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Richie sumiu pelo resto das férias. O inverno queimava pelas ruas de Derry tragando uma enorme tempestade de neve. Eddie estava sentado em sua cama enquanto bebia um chocolate quente que sua mãe lhe trouxera para aquecer os pulmões.

Ele estava devastado, confuso e completamente amargurado. Aqueles três adjetivos o caracterizam muito bem para o estado que Richie havia o deixado quando resolveu sair pela janela de sua casa e nunca mais aparecer pelos bairros de Derry. Bill não fazia ideia de onde ele estava assim como Stanley e Mike, todos estavam preocupados mais nenhum com vontade de procurar sobre, afinal, Richie era Richie e só Deus sabia o que estava passando pela cabeça daquele menino.

Porém devido a todas as circunstâncias que se encontrava, Eddie estava mal. Ele se sentia rejeitado e insuficiente. Beverly já havia brigado e ordenado ao menino parar com tanta ladainha em sua cabeça, porque ele era sim o suficiente e muita areia para o caminhãozinho da maioria da população. É claro que Eddie riu e concordou com a ruiva no momento, mas nada o faria acreditar naquilo que pairava sobre sua mente.

Ele queria saber o porquê dos diversos "nãos" e impossibilidades que impediam os dois garotos de ficaram juntos. Por diversas vezes no calar da noite ele pensava se era a homofobia ou a rejeição que estivesse bloqueando o caminho dele de ter qualquer tipo de relacionamento amoroso, já que Tozier demonstrava desde o primeiro dia em que eles se conheceram que gostava do menino. Pelo menos se sentia atraído. Mas alguma coisa existia, e Eddie sabia disso.

Perguntas não respondidas era a pior das situações para ele, era como um dilema, um livro sem final. Não podia acontecer, era um afronto se acontecia.

Mas Richie era o maior afronto de sua vida, e isso não era mentira.

Mas foi numa segunda feira, em um dia nebuloso e frio, que Eddie se levantou de sua cama para a volta às aulas. Não era o dia mais animador do ano, entretanto o Kaspbrak não se importava muito em aprender, já que era algo frequente em seu cotidiano. Ele gostava de ter aulas e adquirir conhecimentos das maiores coisas possíveis. Era um prazer, de certa forma. Um prazer exclusivamente dele.

Mas aquele dia tinha sido diferente. Ele não estava com a mesma empolgação e ânsia para aprender. Na verdade o desânimo estava bem aparente em sua cara cansada e triste, consequências de noites mal dormidas que tomavam tempo de sua mente.

Ele então foi o primeiro a chegar na escola, não o primeiro aluno, mas o primeiro de seu grupo de amigos. A ansiedade por sair de casa não se conteve, a esperança estava em primeiro plano.

Eddie tinha esperanças que Richie aparecesse na escola, chegasse com aqueles óculos ridículos na cara e contasse uma piada sem graça, de preferência dizendo que tudo que ele disse a uma semana atrás era mentira, e que ele estava ali para o que der e vier.

Mas a cada minuto que passava a esperança ia embora, e o cansaço e o tédio adentravam no corpo do Kaspbrak, a impaciência reinando sobre seus ombros nada relaxados.

Bill foi o primeiro a chegar. O gago estava com uma aparência péssima igual a do asmático a frente, que esperava a vinda de Bill em sua direção ansiosamente. Porém o Denbrough tinha uma feição mais despreocupada, as olheiras frutos apenas da hora matinal repentina.

– Como foi o resto das férias, Eddie? - Bill perguntou ao amigo assim que chegou ao seu encontro, colocando sua mochila no chão e se encostando na batente ao lado da porta.

– Normais, e as suas? - Eddie respondeu sem algum ânimo na voz, o resto do grupo não sabia o que rolava entre ele e Richie, talvez Bev e Stanley desconfiassem, mas nada certo.

– Viajei com os meus pais. - o outro disse animado - foi incrível, fomos em um zoológico, George adorou.

Eddie não queria ser um empata foda ou um amigo insuportável, portanto ele colocou o maior sorriso que conseguia formar com sua boca e direcionou para o amigo ao lado, que continuava a contar a história animadamente.

Logo os outros viam chegando, com as mesmas caras de cansados e o mesmo desanimo pelas aulas. Eddie cumprimentou a todos os seus amigos e se perdeu em algumas conversas que viam à tona, esquecendo completamente da sua aflição para estar naquele ambiente escolar.

Mas ele logo se lembrou quando a tal aflição, com nome e sobrenome, chegou na escola.

Eddie não conseguia descrever em palavras o quanto chocado estava. Seus olhos não conseguiam se desgrudar da entrada da escola e tudo parecia um sonho muito distante. Bev, que estava ao seu lado, comentou algo como "é mesmo ele?", enquanto observava como todos da escola Henry e sua gangue chegar por aqueles corredores.

O que ninguém esperava era que o palhaço e sem graça Richie Tozier estaria junto ao eles, vestindo a jaqueta com as inicias do Bowers em sua parte de trás e andando junto aqueles citados. Eddie não acreditou que todo seu nervosismo e dúvidas eram por conta daquilo. Aquilo que tinha tirado seus sonos à noite e rendido belas lágrimas algumas vezes.

– Richie entrou na gangue do Bowers? Mas ele odeia... - Bill começou a dizer mais foi interrompido por Stan, que apenas fez um sinal para o mesmo ficar quieto.

Eddie suspirou e sentiu uma vontade súbita de vomitar. Aquela cena havia o deixado enjoado e sua barriga embrulhava a cada vez mais. Beverly catou seu melhor amigo pela mão e o tirou dali, levando até o banheiro mais próximo e insistindo para que o mesmo lavasse pelo menos o rosto. Por mais que Beverly não soubesse de toda a história que havia ocorrido ela sentia que Eddie não estava bem. Sem nenhum argumento para debater com a ruiva o asmático entrou no banheiro enquanto a outra iria lhe buscar um copo de água. Tudo estava acontecendo tão rápido e de forma tão inesperada que a realidade era praticamente cômica. Se um dia chegassem a Eddie e dissessem que ele estaria dessa forma por conta de um garoto, e esse garoto era o Tozier, ele riria na cara da pessoa e lhe caracterizaria como insana. E tecnicamente ela seria, se o destino não fosse tão canalha e persuasivo.

Eddie estava na sua segunda concha de água quando o rangido da porta foi escoado pelo local, e o barulho das solas de sapatos deram vida naquele ambiente silencioso.

Eddie secou seu rosto e se olhou no espelho mais uma vez. O menino teve um choque percorrendo em seu corpo assim que viu o sombreamento de uma pessoa a sua atrás. O susto lhe pegou de surpresa, mas nada pior quando ele reconheceu a cara da pessoa. Um suspiro foi deixado de seu corpo e ele se sentiu na obrigação de confrontar o menino junto à ele.

– Bowers? Sério? - ele julgou, olhando para o outro que exalava a culpa e arrependimento pelo olhar.

– Eu não tive escolhas. - foi o seu argumento, antes dele calar a boca novamente e segui em direção a pia, onde começou a lavar suas mãos

– Você é inacreditável. - disse Eddie pegando um papel toalha e secando suas mãos - e pensar que você era diferente.

– Não devia ter criado expectativas sobre mim. - foi a única coisa que ele disse. Eddie sentiu uma raiva rasgar sobre seu corpo.

– Realmente eu não devia, você é sujo igual todos daqui. - ele proferiu suas palavras com raiva, pegando toda dor que sentiu naqueles dias - e pensar que eu gostava de você.

Eddie então jogou o papel fora no lixo, deixando Richie e seu silêncio para trás. Ele tinha raiva e angústia misturadas que nem sentiu quando passou por Beverly feito um furacão.

Seu dia tinha acabado de ficar pior.

lunchtime||ReddieOnde histórias criam vida. Descubra agora