O Retorno de Chihiro

Prólogo: Sen e o Espírito do Rio Kohaku

O mundo era cheio de coisas incríveis. Chihiro Ogino sabia disso melhor do que ninguém. Ela havia visto tais coisas; ou melhor, vivido-as. Pode ter sido há sete anos, mas ela jamais seria capaz de esquecer o que aconteceu há todo esse tempo. Ela tinha ido parar num mundo mágico. Era um lugar de mistério, fascínio, e perigo. Era o mundo espiritual. Não o mundo espiritual como na vida após a morte, mas outro universo inteiro, habitado por feiticeiros, demônios, monstros, e é claro, espíritos.

Parecia um sonho, um selvagem mundo de fantasia da imaginação de uma criança, mas era real. Chihiro estava certa disso. Ela tinha a prova com ela, mesmo agora. Embora ninguém pensaria que um simples elástico de cabelo fosse prova do mundo espiritual. Mas era real para ela, e era tudo o que importava. Ela lembrava do dia em que recebeu o elástico. Ela lembrava de tudo sobre aquele mundo, e sentia falta do lugar. Mas o mais importante, ela sentia falta dele.

Quem ele era, ninguém acreditaria se ela contasse. Ele foi quem a salvou há sete anos. Foi quem ajudou a salvar seus pais e os levar de volta para casa. Ele era protagonista dos seus sonhos quase todas as noites. Ele era Nigihayami Kohaku Nushi(do japonês: espírito do rio Kohaku), também conhecido como Haku, e como o nome já diz - era o espírito do Rio Kohaku.

Foi há sete anos que eles se viram da última vez. Sete longos anos de solidão, e nem mesmo o menor sinal do espírito-rio. Ele havia prometido que os dois se veriam novamente. Ele havia prometido! Mas onde estava ele? E onde estava o mundo que ela passou a amar mais que o seu próprio.

Sua primeira experiência no mundo espiritual tinha sido tanto aterrorizante quanto empolgante. Ela e os pais estavam no caminho para sua nova casa quando acidentalmente foram parar no lugar que mudaria a vida dela para sempre. Ela lembrava do quão assustada esteve. Qualquer um com dez anos estaria apavorado com o ocorrido. Os pais dela, desinformados de onde estavam se metendo, haviam comido a comida feita para os espíritos. Devoraram-na como porcos. Como punição, a feiticeira no comando da região - Yubaba - os transformou em porcos. Chihiro foi deixada sozinha naquele lugar, perdida, confusa, e tremendamente assustada.

Mas aí ele veio até ela. Ele a confortou e a ajudou durante este tempo difícil. Seguindo as instruções dele, Chihiro tinha ido à Casa de Banhos de propriedade da bruxa Yubaba e recebido um emprego. A velha feiticeira roubou seu nome, mudando-o para Sen(por ter o kanji em comum com a sílaba Chi). Colocou-a para trabalhar com os outros espíritos na Casa de Banhos. Com a ajuda de Haku, junto com outros dois espíritos - Lin e Kamaji - Chihiro conseguiu se tornar útil o suficiente ao ponto de ser considerada boa trabalhadora para ficar no local.

Isso até ela sem querer ter deixado um monstro chamado Sem Rosto - que causou um enorme dano à Casa de Banhos - entrar. Yubaba não estava feliz com o comportamento do 'convidado'. E se as coisas já não fossem ruins o suficiente, a velha bruxa ainda tinha enviado Haku com a missão de roubar o selo mágico da sua irmã gêmea. Mas a irmã, Zeniba, tinha um poderoso feitiço de proteção no selo prevenindo-o de ser roubado. Enquanto Haku morria lentamente, Sem Rosto continuava a causar estragos no ambiente. E só para piorar, o filho de Yubaba - um bebê de três metros - tentava forçar Chihiro a brincar com ele, o que resultou nele transformado em ratinho por Zeniba.

No entanto as coisas começaram a prosperar depois disso. Após recuperar o selo de Haku, Chihiro conseguiu atrair Sem Rosto e o retirar da Casa de Banhos. Novamente do lado de fora, o monstro se tornou bem pacífico e amigável.

Chihiro, Sem Rosto e o filho de Yubaba - ainda na forma de camundongo, pegaram então o trem para a casa de Zeniba para retornar o selo de ouro e se desculpar por Haku. Acontece que, Zeniba era muito legal. Ela tinha dado boas vindas à Chihiro e a presenteado com o prendedor de cabelo que ela usava agora.