a amiga à sua frente - a melhor amiga está como está por amar você, brigou com os amigos e agora os vê separados, seus pais tentando dar palavras de incentivo, o irmão querendo sua atenção quando você considera inoportuno, o rosto da mãe da sua melhor amiga sempre que você vem aqui. E todos acharam que a Maya era a durona.
Finalmente ganho sua atenção, porém, não vejo expressão em seu rosto.
- Se fosse você ali, ela já teria sido expulsa do hospital, teria brigado com todos ao redor dela, provavelmente estaria fazendo alguma besteira por ai... Provavelmente teria sido expulsa do colégio por querer se vingar; Ela tinha uma faca, você sabe porque ela não usou?
Aguardo sua resposta, então, quando eu estava prestes a investir novamente, ouço sua voz:
- Porque eu não estava lá. Ela não usaria pra benefício próprio, apenas pra me defender. Eu não estava lá. Mas você já sabia disso.
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Girl meets real world
RomanceOnde Girl meets world não pertence a Disney e todos os sentimentos podem falar alto.