Meu ouvido entupido
De tanto escutar besteira,
Eu puxava o lobo da orelha
Que uivava reclamando
O silêncio perturbador da surdez,
O quanto eu dominava o meu verbo? E a fluidez?
Via palavras saltando de ânus,
Exibindo sua nudez
A palavra estava despida, nua,
Pornograficamente canonizada
Estirada feito asfalto no meio da rua,
Ninguém se espantava, nem se constrangia,
“Nossos silêncios incomodam mais.”
Somos herdeiros de toneladas de fonemas inúteis
De um mundo que sempre tende a ruir
A desabar em nossas cabeças,
Se o mundo soubesse que nossas cabeças andam tão longe daqui.
