Capítulo 2: Umas Cinco Amoras e O Contrato com Yubaba

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Quase chegando lá lembrou que não tinha almoçado e que ia sentir fome no outro mundo. Então se aproximou de uma árvore e deixou a bicileta e a mochila ali escondidas. Pegou quinhentos ienes(equivalem à dezesseis reais) da carteira e guardou no bolso indo em direção ao restaurante mais próximo. Ao entrar pediu um ramen com camarão para viagem e um ice tea. Depois de pagar apressadamente foi num ritmo ainda mais veloz para a árvore em que havia 'estacionado' carregando a marmita.

Comeu um pouco e guardou o resto para depois colocando a mochila nas costas e o almoço na cesta da bicileta.

Olhou o relógio de pulso, era quase uma hora da tarde. Mais ou menos o mesmo horário de quando estaria chegando lá da primeira vez. Ela virou à esquerda pegando o atalho para o portal. Quantas vezes ela já foi por esse caminho? Inúmeras, ela não fazia ideia, mas conhecia o caminho para lá e a floresta em geral como a palma da mão.

Chegando na calçada onde estava o portal - escondida dentro da floresta por fusões de árvores - ela avistou a pequena estátua na frente da entrada.

"Bom... lá vou eu de novo." Disse suspirando com um pessimismo inevitável.

Ela já tinha feito isso diversas vezes e sempre se decepcionava. Não teria nenhum mundo espiritual além desse túnel vermelho; só um pequeno campo cercado por um muro gigante(que não existia há sete anos) sem nenhuma passagem. Sempre era a mesma história. Porém, dessa vez Chihiro não viu nenhum muro depois do fim do túnel.

O campo estava maior - com a grama mais verde pela luz do sol que a tocava, e dava para ver o céu mais azul que o de seu mundo. De longe estavam as vilas dos espíritos, as mesmas casinhas e o restaurante perto da ponte estava cheio de clientes.

Sete anos tentando. Sete anos de decepções. Chihiro se acostumara com decepções. Tanto que não esperava mais encontrar o que procurava no fim desse túnel. Logo, foi uma grande surpresa ver o resto da paisagem além da grama - do mesmo jeito que na memória, ao invés do enorme muro(que parecia infinito) de sempre.

Chihiro já tentara quebrar partes do muro para passar e até cavar embaixo dele, mas parecia que o muro também era subterrâneo. Como uma barreira enfeitiçada que impedia humanos de entrar ou espíritos de saírem. Mas quem fizera tal barreira e por que exatamente? 'Será que sempre esteve fechado até agora ou existem dias específicos para a abertura do portal?' Eram tantas perguntas...

Ela não estava acreditando que finalmente tinha conseguido. O portal realmente abriu para ela. Agora nada podia a separar de Haku. Agora poderia ver todos novamente e deixar tudo para trás.

A ficha não caía. Ela queria tanto isso. Mal soube reagir. Não conseguia acreditar.

Chegando na rua dos estabelecimentos próxima a ponte vermelha, as coisas começaram a se encaixar. "Eu voltei..." sussurrou sorrindo de orelha à orelha até que começa a pular e gritar de alegria. "EU ESTOU DE VOLTAAA!!! UUUHUUU!" Berra enquanto corre em direção à escadaria.

Quando percebe a atenção que chamou dos espíritos dentro dos estabelecimentos, ela diminui a velocidade e contém seu entusiasmo.

Depois de se aproximar da borda de um rio familiar - agora bem mais raso que da última vez pelo horário - ela percebe que precisa comer algo do mundo espiritual, senão irá desaparecer em algumas horas. O restante de seu almoço não lhe seria útil agora, e além do mais já havia esfriado.

Ainda um pouco sem fôlego - de correr e subir a longa escadaria - respirou fundo. Sentiu um pouco de sede e bebeu seu ice tea, que agora era só tea. De repente sentiu uma luz piscar no seu rosto. Estava vindo de uma das barcas que traziam espíritos.

O Retorno de ChihiroOnde histórias criam vida. Descubra agora