Capitulo 9 - A Fazendinha

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_ "Fazendinha"? Eu imaginei um sítio.
_ Um mini sítio. Quando comprei a dona plantava orgânicos e criava galinhas.
_ Um sítio em potencial. Posso ver a casa?
_ Kitinete. Dois quartos, sala e cozinha pequenos, um banheiro que acho que você não vai caber.
_ Esta varanda e a mangueira é tudo que preciso.
_ A varanda fui eu que bolei.
_ Minha parte preferida. Será perfeita. Minha base.
_ Você pretende conquistar o mundo daqui?
_ Elementar minha cara Mia. Tem internet?
_ Melhor colocar via Satélite.
_ Quanto você quer?
_ Mil.
_ Dólares?
_ Reais. Estamos no Brasil.
_ Planeta Terra? Quero comprar
_ O planeta? Não está a venda.
_ A Fazendinha. Tenho planos e ela é perfeita. Posso me mudar hoje mesmo?
_ Contrato com a imobiliária.
_ Mas eu quero comprar. Diz o preço!

_ "Aqui não se vende, só se compra".

_ Como é?
_ Não está a venda Cérebro.
_ Droga. Mas preciso conquistar o mundo!
_ Topo alugar.
_ Fechado.
_ Sabia que era o Carburador sujo mesmo?
_ Elementar meu caro Cérebro!
_ Você é boa.
_ Tive um tio que era mecânico e me servia de babá. Aprendi com ele a identificar problemas pelo som do motor. Brincava de limpar peças de motos e carros. Morávamos no interior.
_ E como se entregou à vida de executiva?
_ Sobrevivência, queria estudar. Meu pai era pobre. Fiz um concurso e passei.
_ Mulheres inteligentes não são bem vistas em nossa sociedade.
_ Nunca fui uma pessoa "social".
_ Nem eu, nem Heitor. Precisei aprender a duras penas.

Sentados no banco tosco da varanda parecia que o mundo ficava atrás do portão fechado.

_ O que vc pensa em fazer aqui?
E seus negócios em N.Y.?
_ Os negócios funcionam sozinhos. Posso controlar via internet. Penso em criar um centro de mecânica de motos e carros para ensinar meninos e meninas carentes.
_ Bacana. Téo também sonhava algo parecido. Até tentou lá no clube. Só conseguiu um interessado.
_ Ele me contou. Faltou investimento e Heitor foi embora. E você? Parou de sonhar?
_ Houve um tempo que quis algo parecido, ensinar arte, Música, dança e escrita criativa para adolescentes. Aí meu marido adoeceu e eu precisei cuidar dele e dos negócios.
_ Podemos tentar novamente. Juntos. Chamamos o Téo e eu financio.
_ Me falta energia. Acho que prefiro produzir histórias.
_ Não precisa desistir de suas histórias. Terá a oportunidade de conta-las.
_ E as cinzas de Heitor?
_ Estão aqui comigo. Ontem eu e Teo fizemos uma despedida dele lá no clube. Posso colocar um pouco aqui no canteiro?
_ Não vai trazer seu irmão de volta.
_ Não, mas vai me fazer sentir ele perto.
_ Precisamos espalhar no Lugar Secreto, como ele queria.
_ Que tal irmos agora?
_ Muito sol. Prefiro amanhã cedo.
_ Então vou providenciar o contrato e trazer minhas coisas pra cá. Cinco horas amanhã?
_ Precisava voltar ao Rio hoje, mas nada urgente. Volto amanhã.
_ Vamos então? Vou deixar a casa aberta para arejar um pouco.

Depois que a moto saiu com Arthur eu fechei o portão e uma tristeza profunda tomou conta do meu ser. Já não sabia como recomeçar. Minhas forças estavam esgotadas. Sentei na rede da varanda e deixei o buraco negro tomar conta de mim.

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