Prólogo

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Em uma madrugada fria, o sol começava a surgir no céu. Um garoto, parado próximo a uma faixa de pedestre em frente a uma parada de ônibus, observava tranquilamente as pessoas do outro lado.

O tempo passava e o garoto permanecia imóvel, alheio à pressa das pessoas que o cercavam, que não percebiam a sua presença. Ele aguardava pacientemente o seu momento, ciente de que não poderia ser visto. Entretanto, sentia um incômodo quando alguém ocasionalmente olhava para o espaço vazio em que se encontrava.

O tempo seguia seu curso, e um número crescente de pessoas atrasadas se aglomerava, esperando pelo ônibus que parava do outro lado da rua. À medida que o tempo passava, mais olhares encontravam os dele, mas nenhum percebia verdadeiramente o que estavam vendo; rapidamente desviavam seus olhos, sem nada que lhes chamasse a atenção.

Enquanto isso, Akira Wings, também atrasada para mais um dia de aula, corria para se tornar apenas mais uma garota no meio da multidão. Ela tentava arrumar incessantemente seus cabelos longos e rebeldes, na esperança de que ficassem um pouco mais arrumados de manhã, mas as ondas de seus cachos castanhos se recusavam a ceder.

A garota, com seus dezessete anos, tinha uma rotina de atrasos semelhante todas as manhãs. Seus pais sempre estavam trabalhando, e seu irmão havia se mudado para a faculdade, deixando-a praticamente sozinha. Ela precisava lidar com as consequências de seus atos irresponsáveis, como dormir tarde, mesmo sabendo que precisava acordar cedo.

Toda manhã era igual, até as pessoas naquela parada de ônibus já conseguiam se reconhecer. Havia um homem alto de óculos com um semblante mal-humorado, uma mulher de terno xadrez e maquiagem borrada, uma senhora de cabelos grisalhos e duas crianças que seguravam a mão da mais velha. E, agora, Akira Wings, uma adolescente com cabelos rebeldes, pele amendoada e olhos castanhos que harmonizavam com todo o seu semblante de colegial.

Um arrepio percorreu a espinha de Akira, espalhando-se rapidamente pelo corpo ao encontrar os olhos azulados do garoto do outro lado. Ela desviou o olhar, mas estava certa de que ele não havia feito o mesmo. O garoto escondia o rosto com o capuz do moletom preto que usava, mesmo em um dia quente.

A ansiedade tomou conta da garota por alguns segundos. Mesmo sabendo que julgar seria errado, a primeira coisa que lhe veio à mente foi a possibilidade de um assalto. No entanto, ninguém parecia perturbado com a presença do garoto do outro lado, embora sua aparência por si só já levantasse suspeitas.

Determinada, Akira decidiu ignorar o estranho, como todos ao seu redor. Ela, assim como os outros, havia esquecido da presença do garoto do outro lado e manteve suas preocupações focadas no ônibus atrasado. Os pés da garota batiam repetidamente no chão, como se isso fosse resolver o problema, como se pudesse apressar o tempo para passar mais rapidamente.

O garoto do outro lado permaneceu imóvel, mantendo seu olhar fixo em Akira, curioso em relação à sua primeira ocorrência. E quando a garota o encarou pela segunda vez, ele teve certeza de que a primeira vez não foi coincidência. Ela podia vê-lo.

Algo martelava na mente de Akira, insistindo para desviar o olhar daquela figura o mais rápido possível e a ignorar, assim como as outras pessoas faziam, mas seus olhos ficaram presos naquele ser. Uma sensação de déjà-vu percorreu seu corpo dessa vez. Não foi a primeira vez que seus olhos se cruzaram naquela manhã, e a garota recordou disso.

Sentia-se cativada, mantendo seu olhar preso naqueles olhos hipnotizantes. Apesar de saber que deveria desviar, não o fez. Seus olhos continuavam fixos nele. Esse foi o maior erro que cometeu naquele dia.

Akira só desviou o olhar quando um homem aparentando ter trinta anos correu apressado, esbarrando em todos na parada e chamando a atenção. Ele já estava atravessando a rua quando a garota reagiu o mais rápido que poderia, ao ver o ônibus ganhando forma e prestes a colidir com o senhor. Akira se jogou e empurrou o homem e a si a uma distância mais que suficiente para prevenir o acidente.

Wings - Vidas Que Não São SuasOnde histórias criam vida. Descubra agora